A autoridade monetária também acompanha a magnitude de repasse da desvalorização do câmbio para a inflação, especialmente em meio ao mercado de trabalho apertado, ele disse. Também observa com atenção o desenvolvimento do cenário externo, afirmou.
Galípolo mencionou entre os pontos de preocupação a desaceleração da China e da Europa, esta última "talvez lutando contra uma recessão". Falou, ainda, das incertezas em torno da política econômica dos Estados Unidos e da função de reação do Federal Reserve (Fed), o banco central do país.
'Trump Trade'
O diretor de Política Monetária disse que o "Trump Trade" emagreceu orçamento do Fed e que é preciso ver se se trata de um quadro que tende a se aprofundar. "A gente começa o ano imaginando que ia iniciar um ciclo de cortes por parte do Fed, se falava de oito cortes no ano, mas começa o ano com dados fortes de atividade econômica nos Estados Unidos. O Fed faz aquele recuo e diz que vai ficar mais dependente de dados, o que é natural nesses processos, e agregou mais volatilidade", comentou.
Galípolo salientou que, conforme foi passando o ano, esse processo de postergação dos cortes por parte do Fed foi produzindo uma apreciação do dólar em relação às demais moedas.
"Quando começa a chegar próximo o momento de um ciclo de cortes por parte do Fed, ele vai se sobrepondo com a eleição norte-americana e começa a discussão sobre o 'Trump Trade', a partir de uma possibilidade de vitória do Trump", relatou o diretor, acrescentando que qualquer um dos dois candidatos (a outra era Kamala Harris) não falava muito de fazer qualquer tipo de ajuste fiscal. "Esse ponto, somado ao tema da imigração, que deve aumentar o custo da mão de obra e a questão das tarifas, emagreceu significativamente o orçamento do Fed. A ver até se isso vai se aprofundar, como é que isso vai acontecer", disse, lembrando que há falas de membros importantes do Fed ao longo das próximas semanas, divulgação do payroll esta semana também e que é importante ver como isso vai impactar a elevação das taxas de juros mais longas.
Nesse cenário, conforme Galípolo, parece lógica uma dedução de como a política monetária no Brasil, que para uma economia que se revela mais dinâmica do que esperado, com desemprego na mínima da série histórica, somado a uma moeda doméstica mais desvalorizada, que isso demande uma política monetária mais contracionista, com juros mais altos por mais tempo. "Parece relativamente lógico imaginar isso e, em cima desse movimento que aconteceu ao longo do ano, o Banco Central foi migrando gradativamente de um ciclo de corte para uma pausa e o ciclo de alta de juros que nós iniciamos nas duas últimas reuniões."