O ano de 2022 teve altos e baixos em diversos segmentos. Na economia não foi diferente. Quando o mundo achava que se livraria de uma crise sanitária, a pandemia de covid-19, a Rússia declara guerra contra a Ucrânia, o que cria um alerta econômico global envolvendo, sobretudo, crise energética relativa a combustíveis fósseis e insegurança alimentar.
O Brasil não ficou fora dessa gigantesca lista de países afetados pelos impasses históricos de duas nações que, pós-Segunda Guerra Mundial, integravam a então União Soviética. Enquanto, no Leste europeu, mísseis e tanques se tornam a maior preocupação dos civis, aqui, do outro lado do Oceano Atlântico, a pobreza e a fome foram o que bombardearam a população.
Um dos principais problemas enfrentados pelo governo brasileiro foi a inflação, decorrente de alta no acumulado de 2021, inclusive com os temidos dois dígitos alcançados, 10,06%. A última marca assim foi em 2015, ainda no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, quando o ano fechou em 10,67%.
Inflação recorde e crise dos combustíveis
A alta nos preços do petróleo e derivados no mercado internacional encareceu os produtos brasileiros, muito disso por conta da nossa dependência pelos combustíveis fósseis refinados. Em abril, o acumulado de 12 meses foi de 12,13%, maior patamar desde outubro de 2003 (13,98%).
Em julho, um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que a inflação acumulada do Brasil só era menor que a da Argentina e Turquia, entre os países do G20, grupo das nações mais ricas. Na época, a Rússia não foi citada devido à guerra, mas Moscou havia divulgado índice de 17,1% em junho.
Deflação e ICMS ameaçado
Devido à alta nos preços, o governo começou a agir para controlar a inflação além das medidas adotadas pelo Banco Central de subir os juros. O Palácio do Planalto articulou com o Congresso Nacional um projeto de lei que limitou a cobrança de ICMS (imposto estadual) sobre combustíveis entre 17% e 18%.
Além das ações contra o ICMS, uma emenda constitucional autorizou a União a reduzir tributos federais sobre combustíveis e gás de cozinha entre 2022 e 2023. O mesmo valia para os governadores no que diz respeito às cobranças estaduais. O texto também previa o aumento do Auxílio Brasil em R$ 200 e criação de vale-gás e vale-caminhoneiro em ano eleitoral.
Também coube à Petrobras, a partir de julho, anúncios de reduções na gasolina, diesel e gás de cozinha, devido às baixas do petróleo no mercado internacional. Todas essas medidas fizeram com que a inflação começasse a desacelerar, tanto que, em julho, agosto e setembro, o país registrou três deflações mensais consecutivas.
Por outro lado, um sinal de alerta continuou, pois a baixa nos preços impactava, principalmente, o setor de transportes devido à queda dos combustíveis. Na outra ponta, o resultado não chegava às prateleiras dos supermercados, e os mais pobres sentiam que os itens alimentícios continuavam caros.
Juros altos
Apesar de a inflação de 2022 ser menor que a do ano anterior, o indicador segue acima da meta dos 3,5% prevista pelo Banco Central. No acumulado de 12 meses até novembro de 2022, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 5,9%. Como forma de conter a alta dos preços, inclusive para 2023, a Selic (taxa de juros do Brasil) segue alta, 13,75%.
Crescimento econômico
Mesmo com os desafios inflacionários e alta dos juros, a economia brasileira apresentou melhora no ano em que as previsões não eram boas. Inclusive, bancos previam um Produto Interno Bruto (PIB) negativo de 0,5% em 2022, o que não aconteceu. No terceiro trimestre, o indicador cresceu 0,4%.
O acumulado do ano foi de 3,2% em relação ao mesmo período de 2021. Em valores correntes, no terceiro trimestre de 2022, o PIB brasileiro totalizou R$ 2,544 trilhões, dos quais R$ 2,202 trilhões são referentes ao Valor Adicionado (VA) a preços básicos e R$ 342,1 bilhões aos Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios.
PEC da transição
Após o resultado das eleições, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), começou a desenhar a composição da equipe econômica e a articular verbas necessárias para cumprir promessas de campanha. Uma delas foi o pagamento de R$ 600 do Bolsa Família com o acréscimo de R$ 150 por criança de até seis anos.
Para bancar o benefício, aliados de Lula articularam uma proposta de emenda constitucional (PEC) para liberar R$ 145 bilhões fora do teto de gastos, com validade de um ano, para bancar programas sociais.
No dia 21 de dezembro, o texto foi aprovado na Câmara no segundo turno. O Senado aprovou as alterações da Casa anterior. Em 22 de dezembro, o Congresso Nacional promulgou a emenda. Entre quem discutiu a pauta, está Fernando Haddad (PT), anunciado pelo presidente eleito como ministro da Fazenda.