Eleições

Ex-surfistas da onda bolsonarista minguam nas urnas em 2022

Fenômeno aponta fidelidade eleitoral a Bolsonaro e radicalização da direita brasileira

Da Redação

A então bolsonarista Joice Hasselmann e Jair Bolsonaro, em 2018 Reprodução / Twitter / Joice Hasselmann
Reprodução / Twitter / Joice Hasselmann

Figuras com relevância na trajetória recente do País, que outrora se beneficiaram de um fenômeno de ascensão da extrema-direita brasileira, com o surgimento de forte corrente de seguidores do presidente Jair Bolsonaro (PL), perderam votos nas eleições de 2022 e ficaram sem os cargos eletivos aos quais disputavam. 

Nomes como Joice Hasselmann (PSDB - SP), que teve a maior votação de uma deputada federal em 2018, e Janaina Paschoal (PRTB-SP), que fez mais de dois milhões de votos na eleição anterior, minguaram em 2022. 

Fora do bolsonarismo, a direita brasileira também perdeu nomes como José Serra (PSDB - SP), que já concorreu à Presidência, e falhou neste ano. Acompanhando a decadência do PSDB, que viu seus eleitores migrarem em massa para o bolsonarismo, Serra, duas vezes candidato à Presidência da República, conseguiu 88.926 votos na disputa por uma vaga na Câmara de Deputados por São Paulo, mas não se elegeu. Senador por 16 anos, o tucano encerra o segundo mandato em dezembro. 

O fenômeno pode ser explicado pela radicalização do eleitorado e apropriação da ideologia de direita pelo bolsonarismo. 

Joice Hasselmann

A ex-bolsonarista Joice Hasselmann, deputada federal por São Paulo, perdeu mais de um milhão de votos. Em 2018, a jornalista tornou-se a mulher mais votada para a Câmara na História, com pouco mais de 1 milhão de votos. Neste domingo, porém, Joice recebeu cerca de 14 mil votos e não se reelegeu.

Janaina Paschoal

Janaina Paschoal (PRTB-SP), uma das autoras da petição que deu início ao processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, não conseguiu se eleger para o Senado neste domingo. Apesar de alinhada ao governo Bolsonaro, Paschoal se recusou a concordar com todas as pautas de extrema-direita e flertou com a moderação, o que pode ter custado a migração de seu eleitorado ao fiel bolsonarista Marcos Pontes, ex-ministro de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovações do Brasil, que ficou com a cadeira paulista no Senado. 

Em sua primeira eleição, a advogada tornou-se deputada estadual com a marca recorde de mais de 2 milhões de votos — o máximo que um parlamentar já recebeu no Brasil. Apesar da votação expressiva em 2018, ela ficou na quarta posição com pouco mais de 2% dos votos para o Senado.

Alexandre Frota

Também ex-bolsonarista, o ator Alexandre Frota (PSDB- SP), eleito deputado federal por São Paulo em 2018, decidiu lançar-se a um cargo menos concorrido, para a Assembleia Legislativa paulista, mas, com pouco mais de 24 mil votos, não conseguiu se eleger.

Abraham Weintraub 

A lista de políticos que pagaram o preço pela dissidência do bolsonarismo também conta com o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub (PMB-SP). O olavista, que chegou a ser nomeado por Bolsonaro para um cargo generoso no Banco Mundial após deixar o ministério, passou de aliado a inimigo do presidente. 

Candidato a deputado federal em São Paulo, ele recebeu 4 mil votos e não se elegeu. O irmão dele, Arthur Weintraub, aspirante ao mesmo posto pelo mesmo partido, parou em um patamar ainda mais baixo: foram 1.900 votos.

Luiz Henrique Mandetta

A dissidência do bosonarismo teve preço também para o ex-ministro da Saúde e ex-deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS). Ministro no início da pandemia da Covid-19, o médico deixou o governo ao defender medidas de combate ao vírus desaprovadas pelo presidente. Na disputa pelo Senado no Mato Grosso do Sul, ele perdeu para outra ministra do ex-chefe: Tereza Cristina (PP), que comandou a pasta da Agricultura e Pecuária.

Nise Yamaguchi

Entre os bolsonaristas fiéis, a médica Nise Yamaguchi (PROS), que ficou conhecida por endossar a recomendação bolsonarista de remédios ineficazes para o combate à Covid-19, recebeu 36.690 votos em sua primeira eleição para a Câmara Federal por São Paulo. A política, que foi a voz da Medicina bolsonarista na CPI da Covid-19, afirmava “ser muito próxima do presidente Bolsonaro”.

