A Prefeitura do Rio publica o decreto que proíbe o uso de celulares e outros dispositivos tecnológicos em todo o ambiente escolar, inclusive durante os intervalos. A medida também vale no caso de trabalhos individuais ou em grupo, mesmo fora da sala de aula.
O equipamentos devem ser guardados na mochila ou na bolsa do próprio aluno, desligado ou em modo silencioso.
A medida ocorre após um mês de consulta pública. Das 10 mil contribuições enviadas pela população, 83% foram favoráveis à proibição dos aparelhos durante todo o horário escolar, 11% foram parcialmente favoráveis e 6%, contrárias.
O secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, conta que muitos professores têm notado sinais de ansiedade entre os alunos devido à exposição excessiva às telas.
A gente está vivendo uma verdadeira epidemia de distrações. A gente tem notado diferentes casos de crianças que estão muito ansiosas e até depressivas, porque não conseguem desgrudar da tela de um celular. Isso é muito sério. A gente não pode achar que isso é algo normal.
O pediatra Daniel Becker ressalta que os celulares no ambiente escolar dificultam a concentração dos estudantes.
O celular transtorna a possibilidade de aprendizado. Ele destrói e fragmenta a atenção. Ele é muito atraente. Ele vicia a criança. Então, a criança vai ficar com um desejo irresistível de ficar vendo o celular, ficar vendo vídeo, às vezes embaixo da carteira...
A juíza da Vara da Infância e da Juventude da capital Vanessa Cavalieri, que estuda o assunto, afirma que o uso dos celulares atrapalha o relacionamento entre os alunos e ainda favorece os casos de bullying.
Numa escola onde o celular tem o uso liberado, os alunos não convivem mais um com o outro e convivem através de um objeto, que é o celular. Isso faz com que se perca a sensação de pertencimento e a empatia. Diminui o desenvolvimento de habilidades socioemocionais nos alunos e favorece o bullying, o ambiente com falta de urbanidade, falta de respeito uns com os outros.
No ano passado, a Prefeitura já havia proibido o uso do celular, mas apenas dentro de sala de aula. O município alega que a decisão foi tomada com base em diversos estudos, como um desenvolvido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, responsável pelo Programa de Avaliação Internacional de Estudantes, o Pisa, em que 45% dos alunos relataram nervosismo ou ansiedade se os telefones não estivessem por perto e dois terços se sentiram distraídos pelos dispositivos em algumas aulas.
O primeiro mês de aulas, que começam na segunda-feira (5), será um período de conscientização partir de março, caso algum estudante descumpra a determinação, o professor poderá advertir o aluno ou impedir o acesso ao dispositivo, bem como acionar a equipe gestora da unidade.
Mas a professora Sheila Colin lembra que, em alguns casos, estudantes reagem com violência ao pedido dos educadores.
Sempre proibi o uso do celular, até que começou a confusão da gente tomar o celular, mandar o menino guardar e ele agir com desrespeito e falar que não vai guardar, né? E a própria agressão física, que todos estamos sujeitos, porque hoje tá complicado, né?
As exceções para o uso do celular são antes do início da primeira aula ou após o fim da última aula do dia, desde que fora da sala de aula, para que o aluno possa se comunicar com os responsáveis. Os aparelhos também serão autorizados para fins pedagógicos com autorização do professor e para os alunos com deficiência ou condições de saúde que exijam os dispositivos para monitoramento ou auxílio.