Apesar de ser alvo de investigações das autoridades, a venda de animais silvestres em grupos de conversas ainda persiste no Rio de Janeiro. Macacos-prego são anunciados ainda filhotes e com fraldas. Os preços chegam a R$ 4.500.
A denúncia é de um ouvinte da BandNews FM, que participa de um grupo em um aplicativo de mensagens de compra e venda de mercadorias na capital fluminense.
Ciente da ilegalidade, o criminoso anuncia pelo menos dois filhotes, sem esboçar qualquer tipo de medo.
A reportagem entrou em contato com o número que anuncia os animais. O anunciante respondeu com o preço e enviou um vídeo e uma foto. Ele chegou a enviar um áudio falando da alta procura, mas garantiu que sempre tem macaco-prego disponível.
Pode ser, pode ser, mas a gente está com um cliente para ver hoje também. Qualquer coisa eu falo contigo, se eu vender, mas a gente tem sempre.
Nas imagens, o macaco-prego filhote aparece em cima de um tapete com dificuldade para se locomover. O vendedor chegou a recomendar uma fórmula infantil enriquecida com prebióticos para ajudar na alimentação do filhote com uso de mamadeira. O traficante disse que o animal seria entregue na entrada do Complexo do Alemão, na Zona Norte.
Em seguida, o homem indicou um outro contato que seria do primo dele. O parente disse que o macaco-prego poderia ser adquirido também com berço e mamadeira por mais R$ 100. A entrega seria feita em Ramos, na mesma região.
O ouvinte da BandNews FM, que fez a denúncia, afirma que a prática não acontecia antes pelo menos no grupo de conversa. O carioca, que pediu para não se identificar e teve a voz distorcida, conta que o traficante entrou há pouco tempo no grupo.
Eu participo de um grupo de compras e vendas no WhatsApp e coisas diversas, né? Nunca apareceu nada em relativo a bicho, então apareceu uma pessoa lá que eu não conheço vendendo dois filhotes de macaco prego.
Ainda na Zona Norte do Rio, outro ponto é conhecido pelo comércio ilegal de animais silvestres. Historicamente, criminosos se reúnem na Feira de Acari para vender animais silvestres. O funcionamento foi proibido pela Prefeitura do Rio, mas os ambulantes e feirantes foram liberados para atuar em uma feira livre na mesma região.
Segundo a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), cerca de 38 milhões de animais silvestres são retirados ilegalmente da natureza todos os anos no Brasil.
A Organização Social Civil de Interesse Público estima que o crime movimenta em torno de US$ 2 bilhões por ano no país. Além disso, nove a cada 10 animais traficados não resistem até chegar ao comprador ilegal.
No cenário internacional, a Renctas aponta que o tráfico de animais silvestres é a terceira maior atividade ilegal do mundo, atrás do tráfico de armas e de drogas.
O tráfico de animal silvestre pode gerar uma pena de até seis anos de reclusão, com multa. Já para quem compra a pena pode chegar a um ano.
No entanto, para a diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa, Vânia Nunes, a legislação precisa ser modificada para garantir um combate ao tráfico ilegal de animais silvestres mais efetivo.
Em nota, a Polícia Civil disse que investiga o comércio ilegal de animais silvestres, inclusive com envolvidos já identificados. Na quinta-feira (7), um estudante de medicina veterinária foi preso por tráfico de animal silvestre em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O preço da venda do animal era parecido: R$ 4 mil.
No mês passado, a instituição realizou a "Operação Garras da Lei" para cumprir mandados de busca e apreensão contra uma organização criminosa envolvida no comércio ilegal de animais silvestres, que ocorria em um grupo de aplicativo de mensagens. Quatro pessoas foram presas.
A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente acrescentou que realiza diligências constantes a fim de identificar e responsabilizar pessoas envolvidas no comércio ilegal de animais silvestres.
A Polícia Militar disse que o Comando de Polícia Ambiental (CPAm) desenvolve atividades rotineiras de fiscalização em feiras livres e verificação de denúncias oriundas do Disque-Denúncia, Linha Verde e 190, relacionadas à captura, locais de cativeiro e comercialização de animais, assim como a realização de palestras e campanhas educativas sobre o tema.
O tráfico de animal silvestre pode gerar uma pena de até seis anos de reclusão, com multa. Já para quem compra a pena pode chegar a um ano.
Procurados, a Polícia Federal e o IBAMA ainda não se posicionaram.