Fita de Cinema Seguinte de Borat, ou, para os íntimos, Borat 2, não tem o mesmo impacto do primeiro falso documentário, lançado há 14 anos. No mundo de 2020, as referências explicitamente negacionistas, racistas e misóginas não parecem ficção.
Lançamento na plataforma Amazon Prime Video, o retorno do jornalista cazaque foi motivado pela necessidade de denunciar a ameaça à democracia, como disse seu intérprete e criador, Sacha Baron Cohen, em entrevista recente ao The New York Times. Não à toa, a estreia foi às portas da eleição americana.
As filmagens começaram pouco antes de a quarentena do novo coronavírus ter sido declarada dos Estados Unidos. Durante invasão da equipe de filmagens a um congresso conservador, o país contava apenas 15 casos, como afirmou em discurso na ocasião o vice-presidente Mike Pence.
O segundo no comando do governo Trump é o primeiro alvo de Borat, que caiu em desgraça no Cazaquistão após sua primeira incursão ianque e precisa se redimir. Decide entregar sua filha adolescente, Tutar (a atriz búlgara Maria Bakalova) como “oferenda” a algum republicano.
Como no primeiro filme, as mulheres têm zero valor no universo de Borat. A menina vive em uma jaula, passa por consulta com cirurgião plástico e pega dicas com a “sugar baby” Macy Chanel para conquistar um homem mais velho e endinheirado. Esse arco também surge como chance de redenção ao personagem.
Para navegar incógnito por entre esses personagens reais após o êxito da comédia de 2006, Cohen teve de abandonar o terno cinza e usar enchimento, perucas e próteses no nariz em algumas cenas.
Disfarçado de Trump, a aproximação a Pence falha e ele resolve levar a filha a Rudy Giuliani, advogado do presidente americano.
Essa é a cena mais comprometedora. Sob pretexto de uma entrevista, a atriz marca com o político em um hotel. Em determinado momento, ela o chama para um drink no quarto e Rudy é visto deitado na cama, mexendo na calça. Sua justificativa para isso foi ter se atrapalhado para tirar o microfone que a equipe havia prendido em sua roupa.
Como diz o ditado, o processo vem. E não só por parte dos poderosos. A família de Judith Dim Evans, sobrevivente do Holocausto que aparece em uma cena encantadora com Cohen, entrou na Justiça contra os produtores. A mulher morreu em junho, aos 87 anos.