Eleições

Eleição de Lula é reviravolta histórica da democracia

Trajetória de retirante, metalúrgico, sindicalista e presidente se confunde com o amadurecimento democrático do Brasil

Narley Resende

Lula sorri antes de uma marcha em Belo Horizonte (MG), Brasil, 9 de outubro de 2022 REUTERS/Washington Alves
REUTERS/Washington Alves

“Teima, meu filho, teima. Não baixa a cabeça nunca”, dizia Eurídice Ferreira de Melo, a Dona Lindu, mãe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Citada constantemente ao longo dos mais de 50 anos de vida pública de Lula, Dona Lindu, segundo biografias autorizadas, foi a grande inspiração do líder popular.

Depois de passar por processos controversos de perseguição política e jurídica, em especial entre os anos de 2015 e 2021, quando teve condenações proferidas pelo então juiz federal Sergio Moro e que foram anuladas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por incompetência jurisdicional, parcialidade e suspeição - Luiz Inácio da Silva, conhecido como Lula, em alusão hipocorística a "Luiz", vai assumir a Presidência da República pela terceira vez.

E a “teimosia” recomendada por Dona Lindu, destaque no filme “Lula, o Filho do Brasil”, de 2009, foi novamente citada em campanha durante o processo de reascensão de Lula, bem como quando foi eleito presidente pela primeira vez em 2002, após perder três eleições ao Palácio do Planalto.

Fim de um ciclo

A eleição de Lula em 2022, com a promessa dele de que não concorrerá à reeleição em 2026, deve encerrar um ciclo da República. O inédito terceiro mandato avulso desde que foram restabelecidas as eleições presidenciais, em 1989, projeta para 2026 um cenário de disputa com novos nomes.

Lula já era personagem central na cena política, quando houve a escolha de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral para presidir o País - etapa final da superação da ditadura, com mandato assumido na sequência por José Sarney.

Agora, antes deste que deve ser seu último ato com mandato eletivo, Lula uniu forças distintas do espectro político, da esquerda à centro-direita, formando a frente mais ampla desde as Diretas Já, que inaugurou o período histórico.

Um vídeo em que um nonagenário Fernando Henrique Cardoso “aparece de terno e gravata e conjuga na mesma fala a estabilidade econômica do Real à preocupação social dos governos lulistas é um epílogo até há poucos anos inimaginável para a disputa entre PT e PSDB, a mais persistente e representativa da era que agora caminha para o fim”. A descrição é da jornalista Vera Magalhães em artigo publicado a dois dias das eleições.

A presença de Geraldo Alckmin como vice na chapa da última batalha de Lula foi o primeiro gesto dessa formação inédita, operada pela percepção de que o bolsonarismo é um movimento reacionário, de negação da política, que colocou em xeque o Estado Democrático de Direito.

A frente ampla de Lula uniu a ele além de FHC, Geraldo Alckmin, Dilma Rousseff, Marina Silva, Simone Tebet, Henrique Meirelles, Guilherme Boulos, José Sarney, Cristovam Buarque, Fernando Haddad, João Goulart Filho, Luciana Genro, entre outros líderes presidenciáveis, juristas, economistas e empresários dos mais diversos espectros políticos e ideológicos.  

Lula sabe da responsabilidade que tem para encerrar este ciclo histórico e pessoal de forma excepcional.

Quem é Lula?

Torneiro mecânico de formação pela escola técnica do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) em São Paulo, Lula foi o primeiro presidente eleito sem ter um diploma de curso superior, o que não o impediu de criar 14 universidades durante seus dois mandatos como presidente. Até hoje recebeu 36 títulos de doutor honoris causa nacionais e internacionais.

De origem humilde, Lula nasceu em 27 de outubro de 1945 na cidade de Garanhuns, interior de Pernambuco. Sétimo de oito filhos de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Mello, Lula migrou para o litoral paulista em dezembro de 1952, viajando 13 dias num caminhão "pau de arara". Foi morar em Vicente de Carvalho, bairro pobre do Guarujá.

