A escola de samba Viradouro foi a grande vencedora do Grupo Especial do Rio de Janeiro no Carnaval 2024. A apuração aconteceu na tarde desta Quarta-feira de Cinzas (14), na Cidade do Samba, na capital carioca.
Com o enredo sobre guerreiras, religiosidade africana e o vodum serpente, a agremiação foi a última a desfilar e liderou a apuração de ponta a ponta.
Vodum é uma tradição religiosa ancestral e o símbolo da serpente com arco-íris se refere à continuidade, à riqueza e à sustentação da vida.
A vitória marca o tricampeonato da escola de Niterói no mais importante grupo de escolas de samba do Rio de Janeiro. Antes, a Viradouro também havia vencido em 1997 e 2020; conheça o enredo de cada um desses anos.
Pedido de punição
A Viradouro é alvo de pedido de punição pela Grande Rio, Mocidade Independente, Beija-Flor e Imperatriz por ter trazido mais de 15 pessoas na comissão de frente, número máximo permitido.
Na ala, algumas pessoas foram usadas como elemento de cena, coberta por palhas e permanecendo completamente imóveis.
"Mimetismo em comissão de frente não é de hoje e nem foi a gente que inventou", disse a coreógrafa da ala da Viradouro, Priscilla Mota, em entrevista para BandNews FM Rio.
A Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) analisa o caso e a decisão será divulgada amanhã (15). A possível punição não vai interferir no título porque, caso se concretize, será deduzido 0,5 ponto da agremiação. A diferença para a vice-campeã, Imperatriz, é de 0,7 ponto.
"Eu gosto de brigar é na pista, mas se o recurso foi acatado, nós vamos aceitar", completou Mota após o anúncio de vitória da escola.
2024 - Arroboboi, Dangbé
A Viradouro saudou a ancestralidade africana ao falar do vodum serpente, figura da cobra acompanhada arco-íris, que representa riqueza e continuidade.
Neste ano, o carnavalesco Tarcísio Zanon também foi responsável por desenvolver o tema. No ano passado, Zanon trabalhou a escritora Rosa Maria Egipcíaca, que rendeu o segundo lugar para a escola no Carnaval 2023.
A força de Dangbé, como é chamada a serpente, deu também força para as guerreiras Mino, do reino de Daomé, na costa ocidental da África. Iniciadas pelas sacertodisas voduns, essas lutadoras apareceram no desfile.
No Brasil, o culto se estabeleceu nos terreiros de Ludovina Pessoa, sacerdotisa daomeana que se instalou na Bahia. Ludovina também se torna liderança nas irmandades católicas e na formação do que hoje é o candomblé Jeje.
2020 - Viradouro de Alma Lavada
O enredo responsável pelo segundo título da Viradouro veio 23 anos após a primeira conquista. E a corrida foi apertada: a escola de Niterói empatou em pontuação com a vice, Acadêmicos do Garande Rio, superando por melhor desempenho no critério de desempate.
Foi também o primeiro ano do Tarcísio Zanon, atual carnavalesco, na escola. Na época, ele assinou o desfile com seu marido, Marcus Fereira.
O enredo contou a história do grupo As Ganhadeiras de Itapuã, lavadeiras de roupas da Lagoa do Abaeté, em Itapuã, na Bahia.
Essas mulheres vendiam frutas, milho, condimentos, peixes e caranguejos e, quando conseguiam juntar dinheiro, compravam a alforria dos escravos da região.
A Viradouro retratou as lavadeiras como as primeiras feministas do Brasil, pela luta para liberdade e importância para a cultura baiana.
1997 - Trevas! Luz! A explosão do universo
Depois de 51 anos de existência, a agremiação de Niterói ganhou seu primeiro título, sob o comando do lendário carnavalesco Joãosinho Trinta, a quem é atribuída uma mudança na estética do Carnaval do Rio nos anos 80.
O enredo trazia para a avenida os primeiros instantes da criação do mundo e a teoria do Big Bang, explicação mais aceita para a origem do universo, que teria surgido de uma grande explosão.
Os elementos brancos e escuros da escola eram associados a ideia de matéria e antimatéria, que existia antes do universo nascer. Então, tudo surgia em explosão de alegria.
A letra do samba também trazia menção a divindades de matriz africana, como Oxum, Nanã e Iemanjá.