O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em segundo dia de participação na COP27 (27ª Conferência do Clima das Nações Unidas) no Egito, afirmou que antes de priorizar responsabilidade fiscal é necessário pensar em responsabilidade social. Segundo ele, o modelo atual "tenta desmontar tudo o que é da área social".
“Você tenta desmontar tudo aquilo que faz parte do social e não tira um centavo do sistema financeiro”, disse. “Se eu falar isso, vai cair a bolsa, o dólar vai aumentar? Paciência. O dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores que vivem especulando todo santo dia”, destacou.
O presidente eleito se refereiu à reação do mercado após sua primeira visita ao CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), em Brasília, onde funciona a transição de governo, no dia 10 de novembro. Na ocasião, disse que que a questão social deve ser colocada à frente de temas que interessam ao mercado, o que fez o Ibovespa cair 2,58% naquele dia.
Lula discursou nesatem evento organizado pelo Brazil Climate Action Hub, grupo criado por organizações da sociedade civil para discutir ações climáticas durante o evento internacional.
Teto de Gastos
A declaração de Lula acontece também em meio à articulação com o Congresso Nacional para aprovação de uma proposta que, entre outros pontos, autoriza as despesas do Auxílio Brasil (Bolsa Família) a ficarem fora do teto de gastos.
A equipe de transição argumenta que a medida é necessária para manter o benefício em R$ 600 mensais e conceder mais R$ 150 por criança de até 6 anos.
"Eu fui fazer um discurso para os deputados e eu fazia o discurso que eu dizia na campanha, sabe? Que não adianta falar em responsabilidade fiscal, a gente tem que começar a pensar em responsabilidade social", disse nesta quinta o presidente eleito.
O rompimento da regra fiscal do Teto de Gastos estava no discurso de todos os principais candidatos à presidência da República durante a campanha eleitoral, já que ambos prometiam pagamento do Auxílio Brasil em 2023, o que não estava previsto no Orçamento enviado pelo atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), ao Congresso Nacional.
“O que é o teto de gastos? Se fosse para discutir que não vamos pagar a quantidade de juros do sistema financeiro que pagamos todo ano, mas mantivéssemos os benefícios, tudo bem. Mas não, tudo o que acontece é tirar dinheiro da educação, da cultura. Tentam desmontar tudo aquilo que é da área social”, disse Lula.
Na quarta (16), o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin afirmou que o governo Lula não será "gastador", mas que é preciso garantir a rede de proteção social das famílias mais pobres.
Governança global pelo clima
Ainda no pronunciamento desta quinta-feira, Lula voltou a defender que haja uma governança global para o cumprimento de decisões relacionadas ao clima. Ele falou sobre o assunto em seu primeiro discurso na COP27.
Para o presidente eleito, os fóruns da ONU (Organização das Nações Unidas) "não podem continuar sendo discussões teóricas intermináveis".
"Às vezes, tenho impressão de que as decisões precisam ser cumpridas se a gente tiver um órgão de governança global que possa decidir o que fazer porque, se depender das discussões internas do Estado nacional, no Congresso Nacional, muitas coisas aprovadas sobre o clima não serão colocadas em prática", declarou.
Lula acrescentou que "muitas vezes" o dinheiro prometido pelos países para ações climáticas "não sai".
"Cem bilhões de dólares foram prometidos em 2009, [na cúpula] em Copenhage e, sinceramente, as pessoas parecem que esquecem. [...] A dívida precisa começar a ser paga se a gente quiser criar as condições para os países que têm floresta, que ainda têm muita água potável, que têm, ainda, uma grande fauna. Ou seja, que esses países sejam recompensados para que eles possam cuidar daquilo [meio ambiente] com o carinho que a humanidade precisa e necessita", acrescentou.
No Egito, Lula estava acompanhado do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), da futura primeira-dama, Rosângela da Silva, e do ex-chanceler Antônio Patriota, que atualmente comanda a missão diplomática brasileira.
A agenda desta quinta do presidente eleito prevê encontros com o ministro do Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide, e com a ministra das Relações exteriores da Alemanha, Annelena Baerbock.
Lula também participará de um encontro com povos indígenas e originários, além de uma reunião com o secretário-geral da ONU, António Guterres.