Foi alfabetizado no Grupo Escolar Marcílio Dias. Em 1956, a família mudou-se para São Paulo, passando a morar num único cômodo, nos fundos de um bar, no bairro de Ipiranga. Aos 12 anos de idade, Lula conseguiu seu primeiro emprego numa tinturaria. Também foi engraxate e office-boy. 

“Eu morei num quarto e cozinha com 13 pessoas, então eu tenho consciência do que esse povo está passando. Então, eu não posso mentir. Eu não posso ganhar aos 76 anos (a eleição) e dizer para esse povo ‘não dá pra fazer as coisas’”, disse Lula emocionado após confirmar sua candidatura em janeiro de 2022. 

Com 14 anos, começou a trabalhar nos Armazéns Gerais Columbia, onde teve a Carteira de Trabalho assinada pela primeira vez. Lula transferiu-se depois para a Fábrica de Parafusos Marte e obteve uma vaga no curso de torneiro mecânico do Senai. O curso durou 3 anos e Lula tornou-se metalúrgico.

A crise após o golpe militar de 1964 levou Lula a mudar de emprego, passando por várias fábricas, até ingressar nas Indústrias Villares, uma das principais metalúrgicas do País, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Trabalhando na Villares, Lula começou a ter contato com o movimento sindical, por intermédio de seu irmão José Ferreira da Silva, mais conhecido por Frei Chico.

Em 1969, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema fez eleição para escolher uma nova diretoria e Lula foi eleito suplente. Na eleição seguinte, em 1972, tornou-se primeiro-secretário. Em 1975, foi eleito presidente do sindicato com 92% dos votos, passando a representar 100 mil trabalhadores. 

Partido dos Trabalhadores

Lula deu então uma nova direção ao movimento sindical brasileiro. Em 1978, Lula foi reeleito presidente do sindicato e, após 10 anos sem greves operárias, ocorreram no País as primeiras paralisações. Em março de 1979, 170 mil metalúrgicos pararam o ABC Paulista. A repressão policial ao movimento grevista e a quase inexistência de políticos que representassem os interesses dos trabalhadores no Congresso Nacional fez com que Lula pensasse pela primeira vez em criar um Partido dos Trabalhadores.

O Brasil atravessava, então, um processo de abertura política lenta e gradual comandada pelos militares ainda no poder. Em 10 de fevereiro de 1980, Lula fundou o PT, juntamente com outros sindicalistas, intelectuais, políticos e representantes de movimentos sociais, como lideranças rurais e religiosas. Em 1980, durante o governo do general-presidente João Figueiredo, nova greve dos metalúrgicos provocou a intervenção do governo federal no sindicato e a prisão de Lula e outros dirigentes sindicais, com base na Lei de Segurança Nacional. Foram 31 dias de prisão.

Dona Lindu morreu em 1980, enquanto seu filho, Lula, estava preso no Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), e foi sepultada no Cemitério da Vila Pauliceia, em São Bernardo do Campo, região do Grande ABC Paulista.

Na época, Lula foi autorizado pelas autoridades a ir ao velório da mãe e uma multidão de apoiadores acompanhou a cerimônia em apoio ao líder sindicalista.

Em 1982 o PT já estava implantado em quase todo o território nacional. Lula liderou a organização do partido e disputou naquele ano o governo de São Paulo. Em agosto de 83, participou da fundação da CUT (Central Única dos Trabalhadores). 

Em 1984 participou, como uma das principais lideranças, da campanha das "Diretas Já" para a Presidência da República. Em 1986, foi eleito o deputado federal mais votado do país, para a Assembléia Constituinte.

O PT lançou Lula para disputar a Presidência da República pela primeira vez em 1989, após 29 anos sem eleição direta para o cargo. Perdeu a disputa, no segundo turno, por pequena diferença de votos, mas dois anos depois liderou uma mobilização nacional contra a corrupção que acabou no "impeachment" do presidente Fernando Collor de Mello. 

