Descrédito do mercado sobre pacote joga Ibovespa para baixo, apesar de NY e setor de commodity

Por Agência Estado

"Há um pessimismo completo, uma crise de credibilidade no governo e o mercado tende a perpetuar esses choques de curto prazo", pontua Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. "Foi uma reviravolta de algo que o mercado estava esperando", acrescenta, ao referir-se à "péssima" comunicação do governo ao anunciar o pacote de corte de gastos esta semana. "Não é que não foi na direção correta. Além de desnutrir algumas medidas em relação à ideia inicial, a retórica foi ruim", completa o analista da Empiricus.

Dos ativos brasileiros, o principal indicador da B3 é o que sofre menos as continuadas elevadas incertezas fiscais.

O Ibovespa só não cai mais por conta do sinal de elevação das bolsas americanas, na volta do ferido de Ação de Graças, ontem, nos EUA, e devido ao avanço de papéis de empresas exportadoras.

Hoje, o dólar voltou a subir acima dos R$ 6,00, após testar a marca na véspera, mas fechando um pouco aquém. Na máxima intradia, teve alta de mais de 2,00% e foi a R$ 6,1155, pressionando os juros futuros para cima. Desta forma, ações mais sensíveis ao ciclo econômico são destaques de baixa, diante das pressões por aumentos maiores da Selic.

Apesar do pregão reduzido hoje em Nova York, o que estimularia a um giro financeiro menor no Ibovespa, assim como ontem o volume parece que ficará acima da média diária dos R$ 20 bilhões.

As incertezas fiscais só aumentaram, mesmo após o detalhamento do pacote fiscal pela equipe econômica ontem. Além de especialistas considerarem que algumas medidas no programa ficaram aquém do esperado, avaliam que dificilmente a economia de R$ 70 bilhões será alcançada.

Ao mesmo tempo, dizem que o anúncio da isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil foi feito em momento inapropriado. Isso porque tende a estimular mais o consumo e consequentemente a inflação, em um cenário de dólar acima R$ 6,00 que pode levar o IPCA a ficar acima do teto da meta também em 2025.

Este cenário coloca mais pressão para que o Banco Central aumente o ritmo de alta da Selic, de meio ponto para 0,75 ponto porcentual no Comitê de Política Monetária (Copom) em dezembro. Atualmente, o juro básico está em 11,25% ao ano.

Por isso, hoje as atenções ficarão atentos ao almoço da Febraban com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central. Aliás, ontem em evento Galipolo reforçou por diversas vezes a mensagem "hawkish" da instituição. Ele reiterou que o BC segue firme no compromisso de seu mandato de perseguir a meta de inflação de 3%, fazendo o uso das ferramentas disponíveis.

Há pouco, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a taxa de desemprego ficou em 6,2% no trimestre finalizado em outubro. O dado veio igual à mediana das projeções, reforçando um mercado de trabalho ainda aquecido.

"Em contraste com os dados divulgados pelo Caged, a PNAD continua segue indicando um mercado de trabalho cada vez mais apertado, com desemprego nas mínimas históricas e avanço do salário real", pontua em nota a Terra Investimentos.

Ontem, o Ibovespa fechou em baixa de 2,40%, aos 124.610,41 pontos.

Às 11h53 desta sexta, o índice cedia 0,53%, aos 123.946,16 pontos, na mínima. Na máxima subiu 0,19% aos 124.848,27 pontos. Vale subia 1,70%, após o contrato mais negociado do minério de ferro no mercado futuro da Dalian Commodity Exchange, para janeiro de 2025, fechar em alta de 1,14%. Minerva liderava os ganhos, com 4,96%, e MRV, as baixas (-6,04%).

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