“O mundo é dos fazedores”. O bordão é da influenciadora Bettina Rudolph, que se tornou referência em marketing digital após ficar famosa de uma hora para outra. A grande maioria do público a associa quase que imediatamente a uma propaganda na internet de 2019, que a fez ficar conhecida de norte a sul do país. Bettina viralizou, teve a vida sacudida e se reergueu após erros que ela mesma reconhece que cometeu.
Depois de três anos, o que aconteceu com a jovem de cabelos claros que no comercial falava da facilidade com que conquistou o primeiro milhão? Ao fim do ano passado, Bettina deixou de ser contratada com carteira assinada pela Empiricus, a plataforma de investimentos responsável pela propaganda do meme.
Aos 25 anos, ela usa o alcance nas redes sociais – são mais de 500 mil seguidores apenas no Instagram – para ensinar estratégias de marketing digital. Nos últimos anos, ofereceu um curso sobre finanças e até hoje vê os reflexos do meme que protagonizou.
“Uma coisa me deixava muito em paz [ao virar meme] é que a verdade é filha do tempo. Quem me xingou no Twitter, depois nem lembrava mais que eu existo. E teve quem abriu os olhos quando me viu falando de investimento. Muita gente me fala, ‘Bettina, obrigado por aquele meme por que ele mudou a minha vida. Comecei a investir naquela época”, afirma.
Bettina descreve o episódio do meme como “a experiência mais louca” que já viveu. Apesar da influência positiva que acredita ter transmitido, não minimiza os erros que cometeu. Para ela, a principal falha foi de comunicação – mas não há arrependimento sobre o conteúdo da mensagem.
Relembre o vídeo que virou meme
“O maior erro foram as palavras usadas. Toda história é verdadeira, mas hoje eu não falaria que foi simples, né? Não é simples! Porque eu falava: ‘comecei com R$ 1.520 e hoje tenho mais de 1 milhão. Simples assim’. Não foi simples, e foi uma história fora da curva. O vídeo na verdade poderia ter deixado mais claro que houve aportes no meio do caminho, obviamente!”, esclarece.
A intenção de Bettina era mostrar que é possível começar a investir mesmo com pouco dinheiro, até mesmo com a compra de ações. Do limão, ela soube como canalizar tanta atenção para se reinventar profissionalmente e assim fazer uma deliciosa limonada.
“A minha vida mudou da água pro vinho porque esse acontecimento me deu a oportunidade de ter o alcance que tenho hoje. Tenho um holofote para falar as coisas que acredito. Pude diversificar minhas fontes de renda, virei influenciadora, ganho dinheiro com Instagram e com outras marcas. Posso lançar meus próprios produtos”, exemplifica.
Além de tudo isso, Bettina ainda afirma que cresceu muito com o que passou. “Quando um país inteiro está falando de você, é preciso criar forças do nada e uma inteligência emocional que te faz amadurecer muito rápido”, analisa. Depois da primeira mensagem que viralizou, um vídeo de retratação foi publicado à época.
Perseguição e “novo nome”
Logo após virar meme, o que mais preocupou Bettina, que até então levava uma vida no anonimato, foi a perseguição sofrida por pessoas próximas e veiculação de fake news.
“O que mais me incomodou não foi a exposição da minha vida, mas das pessoas ao meu redor. Assumi a responsabilidade do que falei, mas reviraram a história do meu pai porque naquele momento em que você está no alvo do Brasil inteiro, começam a investigar a sua vida, né? E distorceram um monte de coisas. Falaram que o meu pai era o cara mais rico de Santa Catarina. Ninguém sabe a realidade. Falaram muito do meu namorado. São essas injustiças das redes sociais e a maldade do cancelamento”, se recorda.
Outra fake news que ela desmente foi sobre uma multa milionária que teria sido aplicada à Empiricus pela propaganda do meme. “Assinamos um termo com o Conar [Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária] que teríamos que mudar o tom das nossas propagandas de marketing. Mas essa história de multa de R$ 1 milhão, R$ 2 milhões… isso nunca existiu”.
A influenciadora digital nunca sofreu perseguição na vida real, mas teve medo. Para evitar problemas, achou melhor mudar o nome no app do Uber, a empresa de serviço de transporte particular.
“Quando eu falo que meu nome é Bettina, muita gente lembra. Inclusive o meu nome no Uber é Bruna, para não correr o risco. Era perigoso, né? Ficou Bruna e nunca mais mudei”, afirma.
A missão de Bettina: “Atingi a minha liberdade”
Bettina nasceu em Alphaville, bairro nobre de São Paulo, em uma família com boas condições financeiras. Até que o pai foi demitido da empresa em que trabalhava. O padrão de vida mudou. O pai conseguiu outro emprego em Santa Catarina e a família se mudou para o sul. É nesse contexto, de dificuldade financeira, que a influenciadora buscou conhecimento para aprender a lidar com o dinheiro.
Enquanto ainda fazia o curso de administração, ela realizou o sonho de trabalhar na Empiricus como copywriter. Em apenas dois anos, após ser promovida algumas vezes, Bettina virou sócia da empresa, que hoje ela já não faz mais parte com vínculo fixo empregatício.
Questionada sobre qual a meta financeira aos 25 anos, ela diz: “Eu já atingi a minha liberdade, não sou mais movida a alcançar tanto. Quero fazer coisas que me ajudem a cumprir meu propósito”.
“Como sofri muito na época do cancelamento, hoje estou blindada. Não tenho problema de falar o que eu acredito por medo de como vão encarar. Falo de finanças, de investimento, empreendedorismo, mas também do lado emocional. Eu mesma trabalhei igual uma louca, deixei de lado o meu psíquico, criei ansiedade e fiquei dois anos tomando antidepressivos. Mudei da água para o vinho”, diz.
Para ela, até mesmo a relação com o dinheiro é outra. E é isso, também, que ela quer transmitir a quem a acompanha.
“Faço questão que as pessoas tenham inteligência financeira, mas que enxerguem o dinheiro como ele é: um meio para alcançar certas coisas. O dinheiro compra uma cama, mas não compra o sono. Ele compra uma flor, mas não compra o amor”, ensina.