Em 1994 e 1998, Lula voltou a se candidatar a presidente da República e foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso.

Lula presidente

Na última semana de junho de 2002, a Convenção Nacional do PT aprovou uma ampla aliança política (PT, PL, PCdoB, PCB e PMN) que teve por base um programa de governo para resgatar as dívidas sociais fundamentais que o país tem com a grande maioria do povo brasileiro. O candidato a vice-presidente na chapa é o senador José Alencar, do PL de Minas Gerais.

Em 27 de outubro de 2002, aos 57 anos de idade, com quase 53 milhões de votos, Lula foi eleito presidente do Brasil. Em parte, a vitória foi atribuída à articulação política liderada pelo então deputado federal José Dirceu (PT) e a idealização da Carta ao Povo Brasileiro, em que Lula assegurava que o PT respeitaria contratos nacionais e internacionais.

O primeiro mandato do presidente Lula representou importantes avanços sociais e significativa melhoria na distribuição de renda, sobretudo, graças à política de valorização do salário mínimo e a programas como o Bolsa Família. O programa Fome Zero foi reconhecido internacionalmente como responsável pelo fim da fome no Brasil. 

A redução das desigualdades foi uma das marcas dos quatro primeiros anos de governo, e 7 milhões de brasileiros e brasileiras ascenderam à classe média. Lula terminou o primeiro mandato com a aprovação histórica de 57%, mesmo após o escândalo do Mensalão, em 2005.

Mensalão

O escândalo do Mensalão estourou em 6 de junho de 2005, quando o deputado Roberto Jefferson, histórico desafeto de José Dirceu, apesar de integrar no momento a base de apoio do governo, disse que o PT pagou a vários deputados “R$ 30 mil por mês”.

A acusação dizia que a cúpula do PT, em especial o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, negociava cargos e o repasse de dinheiro a deputados da base aliada como forma de comprar apoio de parlamentares do Congresso Nacional. Importantes nomes do PT, Dirceu, José Genuíno e Delúbio Soares foram condenados no processo, entre outros 23 acusados.

Mesmo assim, em 29 de outubro de 2006, Lula, novamente na companhia do vice José Alencar, foi reeleito presidente da República com mais de 58 milhões de votos, a maior votação da história do Brasil.

Em 2022, o relator do processo do mensalão no STF, ex-ministro Joaquim Barbosa, declarou voto em Lula. 

Marcas dos governos Lula

Os mandatos de Lula tiveram como principais marcas a manutenção da estabilidade econômica, a retomada do crescimento do País e a redução da pobreza e da desigualdade social. O governo Lula registrou a maior média de crescimento do PIB em duas décadas, de em torno de 4,1%, e o crescimento total ficou em 32,62%. A renda per capita cresceu 23,05%, com média de 2,8%, segundo o IBGE. O crescimento foi puxado pela alta das commodities, a demanda doméstica, ajudada por programas como o Bolsa Família e a redução das taxas internacionais de juros.

Em dezembro de 2010, pouco antes de passar a faixa para sua sucessora Dilma Rousseff, Lula bateu novamente recorde de popularidade chegando a 87% de aprovação, segundo pesquisa Ibope. 

Sucessora

Ex-ministra de Minas e Energia e da Casa Civil de Lula, Dilma foi eleita com 47 milhões de votos e reeleita com 54 milhões de votos, a primeira mulher presidente do Brasil. Somados os governos petistas chegaram a 14 anos. 

Dilma governou até 2016, quando sofreu impeachment em 31 de agosto, sob acusação formal de crime de responsabilidade pela prática das chamadas "pedaladas fiscais" e pela edição de decretos de abertura de crédito sem a autorização do Congresso. 

Naquele ano, a Operação Lava Jato, que ao todo teve 80 fases, semanalmente alimentava o noticiário como nunca antes na história do País, revelando um esquema de corrupção envolvendo diretores de empresas estatais, especialmente a Petrobras, indicados por partidos da base de coalizão do governo no Congresso Nacional. 

