Entre as muitas revelações chocantes que Britney Spears faz em seu livro de memórias “A Mulher em Mim”, lançada na última terça-feira (24), estão os detalhes que ela dá sobre a curatela na qual foi colocada – processo nos EUA no qual uma pessoa e seu patrimônio são colocados sobre o poder de um tutor.
Na obra, a cantora detalha que o controle do pai, Jamie Spears, sobre sua pessoa era tal, que ele era capaz de ditar o que ela poderia comer ou não, a impedindo de comprar qualquer alimento que ele achasse inapropriado. Ela descreve que por dois anos não pôde comer nada que não fosse frango e vegetais enlatados.
“Não importavam as dietas ou os exercícios que eu fazia, meu pai sempre me dizia que eu estava gorda. Ele me colocou em uma dieta restritiva. A ironia era que nós tínhamos um mordomo — uma extravagância — e eu implorava a ele por comida de verdade. ‘Senhor’, eu implorava, 'por gentileza, vê um hambúrguer ou um sorvete escondido para mim?'. ‘Senhorita, sinto muito’, ele respondia. 'Tenho ordens específicas de seu pai'”, conta ela.
Por dois anos, comi apenas frango e vegetais enlatados. Dois anos é tempo demais para você ficar sem comer o que deseja, especialmente quando seu corpo, seu trabalho e sua alma estão correndo atrás do dinheiro e sustenta a todos. Dois anos pedindo batatas fritas e tendo não como resposta. Eu achei isso tão degradante. Uma dieta restritiva imposta por você mesma já é por si muito ruim. Mas quando alguém te impede de comer uma comida que você deseja, tudo fica pior. Era como se meu corpo não fosse mais meu. Ia para a academia e ficava tão distraída com esse treinador me dizendo para fazer exercícios, eu me sentia fria por dentro. Sentia medo. Para ser honesta, me sentia extremamente infeliz.
Em seu relato, Britney destaca que o pai dominou todos os aspectos de sua vida assim que foi nomeado tutor dela no processo de curatela. Com, a artista sentiu sua própria identidade ser colocada em cheque.
“Na minha casa, meu pai se apossou do cantinho onde eu estudava e do meu bar, transformando-o em seu escritório. Havia uma tigela ali onde eu guardava várias notas fiscais. Sim, confesso: era tão certinha que guardava todos as notas em uma tigela. Conheci músicos que usavam heroína, arrumavam briga e jogavam TVs pela janela de hotéis. Além de eu nunca ter roubado nada nem nunca ter machucado ninguém ou usado drogas pesadas — eu ainda guardava as notas fiscais para ter controle das deduções dos meus impostos. Não mais. Meu pai jogou de lado minha tigela de notas e colocou as coisas dele no bar. ‘Eu só quero que você saiba’, ele disse, “que eu dito as regras. Você senta aí nessa cadeira e eu vou falar pra você o que vai acontecer.” Eu olhei para ele com um sentimento crescente de horror. ‘Eu sou a Britney Spears agora’, ele declarou", relembra a cantora.
Com o passar do tempo, a cantora diz que ficou cada vez mais sem esperança em relação à sua situação e que chegou a acreditar que os pais desejavam de fato matá-la para se apoderar de vez de tudo que era dela.
“E eis a triste, mas real verdade: depois de tudo que passei, eu não tinha mais vontade de lutar. Eu estava cansada e com muito medo também. Após ser amarrada em uma maca, sabia que eles poderiam me prender quando quisessem. Eles poderiam tentar me matar, pensei. Comecei a imaginar se queriam fazer isso. Quando meu pai disse “Eu que mando aqui”, pensei: Isso é demais para mim. Mas eu não via saída”, lembra.