Depois de abrir o primeiro pregão do ano em alta, o dólar perdeu força e fechou em baixa ante o real, mas perto da estabilidade. O pano de fundo ainda é de receios com a situação fiscal doméstica e o ambiente externo desfavorável ao real. Apesar disso, a ausência de notícias relevantes o suficiente para reforçar ou amenizar estas preocupações e o volume reduzido de negócios inibiram apostas mais firmes dos investidores em uma direção específica para o câmbio e abriram espaço para uma pequena correção.
O dólar à vista caiu 0,29%, para R$ 6,1625, perto da mínima intradia (R$ 6,1517) e bem afastado da máxima da sessão (R$ 6,2267). O contrato futuro do dólar para fevereiro recuava 0,31%, a R$ 6,1855, mas durante o pregão oscilou entre R$ 6,1785 e R$ 6,2605. O volume de negócios foi de aproximadamente US$ 12,4 bilhões, abaixo da média de dezembro, de US$ 17 bilhões.
Pela manhã, o dólar chegou a subir ante o real, reagindo a dados que aumentaram a preocupação em torno do crescimento econômico da China.
A desaceleração econômica do país, porém, já havia sido incorporada ao cenário do mercado, assim como outros fatores capazes de prejudicar o superávit comercial brasileiro - como a possibilidade de políticas comerciais protecionistas nos Estados Unidos -, o que diminuiu o peso destes dados no decorrer do pregão, segundo Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital.
Assim como outros analistas, ele acredita que a questão fiscal e as dúvidas a respeito de como se dará o processo de ajuste nas contas públicas terão mais peso sobre a direção do câmbio no curto prazo, principalmente por causa do cerco do Judiciário e do Executivo às emendas parlamentares e aos efeitos disso sobre a receptividade do Congresso a propostas de austeridade nos gastos.
"Existe preocupação de que novas medidas terão uma dificuldade muito maior agora de passar em função desse entrave, então a questão principal é o fiscal. Há alguns momentos de alívio um pouco maior, mas dá para concluir que seria um descompasso em relação ao cenário macro. A gente não imagina que este ano o dólar vá se valorizar mais de 25% como no ano passado, mas trabalha com dólar mais perto de R$ 6,25. Se tivermos notícias positivas, pode ser que vá abaixo disso", afirmou.
Carlos Thadeu Gonçalves, sócio e líder de produtos na KAT Investimentos, ressaltou que a avaliação dos investidores sobre o quadro fiscal terá muito peso no início de 2025, maior inclusive do que fatores externos. "A expectativa é de que se tiver algum norte do governo em relação ao fiscal mais sólido, o real pode ter valorização. Se não tiver uma postura sólida do governo, deve oscilar entre R$ 6,20 e R$ 6,25".
A queda do dólar no primeiro pregão do ano ocorreu também sem intervenções do Banco Central. O câmbio mais comportado, porém, pode ser em parte resultado das intervenções anteriores. "Pode ser um ponto psicológico. A gente tem percebido o BC atuando de forma mais forte quando o dólar chega perto de 6,20", disse Bolzan, ressaltando, no entanto, que o efeito deste tipo de medida tem sido limitado.