Embora envolvesse praticamente todos os partidos, com maioria dos delatados do PP e PMDB, o PT foi alvo principal da crítica, causando danos à popularidade do partido, o que ampliou o apoio ao impeachment. 

Em setembro de 2022, por unanimidade, a 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF (Ministério Público Federal) homologou o arquivamento do inquérito civil sobre as pedaladas fiscais que justificaram o impeachment, corroborando a tese petista de “golpe parlamentar”. 

Autor do texto da ação que deu origem ao processo de impeachment contra Dilma, ao lado de Janaína Paschoal, o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior declarou apoio a Lula nas eleições deste ano.

Lula preso

Lula era líder nas pesquisas eleitorais quando foi preso em 7 de abril de 2018, por ordem do então juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, responsável por processos da Lava Jato no Paraná, e permaneceu sob custódia por 580 dias. Lula chegou a ser condenado por supostamente receber propina da empreiteira OAS para “reserva” de um apartamento triplex no Guarujá, e para reforma de um sítio em nome de um amigo de Lula, em Atibaia (SP). 

Quando teve a prisão decretada por Moro, em 5 de abril de 2018, Lula foi à sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde ficou por dois dias cercado por milhares de apoiadores. Fez um discurso histórico, no ápice de seu calvário. 

“Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais poderão deter a chegada da primavera”, citou frase atribuída ao poeta chileno Pablo Neruda, utilizada por Lula em momentos diferentes de sua trajetória. 

Em 7 de abril, contrariando aliados e militantes, Lula se entregou à PF e foi levado a Curitiba, onde também foi recebido por manifestantes. O líder chegou de helicóptero à Superintendência da PF, onde houve uma confusão entre apoiadores e opositores. 

As duas condenações de Lula foram anuladas. A defesa do petista contabiliza 26 vitórias judiciais no período de 2014 a 2022. Hoje, Lula é considerado inocente, segundo juristas, como qualquer brasileiro, até que se prove o contrário, conforme determina a Constituição Federal. 

Durante o período em que ficou na carceragem, Lula enfrentou duas grandes perdas na família. Genival Inácio da Silva, de 79 anos, conhecido como Vavá, morreu em janeiro de 2019, e o ex-presidente não pode comparecer ao enterro devido ao atraso e às restrições impostas pela Justiça.

Em março, o neto de Lula, Arthur Lula da Silva, de 7 anos, que chegou a visitar o avô na cadeia, morreu vítima de uma infecção por bactéria Staphylococcus aureus, em São Paulo. 

Lula chegou ao cemitério, em São Bernardo do Campo (SP), na manhã daquele dia, chorando e sob forte escolta de agentes federais e policiais militares, e ficou ali cerca de uma hora e meia. 

Em 26 de abril de 2019, ainda preso em Curitiba, Lula chorou ao falar do neto durante entrevista ao Jornal Folha de S. Paulo e site El País que foi possível após uma liminar da Justiça. 

Enquanto ficou preso em Curitiba, Lula contou com apoio da militância de seu partido e movimentos sociais aliados, que acamparam em vigília realizada ao lado da sede da Polícia Federal na capital paranaense. Todos os dias, dezenas de seus apoiadores que se revezavam dia a dia gritavam “bom dia, presidente Lula”, assim como “boa tarde” e “boa noite”, até que Lula foi libertado, em alvará motivado por decisão do STF. 

A medida derrubou a execução de pena após condenação em segunda instância. Embora envolva todo cidadão submetido ao Código Penal, o debate público sobre o tema girou em torno de Lula, diante da prisão do líder popular.

Logo que foi solto, em 8 de novembro de 2019, Lula discursou brevemente na Vigília "Lula Livre", ao lado da PF e em seguida retornou a São Bernardo do Campo, à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde discursou para uma multidão de apoiadores. Anulada a inelegibilidade pela Lei da Ficha Limpa, sancionada pelo próprio petista em 2010, Lula foi aclamado pré-candidato à Presidência da República.

