O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) desistiu da pré-candidatura à presidência nesta segunda-feira (23). Sem apoio do próprio partido, a decisão foi um aceno para a proposta de aliança entre três partidos (PSDB, MDB e Cidadania) para o lançamento de uma chapa única para a chamada “terceira via”.
Após reunião com a cúpula tucana, ele reconheceu que a legenda tomará a “melhor decisão”. “O PSDB saberá tomar a melhor posição no seu posicionamento para as eleições deste ano. Me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada, com boa gestão e sem corrupção”, disse Doria em coletiva de imprensa.
Em novembro do ano passado, Doria venceu as prévias do PSDB, o que o tornaria, pelo menos com base em regras internas, o nome oficial do partido nestas eleições. Por outro lado, o ex-governador não tinha apoio nem da própria cúpula tucana. Inclusive, chegou a anunciar que Bruno Araújo, presidente da legenda, não seria mais o coordenador de campanha dele.
De acordo com a colunista da BandNews FM Monica Bergamo, o tema da reunião realizada nesta manhã foi convencer Doria a desistir e evitar o desgaste de uma disputa política que se estendesse até agosto, quando a convenção do partido dará a palavra final sobre os rumos da legenda.
Semana passada, uma reunião entre o PSDB, MDB e Cidadania escolheu o nome da senadora Simone Tebet como o mais viável da “terceira via”, segundo pesquisas internas feitas com o intuito destacar o nome mais forte contra a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL). Ambos lideram as pesquisas de intenção de voto, respectivamente.
No contexto das pesquisas oficiais e registradas no TSE, Doria aparece à frente de Tebet. No último levantamento Ipespe, por exemplo, o paulista tinha 4% contra 2% da sul-mato-grossense, empatados tecnicamente dentro da margem de erro. Por outro lado, a emedebista tem menor rejeição. Em entrevistas, ela destaque que pode ser beneficiada por ser menos conhecida em nível nacional.
“Tentativa de golpe”
Há uma semana, Doria chegou a enviar uma carta ao presidente nacional do PSDB para se colocar como vítima de uma “tentativa de golpe”. Na ocasião, reforçou que não desistiria da pré-candidatura, além de ameaçar judicializar a escolha de outro nome que não fosse o dele.
Apesar disso, as prévias partidárias não estão no ordenamento jurídico eleitoral brasileiro, já que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) só confirma uma candidatura lançada nas convenções partidárias, a partir de agosto.
No mesmo dia, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também presidente de honra do PSDB, manifestou-se favorável ao resultado das prévias, em apoio a Doria. Disse que o ex-governador agiu bem em enviar a carta a Bruno Araújo.
Doria reforça apoio à “terceira via”
No discurso de hoje, Doria reforçou o apoio a uma alternativa aos extremos. Ele não citou Lula nem Bolsonaro, mas destacou que o nome não deve ser envolvido em escândalos de corrupção nem deve envergonhar o país em nível mundial.
“O Brasil precisa de uma alternativa para oferecer aos eleitores que não querem os extremos, aquele que foi envolvido em escândalos de corrupção nem aquele que não deu conta de salvar vidas, economia e que envergonha o nosso país em todo o mundo”, disparou o tucano.
Tebet chama Doria de aliado
Minutos após Doria anunciar a desistência, a senadora divulgou nota em que chamou o ex-governador de aliado. Segundo Tebet, as sugestões de Doria serão acolhidas para o programa de governo.
“Doria nunca foi adversário. Sempre foi aliado. Sua contribuição com a luta pela vacina jamais será esquecida. Vamos conversar e receber suas sugestões para nosso programa de governo. O Brasil é maior do que qualquer projeto individual”, pontuou Tebet.