Era como se o tempo não tivesse passado. Assim que voltou da estadia de 1 ano e meio na Itália, onde morou com a família, o Miyagi logo retomou a rotina brasileira como se jamais tivesse deixado o país. Dono de um assento cativo no Dog Bus, o cãozinho com nome de sensei não precisou de nenhum treinamento do tipo “põe casaco, tira casaco” para se lembrar do quanto amava ir para a creche no ônibus “escãolar”.
O amor do doguinho pelo André, motorista, treinador e dono da Creche Pet, aliás, é incontestável: durante um passeio com a mãe humana, o Miyagi chegou a dar um verdadeiro show com mistura de choro e escândalo ao ver passar o ônibus em um dia que não iria para a creche. “Chega a dar ciúmes do tanto que eles se gostam. Quando viajamos de mudança para a Itália, o André fez questão de despedir-se pessoalmente do Miyagi: foi o adeus mais triste que eu já vi. Chorei junto”, conta a tutora Pamela Costa Ceolin, 35 anos, advogada e empreendedora.
Miyagi vai para a escolinha acompanhado pelo irmão mais novo Cremino, para quem já ensinou o quanto é bom frequentar a creche do André e, principalmente, a experiência do caminho até lá. Não só os irmãos da família Ceolin como também outros doguinhos de Içara, na região de Criciúma, em Santa Catarina, viralizaram através de um vídeo/postagem que mostra a euforia dos doguinhos quando avistam o Dog Bus para o transporte até a creche no dia da “volta às aulas”.
Todo adaptado para transportar os alunos peludos, o ônibus tem cinto de segurança em cada um dos bancos onde os doguinhos viajam presos através de peitorais. Alguns vão em caixinhas de transporte a pedido dos próprios tutores ou por recomendação da creche. Assim como nos transportes escolares humanos, uma ajudante trabalha em parceria com o motorista para garantir o máximo conforto e segurança aos animais. Atualmente, 100% dos alunos da creche utilizam o transporte.
No caso da Pamela e os filhos caninos Miyagi e Cremino, a confiança é tamanha que o André tem a chave da casa da família. “Foi uma confiança construída ao longo dos anos que passamos juntos. Com o tempo, fomos vendo que o trabalho deles é sério, confiamos neles e sabemos que nossos cães são sempre muito bem cuidados”, diz Pamela ao referir-se a André e a esposa Ana Paula, além de toda a equipe da creche.
Em um evento de fim de ano, a creche levou os pais humanos para um piquenique e todos embarcaram no ônibus com seus pets. A disciplina dos cãezinhos que já sabem qual assento ocupar e como se portar encantou ainda mais os tutores.
O que mais surpreende nos vídeos feitos pelo próprio André (que vê crescer exponencialmente o número de seguidores a cada vez que aparece nas redes sociais em seus momentos de trabalho com os cãezinhos) é a inquestionável alegria e amor genuíno dos pets pelo treinador/motorista.
Ele é o empresário André Bressan, 38 anos, químico de formação inicial, que um belo dia decidiu dar uma reviravolta na carreira ao se ver descontente com o trabalho. Foi a mãe do André quem falou a frase que martelou na cabeça do moço por muitos momentos da jornada que transformaria sua labuta no “melhor trabalho do mundo”, como costumam bombardear os comentaristas de plantão nas redes. “Você só vai ser feliz quando trabalhar com cachorros.”
Dito e feito. A felicidade que se espalha pelos vídeos, tutores, funcionários, seguidores, parceiros e atinge em cheio os animais se reflete também nos números: são 40 animaizinhos transportados de uma só vez no ônibus grande, mais 25 ou 30 em um outro menor, fora os 20 que chegam de van; mais de 5 milhões de visualizações em apenas um vídeo no Tik Tok; 24 mil seguidores que se transformaram em 110 mil em apenas uma semana, mas já somam 135 mil no perfil @educadordecaesoficial no Instagram e 232 mil na rede vizinha; uma creche que atende 400 alunos em uma área de 14 mil m2 em uma chácara que também é hotelzinho e a própria casa da família Bressan. Ufa!
As surpresas não param por aí: de tanta fofura e autenticidade, os vídeos ganharam o mundo. André e seu transporte “escãolar” já caíram nas graças da apresentadora Ana Maria Braga e um verdadeiro efeito dominó levou a vocação do rapaz à Tailândia, China, Nova Zelândia e até a um surpreendente contato da agência internacional Reuters. “Não acreditei quando me ligaram.”
Mantendo-se fiel à missão do projeto que criou e aos clientes caninos e humanos tutores, o empresário acha graça do sucesso, sente-se feliz com o alcance do Dog Bus, mas já chegou a recusar parcerias com grandes marcas que o desviariam do que chama do “verdadeiro propósito” de seu trabalho.
“A gente tenta fazer com a maior verdade possível, dedicação, carinho e cuidado. Eles (os cãezinhos) são a minha maior vitrine.” Miyagi, Cremino e todos os “aulunos” agradecem.