As três gatinhas que boiavam em cima de um colchão em meio ao cenário de destruição causado pelas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul não saíram dos pensamentos da Daiane. Muito ariscas, com medo e cheias de fome, elas foram alimentadas ali mesmo naquele colchão no momento em que o grupo de resgate encontrou as bichanas.
A moça é a cabeleireira Daiane Mendonça Rodrigues, 35 anos, que faz parte da equipe Gattedo de resgates dos animais, mais especificamente os gatos, vítimas das enchentes no estado.
“No momento em que vimos as gatinhas, a água estava muito alta e não conseguimos entrar porque o acesso da casa era muito difícil. No outro dia, quando voltamos, as águas já estavam mais baixas e foi mais fácil alimentar as gatinhas”, disse.
O problema era que o grupo ainda não contava com os equipamentos corretos para resgatá-las, já que elas estavam ariscas e há muitos dias sem comer. “Fiquei sonhando com aqueles bichos boiando em cima do colchão e não dormi a noite toda”, contou Daiane.
No dia seguinte, então, ir até a casa das três gatinhas era prioridade do grupo. Mesmo com o equipamento correto e programados para o resgate, a missão não foi fácil. “Arrebentamos o portão, mas ainda não dava pé, a água estava bem funda. Mas consegui pegar duas com a mão porque elas vieram com fome, mas uma terceira, tivemos de entrar na água para pegar, essa deu mais trabalho. Ficamos mais de uma hora para tentar pegar todas, mas no final foi muito emocionante, não teve preço”.
Com a própria casa lotada com animais resgatados, Daiane não teve como ficar com as gatinhas, que vivem agora em um abrigo para animais resgatados e recebem com frequência a visita da moça que as resgatou, apesar de os deslocamentos pela cidade ainda estarem complicados por conta dos rescaldos da tragédia.
Os abrigos, aliás, que têm recebido os animais resgatados, são um capítulo à parte dessa história que vai começar agora, enquanto as águas recuam e as pessoas tentam voltar à vida normal.
“Já ouvi histórias de três abrigos diferentes em que as pessoas cederam o espaço, receberam os resgatados e agora pretendem fechar os abrigos porque querem seus locais de volta. E para onde vão os gatos e, claro, os cães também?”. O questionamento é da Andressa Cappellari, proprietária da Gattedo Store, loja especializada em bem-estar felino através da gatificação e que encabeça as equipes de resgates de gatinhos.
Foi por conta dessa inquietação e também por ouvir histórias de novo abandono de animais, e até eutanásia - que esperamos serem apenas boatos - , que ela decidiu, após muitas dúvidas e medos, abrir uma ONG para receber os felinos que não voltaram para seus lares nem foram procurados por seus antigos tutores.
“Quase morri, arrisquei me afogar porque nem sei nadar, cair de telhado, de pegar doença e pra quê? Para depois as pessoas jogarem esses animais na rua? Comecei a entrar em desespero diante de alguns cenários do futuro desse monte de animais que não têm para onde ir e, mesmo com alguns medos e riscos, entendi como uma oportunidade de ajudá-los e realizar um sonho de infância, que é ter uma ONG para gatos”, contou Andressa.
O local ainda não existe, mas já tem nome: Casa Gattedo. A empresária quer levar a ONG e os gatinhos para Florianópolis, para onde já pretendia se mudar antes das enchentes no Rio Grande do Sul. Agora, além de ainda ajudar os animais resgatados, está na fase de buscar apoiadores para o projeto. Para quem quiser apoiar, participar ou ajudar, pode entrar em contato com ela através da @gattedostore, divulgar os vídeos ou contribuir pelo pix contato@gattedo.com.br.