Beth Goulart fez, nas palavras dela, um longo mergulho dentro de si mesma após a morte da mãe, a atriz Nicette Bruno, vítima da Covid-19 em 2020. A atriz escreveu um livro, 'Viver é Uma Arte: Transformando a Dor em Palavras', que a ajudou neste processo difícil. Em entrevista a Danilo Gobatto durante o programa Antenados, da Rádio Bandeirantes, ela contou que o projeto originalmente seria escrito em conjunto com a mãe, e que com a morte dela, se tornou uma homenagem.
“O processo da perda é muito forte. Na hora da perda você fica quase em estado de choque. É preciso um tempo para que a dor comece a diminuir a intensidade. É como se você desse um mergulho profundo e depois comece a emergir", declarou.
Esse processo transforma você. É tão intenso, você mergulha dentro de você mesmo
O livro também resgatou as memórias que a intérprete tem do pai, Paulo Goulart, morto em 2014. Entretanto, ela frisou que o processo de luto foi muito diferente. Quando perdeu o patriarca, Beth pôde estar próxima dele e sentiu o carinho de amigos e fãs que compareceram ao velório. Já no caso de Nicette, como a pandemia estava em uma fase aguda, não era possível sequer chegar perto das pessoas.
“Foram muito diferentes, mas ambos muito intensos. Esse processo todo da mamãe me fortaleceu de certa maneira através das redes sociais. Ali virou um veículo de comunicação forte de mim para as pessoas e das pessoas comigo. As pessoas também falavam: ‘Eu sei pelo que você está passando, eu acabei de perder minha mãe’. Foram 21 dias de uma intensidade absurda, todo mundo acompanhou tudo, a cada momento, a cada melhora e piora. O que aconteceu com a mamãe e conosco aconteceu com tantas famílias. É uma dor coletiva”, ressalta.
A atriz chorou ao relembrar de que se despediu da mãe sem saber que seria a última despedida. “A segunda vez que ela foi ao hospital, ela passou na minha casa e falou: ‘Eu volto, viu. Eu volto’. Eu falei: ‘Eu sei que a senhora vai voltar’. Mas ali foi a minha despedida, foi naquele momento. Ela ainda alegre, dizendo que ia voltar. Ela voltou, não fisicamente. Estamos muito próximas, mas espiritualmente”, relatou.
Minha mãe era uma mulher de muita fé. Isso passou para a gente de uma maneira muito bonita. Ela não era uma mulher de fé que te obrigava a ter fé, ela simplesmente tinha. A gente sentia isso. Eu sempre fui muito companheira da mamãe quando ela ia fazer os estudos, os trabalhos dela. Aquilo me marcou de uma maneira intensa, achava profundo.
Experiência espiritual
Essa fé de Beth foi reforçada por causa de uma história que lhe foi contada. O ator Marco Ricca também foi internado com Covid-19, e compartilhou um relato que impressinou a atriz.
“O Marco Ricca teve Covid também e ficou internado no mesmo hospital que a minha mãe, só que não era a mesma UTI, era em um outro lugar. Ele me procurou e falou: ‘Preciso falar com você. Sua mãe foi todos os dias me visitar’. Eu falei: ‘Como assim?’. Ele disse: ‘Ela estava ótima e falava: meu querido, você vai melhorar, vai sair daqui. Ela estava ótima, Beth, sorrindo’. Eu falei: ‘Marco, ela não podia ter feito isso, ela estava internada’. Ele: ‘Não sei explicar para você, mas todos os dias sua mãe ia me visitar no meu leito’. Eu acho que ela teve um desdobramento. O corpo dela estava entubado, mas ela estava trabalhando espiritualmente. Aquilo para mim foi uma comprovação de que ela está bem”, enfatizou a artista.