O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta quinta-feira, 19, que a ideia de um "ataque especulativo" contra o real como movimento coordenado não explica bem a situação do câmbio neste momento. Ele estava ao lado do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto - que deixará o cargo no fim deste mês. O atual chefe do BC disse o banco tem um nível elevado de reservas e vai atuar, se for necessário. Os dois, com outros diretores da instituição, concederam entrevista para comentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do BC.
Ontem, após cinco dias consecutivos de alta, a moeda fechou a R$ 6,12, recuo de 2,27%.
Para Galípolo, "não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, vamos dizer assim, como se fosse uma coisa só, que está coordenada, andando em um único sentido". "Basta a gente entender que o mercado funciona, geralmente, com posições contrárias", disse ele.
"Para existir um mercado, precisa existir alguém comprando e alguém vendendo. Então, toda vez que o preço de algum ativo se mobiliza em alguma direção, você tem vencedores e perdedores. Acho que a ideia de ataque especulativo enquanto algo coordenado não representa bem."
Ainda segundo ele, não há rotina de dar ciência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o que o BC pretende ou vai fazer. "Nem do ponto de vista legal, e ele jamais chegou perto de discutir comigo sobre o que o Banco Central vai fazer em qualquer tipo de reunião", afirmou.
Campos Neto
Em sua última aparição pública como presidente do BC, Campos Neto repetiu que o câmbio é flutuante no Brasil e que a instituição apenas deve agir quando enxergar disfuncionalidade no mercado financeiro, seja no fluxo, por alguma operação pontual ou alguma saída, seja extraordinária ou por algum fator do mercado.
Ele relatou que houve agora essa percepção, de que o fluxo financeiro começou a registrar uma saída maior do que a média dos últimos anos, incluindo pessoas físicas, e com pagamentos de dividendos acima da média. "O fluxo de dólares está bastante negativo".
Ele aproveitou o momento para dizer que as intervenções da autoridade monetária no câmbio não têm ligação com a questão da chamada dominância fiscal (quando a política monetária perde a capacidade de reduzir a inflação). Ele enfatizou que o mercado não se resume à Faria Lima (o centro financeiro de São Paulo) e que há procura por hedge. "A gente, de nenhuma forma, acha que isso é dominância", disse.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.