Morte de Dona Marisa

Ré na Lava Jato e alvo de vazamento de conversas privadas pela Justiça Federal do Paraná, a ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva morreu em 2017, aos 66 anos, depois de ter sofrido um acidente vascular cerebral hemorrágico provocado pelo rompimento de um aneurisma.

Marisa conheceu Lula no Sindicato dos Metalúrgicos, em 1974, e os dois se casaram. O casal teve três filhos: Fábio, Sandro e Luís Cláudio.

A primeira esposa de Lula foi a tecelã Maria de Lourdes da Silva, com quem se casou em 25 de maio de 1969.

Em junho de 71, Lourdes contraiu hepatite e precisou ser internada quando estava no oitavo mês de gestação. Ela e o filho morreram durante uma cesárea de emergência, feita para tentar salvar a vida dos dois.

Três anos depois, em 74, Lula teve uma filha com a enfermeira Miriam Cordeiro, sua namorada na época. Apesar do vínculo, os dois não chegaram a oficializar o relacionamento. 

Lula se casou novamente em 2022. com a socióloga Rosângela Silva, conhecida como Janja. Filiada ao PT desde 1983, Janja, de 55 anos, se aproximou de Lula enquanto ele estava preso na Polícia Federal de Curitiba. Ela era uma das organizadoras da vigília em apoio ao ex-presidente. Lula contou em entrevistas que Janja o visitava com frequência no período e que os dois estão juntos desde 2018.

Sétima disputa presidencial

Em julho de 2022, o PT confirmou em convenção a indicação de Lula para sua sétima disputa como candidato à Presidência da República, em chapa formada com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), que foi seu adversário derrotado na corrida pela presidência em 2005, quando Alckmin era do PSDB. 

“Queremos unir os democratas de todas origens e matizes, das mais variadas trajetórias políticas, de todas as classes sociais, de todos os credos religiosos para enfrentar a ameaça totalitária, o ódio, violência, discriminação e exclusão que pesam neste país”, disse Lula em maio, quando anunciou montagem da chapa.

Realizações

Em um livro de 310 páginas, registrado em cartório, consta uma lista de obras e realizações do Governo Lula. 

O documento destaca a criação do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar) e do Bolsa Família, que tirou 36 milhões de famílias da extrema pobreza e fez a mortalidade infantil por desnutrição ser reduzida em 58% e, por diarreia, em 46%.

Destaque também para o Prouni (Programa Universidade Para Todos), que gerou 4,5 milhões de vagas em universidades em 13 anos. Também o Luz Para Todos, programa que levou energia elétrica, pela primeira vez, a 3,3 milhões de famílias; e a criação do Samu. 

Também consta na lista o Programa de Cisternas; o Movimento Nacional de Mobilização para o Registro de Nascimento; o Estatuto do Idoso; a Campanha de Desarmamento; o consecutivo aumento real do salário mínimo; o Brasil Sorridente; o início do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal; o Disque-Denúncia; a descoberta do pré-sal; a Lei Maria da Penha; a Quitação da dívida com o FMI (Fundo Monetário Internacional); o Lançamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento); o início de funcionamento do Fundeb; o programa Caminho da Escola; a Criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB); o piso nacional para os professores da educação básica; a implementação nacional das UPAS; o Programa Mais Alimentos; o lançamento do Minha Casa, Minha Vida; o avanço do Enem; a criação do MEI (Microempreendedor Individual); o Estatuto da Igualdade Racial, entre outros.

Novo governo

Em carta aberta que foi divulgada três dias antes do segundo turno, Lula prometeu combinar em seu governo responsabilidade fiscal e social.

O documento de nove páginas denominado "Carta para o Brasil do amanhã” diz que a reconstrução do Brasil exige uma gestão pública "responsável" e "aberta ao diálogo".