Sergio Camargo

A onda bolsonarista também não foi suficiente para Sergio Camargo (PL-SP), o escandaloso responsável pela Fundação Palmares. Ele arriscou-se pela primeira vez na disputa por um cargo eletivo, mas não se elegeu à Câmara Federal, apesar de ter feito 13.085 votos por São Paulo.

Enrolados com a Justiça

Eduardo Cunha

Entre os enrolados com a Justiça, um novo bolsonarista declarado, Eduardo Cunha, ex-MDB e agora filiado ao PTB de Roberto Jefferson, voltou a se candidatar seis anos após ter seu mandato de deputado federal cassado por quebra de decoro, mas não conseguiu votos suficientes para retornar ao Parlamento. 

Preso de junho de 2016 a março de 2020 pela Operação Lava Jato, ex-presidente da Câmara dos Deputados, responsável pela abertura do processo de impeachment de Dilma no Congresso Nacional. Cunha já foi considerado um dos políticos mais poderosos do País até 2016.

Carioca, Cunha filiou-se ao PTB e mudou o domicílio eleitoral para São Paulo e recebeu apenas 5.044 votos e ficou de fora do grupo de eleitos.

Apesar disso, Cunha conseguiu eleger sua filha, Danielle Cunha, para uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Rio de Janeiro, com mais de 70 mil votos. Ambos foram alvo da Lava Jato. 

Gabriel Monteiro

O bolsonarismo rendeu votos ao discurso do vereador cassado do Rio de Janeiro, youtuber e ex-policial militar Gabriel Monteiro (PL), apesar de ele estar inelegível. 

Cassado após acusações de estupro e assédio sexual, Monteiro não pôde concorrer, mas conseguiu eleger o pai e a irmã como deputados no Rio de Janeiro). 

Gisele Monteiro (PL), irmã de Gabriel, foi escolhida por 94.556 eleitores, tornando-se a 10ª candidata mais votada para a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Já Roberto Monteiro (PL) —pai do youtuber— teve 93.587 votos, sendo o 19º mais votado do RJ para a Câmara dos Deputados.

Daniel Silveira

O deputado federal Daniel Silveira (PTB), condenado pelo Supremo Tribunal Federal e posteriormente indultado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), concorreu a uma vaga para o Senado pelo Rio de Janeiro, mas perdeu para Romário (PL), que apesar de ser do partido do presidente não teve seu apoio declarado. 

Silveira postou um vídeo em sua conta no Twitter com uma imagem de uma mensagem de Bolsonaro. "Ô, animal, votei em você", diz o texto, ao que Silveira responde com uma risada.

Silveira também não conseguiu emplacar sua esposa, a advogada Paola Silva Daniel, que não vai substituir o marido na Câmara Federal. Uma das principais apostas do PTB do Rio — mesmo partido de Silveira — para puxar votos, não alcançou uma vaga como deputada federal para os próximos quatro anos. Ela conquistou apenas 25 mil votos neste domingo.

Fabrício Queiroz 

Ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Fabrício Queiroz (PTB-RJ) não conseguiu se eleger deputado estadual do Rio de Janeiro, nesse domingo. Com 99,76% das urnas apuradas, o candidato recebeu apenas 6.697 votos. 

Preso entre junho de 2020 e março de 2021, Queiroz ganhou destaque ao ser apontado como operador de um esquema de rachadinha no gabinete de Flávio, à época deputado na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

Cristina Bolsonaro

Ex-esposa do presidente Jair Bolsonaro, a advogada Cristina Bolsonaro, mãe de Jair Renan, o filho "04" do presidente, também não conseguiu se eleger a uma cadeira na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ana Cristina recebeu 1.485 votos.

Em agosto, a Polícia Federal sugeriu à Justiça Federal do Distrito Federal a abertura de uma investigação contra Ana Cristina Valle, por causa de uma mansão comprada no Lago Sul, área nobre de Brasília.

Ana Cristina apresentou em sua declaração de bens à Justiça Eleitoral a mansão que antes ela chegou a afirmar que seria alugada. A PF submeteu à apreciação judicial para que a ex-mulher de Bolsonaro seja investigada no caso. Ainda não há decisão da Justiça Federal sobre o caso.