O programa Antenados, da Rádio Bandeirantes, conversou neste sábado, 31, com a cantora Kell Smith. No papo com Danilo Gobatto, ela falou sobre o lançamento do EP O Velho E Bom Novo, que aborda temas importantes, como luto, saúde mental e amor. “Existe música solar para os dias de sol, mas os dias não são sempre de sol. Como disse Nina Simone, ‘o artista não pode ser alheio ao seu momento, ao seu tempo’. Eu não posso insistir, em meio ao caos, rimar amor com dor até o fim do ano, porque é uma estratégia de marketing. Senão, eu sou funcionária da arte e não artista. Eu sou artista, eu vou falar artista e vou vencer artista”, explicou.
Kell Smith não esconde a sua luta contra ansiedade e crises do pânico e revela que ouvir música, compor, escrever e bater papo com os fãs fazem parte do seu processo terapêutico. “Faço um tratamento com um terapeuta, através da telemedicina, que me salvou a vida. Eu tenho esse privilégio de fazer terapia, que mudou a minha vida”, contou. “Vim de uma família altamente religiosa, pastores missionários, que aprenderam que o adoecimento mental é como a ausência de Deus. Então, essa demonização do adoecimento mental nos tira o direito de adoecer, sendo que o cérebro é um órgão assim como o coração. E a gente aceita que tem que tratar quando tem um infarto, mas não aceita quando você está num quadro de depressão”, disse.
Por isso, a saúde mental está tão presente nas 12 faixas que compõem o álbum O Bom E Velho Novo. “Tem alguns sentimentos e sensações que precisam morar do lado de fora, porque se morarem do lado de dentro, machuca demais. A dor do luto precisa ser expressada, a dor da depressão precisa ser expressada, até para você entender que você tem o direito de pedir ajuda e que você precisa. Isso só acontece quando você coloca para fora”, afirmou.
Na entrevista, Kell Smith também falou sobre a arte como uma forma de resistência. “A arte ainda está resistindo, né? Com muita dor, com muito medo. Mas estamos passando por um momento de inteira invisibilidade. O mercado artístico não é feito apenas de artistas: tem a pessoa que arruma o camarim, que faz o café, que vende água, que faz a segurança, que monta o palco. E essas pessoas não estão trabalhando”, lamentou.
“Aí você ouve as grandes lideranças ou autoridades dizendo: ‘Poxa, se reinvente’. A gente vive de se reinventar. A arte não resiste passivamente. Se você pegar qualquer guerra, qualquer momento da humanidade, a gente vence com a arte. Nós não somos animadores de auditório, nós somos representantes de uma nação. E cada um sabe a consciência que tem”, finalizou.
O programa Antenados vai ao ar todos os sábados, às 22h, na Rádio Bandeirantes, com apresentação do repórter Danilo Gobatto. O programa é reapresentado aos domingos, no mesmo horário.