"É possível combinar responsabilidade fiscal, responsabilidade social e desenvolvimento sustentável – e é isso que vamos fazer, seguindo as tendências das principais economias do mundo", diz o texto.

"A política fiscal responsável deve seguir regras claras e realistas, com compromissos plurianuais, compatíveis com o enfrentamento da emergência social que vivemos e com a necessidade de reativar o investimento público e privado para arrancar o país da estagnação", acrescenta o documento, que ainda incorpora sugestões da senadora Simone Tebet (MDB-MS), que passou a apoiar Lula após terminar a disputa presidencial em terceiro lugar.

A campanha já disse que revogará o teto de gastos, mas não divulgou qual será a nova âncora fiscal. Também não esclarece de onde irá tirar recursos para bancar novos programas.

Lula começa a carta dizendo que o país escolheria entre dois projetos completamente diferentes para o Brasil, o do "ódio", com Jair Bolsonaro (PL), e o da "esperança".

"Um é o país do ódio, da mentira, da intolerância, do desemprego, dos salários baixos, da fome, das armas e das mortes, da insensibilidade, do machismo, do racismo, da homofobia, da destruição da Amazônia e do meio ambiente, do isolamento internacional, da estagnação econômica, do apreço à ditadura e aos torturadores. Um Brasil de medo e insegurança com Bolsonaro", diz o texto.

O petista diz que as primeiras medidas de seu governo serão para resgatar da fome 33 milhões de pessoas e resgatar da pobreza mais de 100 milhões de brasileiros e brasileiras.

"A democracia só será verdadeira quando toda a população tiver acesso a uma vida digna, sem exclusões", escreve Lula, que depois detalha as suas propostas para diferentes áreas.

Ao final do texto, Lula afirma que o país precisa de "paz, democracia e diálogo". Em aceno ao eleitorado religioso, ele termina a carta aos brasileiros com a frase "Deus nos ilumine nessa caminhada".

Propostas do novo governo

  • Mínimo Forte, com reajustes acima da inflação para aumentar o poder de compra das famílias;
  • Retomada do Bolsa Família, com pagamento mensal de R$ 600,00 a famílias de baixa renda, com acréscimo de R$ 150,00 por criança de até 6 anos;
  • Brasil Sem Fome, para produzir e garantir comida para 33 milhões de pessoas e tirar o Brasil do mapa da fome;
  • Retomada do Minha Casa Minha Vida, maior programa de habitação popular da história do Brasil;
  • Mais Saúde Brasil, para levar atendimento médico para as famílias em todo Brasil;
  • Ministério da Mulher, com criação, em parceria com estados e municípios, da Rede Casa da Mulher Brasileira, com delegacia da mulher, Ministério Público, atendimento psicológico e abrigo para mulheres em situação de vulnerabilidade;
  • Fortalecimento do Farmácia Popular, para garantir medicamentos a custo baixo para quem mais precisa;
  • Empreende Brasil, para facilitar o acesso ao crédito para micro e pequenas empresas, com novas linhas de crédito, melhores relações de trabalho e a retomada do Cartão de Crédito do BNDES;
  • Desenrola Brasil, com negociação das dívidas das famílias que recebem até 3 salários mínimos, para limpar o nome no SPC e Serasa e reaquecer a economia;
  • Recriação do Ministério da Cultura;
  • Brasil Sustentável, de combate ao garimpo ilegal, às queimadas e o desmatamento, além de recuperação dos órgãos de preservação e fiscalização para defender o meio ambiente, especialmente a Amazônia;
  • Creche e Ensino Superior em Tempo Integral;
  • Brasil Conectado, para ampliar o acesso à internet;
  • Mais Universidade, para ampliar o acesso dos jovens ao curso superior, com o fortalecimento do Enem, Prouni e Fies.
  • Além de expandir e fortalecer a Lei de Cotas Raciais e Sociais, e implantar o Bolsa Permanência, incentivo para estudantes de baixa renda permanecerem na universidade.