Quando o assunto são os blocos de rua do Carnaval de grandes cidades, um tópico em específico costuma ser motivo de preocupação para os foliões: a segurança para curtir a festa. A reportagem do Band.com.br conversou com Fernando Magrin, fundador do Bloco Minhoqueens, que explicou como é dividida a responsabilidade de garantir um final feliz para a folia. Afinal, o que é responsabilidade da prefeitura e o que deve ser obrigação dos organizadores de cada bloco?
Magrin explicou que o sucesso de um bloco é resultado da colaboração dos funcionários públicos com os criadores dos blocos, mas destacou que é a prefeitura quem precisa criar estratégias para lidar com eventuais problemas. “A prefeitura é que tem que se precaver”, afirmou ao explicar quais ações estão sendo tomadas na maior cidade do país.
Neste ano, a prefeitura está tomando algumas medidas e tentado terminar os blocos da região central em um horário mais cedo, quando ainda está de dia, para tornar tudo menos perigoso. Alguns trajetos que estão perto das cracolândias, que se espalharam pela cidade, não estão sendo autorizados, para evitar conflitos na região. Tudo para tentar garantir ao máximo a segurança das pessoas.
Sendo assim, conforme Magrin, é o Estado quem precisa arcar com o policiamento, atendimentos médicos e possíveis ocorrências mais sérias quem possam atrapalhar o Carnaval. É a prefeitura que aprova o itinerário do bloco, horário de desfile e confere toda a parte regulamentaria do bloco em questão.
No entanto, existem algumas responsabilidades que precisam ser custeadas pela organização do bloco, como a estrutura para o desfile (trio elétrico) e toda a segurança dos convidados e artistas que compõem a festa. “O que o bloco pode fazer, é garantir a segurança de quem está dentro da corda da nossa equipe de trabalho e dos nossos artistas”, disse Fernando. “Então, para o artista chegar e sair do trio, por exemplo, é o bloco que precisa ter uma equipe. Geralmente, entre 6 e 8 seguranças acompanham o artista, mesmo que o percurso já tenha terminado, até que ele tenha que ir embora. A gente leva [o artista] em segurança para a van, o bloco é responsável por isso”, explicou.
Apesar dessas especificações de responsabilidades para a segurança do Carnaval de rua, Fernando Magrin destacou que, durante os desfiles, costuma-se existir uma parceria entre bloco e policiais. Ele contou que os organizadores dos blocos carregam consigo um alto poder de comunicação com a multidão, considerando o volume dos microfones dos trios e a possibilidade de interromper a música quando for necessário. “A única pressão que eu posso fazer é essa: dizer ‘não vai ter música se vocês não pararem’”, disse.
De cima do trio elétrico, a gente tem uma visão privilegiada e dá para ver se está acontecendo alguma coisa. Eu tenho o hábito de realmente pedir para o DJ parar o som se estiver tendo alguma confusão, alguma briga, ou alguém subindo em um ponto de ônibus. Eu falo no microfone e peço gentilmente para a pessoa descer do ponto de ônibus ou parar a briga, se não, a gente não volta a música.
O fundador do Bloco Minhoqueens explicou também que, no seu caso, aconselha que toda a equipe de trabalho fique atenta para possíveis problemas na multidão. “A gente tenta fazer o máximo pra que todo mundo possa se divertir. Obviamente, se alguém passar mal, os nossos seguranças estão de olho para recolher essa pessoa. A gente vai com uma ambulância atrás do trio, então, se precisar de algum atendimento médico, nós estamos lá para isso”, explicou.
Ele explicou também que quanto maior é o bloco, maiores são os desafios de segurança e destacou, por exemplo, que a própria prefeitura envia ambulâncias para seguir os blocos mais tranquilos. “Uma das exigências da prefeitura é que os blocos grandes contratem a própria ambulância”, complementou.
Com base na explicação da importância da participação governamental na segurança dos blocos, Fernando destaca que é preciso estar atento com os desfiles escolhidos, além dos pertences pessoas. O bloco precisa estar autorizado pelo governo a fazer seu desfile e constar na programação oficial do carnaval da cidade, divulgada pelas prefeituras.
Como nasce um bloco de Carnaval?
Por conta desse planejamento de segurança e demais questões que impactam a vida da cidade, engana-se quem pensa que a missão de colocar um bloco na rua é simples. A folia demanda muita organização - tanto dos donos dos blocos quanto das prefeituras - e todos os blocos precisar passar pela aprovação do governo.
Fernando Magrin explicou que o primeiro passo para a criação de um bloco de Carnaval é bastante burocrático e consiste no detalhamento de toda a vontade dos organizadores. “A prefeitura tem que saber quantos blocos vão ter na rua, quais ruas serão fechadas e fazer todo o esquema com CET e com a polícia militar. Existe um prazo para se inscrever, ser aprovado o trajeto e algumas reuniões acontecem com os órgãos públicos até que chegue o grande dia de botar o bloco na rua”, disse.
Ele destacou que no primeiro formulário de inscrição de cada bloco de Carnaval, a prefeitura avalia a possibilidade de executar o plano sugerido e, em caso de proibição, oferece alternativas para a organização, que deve decidir se aceita ou não as condições da prefeitura.
Você fala ‘ah, eu quero desfilar na rua x’ e isso vai pra prefeitura, que faz esse trabalho de ver todos os blocos inscritos, todos os trajetos escolhidos e as datas. Às vezes, acontece da própria prefeitura ligar e pedir ‘olha, esta data não dá, poderia ser nessa data x? Ou na data y?’ ou ‘Esse trajeto não é permitido, tem o trajeto tal, pode ser esse?’ e aí você, como organizador, escolhe se sai, ou não, dentro dessa demanda.
Apesar de todas as questões burocráticas, Magrin destaca que o trabalho da organização de um bloco vai muito além da permissão da prefeitura para ocupar as ruas e conta que os gastos com estrutura e contratação de equipe compõem o verdadeiro desafio de fazer a folia acontecer. “A festa é democrática, é popular, é de graça, mas para ter essa festa, precisa dos blocos e os blocos precisam dos seus trios, dos seus seguranças, bombeiros, cordeiros e uma produção toda, que é um negócio gigantesco!”, disse.
Quanto mais o bloco cresce, mais demanda você tem, como a exigência de um trio maior, de um som melhor e um número maior de cordeiros. É perrengue atrás de perrengue, mas no final quando a gente vê aquela multidão na rua, a gente pensa: ‘vale a pena, né? A coisa é maravilhosa’.
Fernando explicou que, para conseguir custear os gastos do grande dia, as organizações dos blocos de Carnaval trabalham o ano inteiro promovendo eventos e construindo maneiras de levantar fundos. “Para botar um bloco na rua, a gente emprega umas 120/150 pessoas, então não é uma bagunça”, finalizou.