Traficantes anunciam venda de animais silvestres em grupos de mensagens na internet

O tráfico de animal silvestre pode gerar uma pena de até seis anos de reclusão, com multa

Por Gabriela MorgadoJoão Boueri

Traficantes anunciam venda de animais silvestres em grupos de mensagens na internet
Macacos-prego são anunciados ainda filhotes e com fraldas
Reprodução

Apesar de ser alvo de investigações das autoridades, a venda de animais silvestres em grupos de conversas ainda persiste no Rio de Janeiro. Macacos-prego são anunciados ainda filhotes e com fraldas. Os preços chegam a R$ 4.500.

A denúncia é de um ouvinte da BandNews FM, que participa de um grupo em um aplicativo de mensagens de compra e venda de mercadorias na capital fluminense.  

Ciente da ilegalidade, o criminoso anuncia pelo menos dois filhotes, sem esboçar qualquer tipo de medo.

A reportagem entrou em contato com o número que anuncia os animais. O anunciante respondeu com o preço e enviou um vídeo e uma foto. Ele chegou a enviar um áudio falando da alta procura, mas garantiu que sempre tem macaco-prego disponível.  

Pode ser, pode ser, mas a gente está com um cliente para ver hoje também. Qualquer coisa eu falo contigo, se eu vender, mas a gente tem sempre.

Nas imagens, o macaco-prego filhote aparece em cima de um tapete com dificuldade para se locomover. O vendedor chegou a recomendar uma fórmula infantil enriquecida com prebióticos para ajudar na alimentação do filhote com uso de mamadeira. O traficante disse que o animal seria entregue na entrada do Complexo do Alemão, na Zona Norte.  

Em seguida, o homem indicou um outro contato que seria do primo dele. O parente disse que o macaco-prego poderia ser adquirido também com berço e mamadeira por mais R$ 100. A entrega seria feita em Ramos, na mesma região.

O ouvinte da BandNews FM, que fez a denúncia, afirma que a prática não acontecia antes pelo menos no grupo de conversa. O carioca, que pediu para não se identificar e teve a voz distorcida, conta que o traficante entrou há pouco tempo no grupo.

Eu participo de um grupo de compras e vendas no WhatsApp e coisas diversas, né? Nunca apareceu nada em relativo a bicho, então apareceu uma pessoa lá que eu não conheço vendendo dois filhotes de macaco prego.

Ainda na Zona Norte do Rio, outro ponto é conhecido pelo comércio ilegal de animais silvestres. Historicamente, criminosos se reúnem na Feira de Acari para vender animais silvestres. O funcionamento foi proibido pela Prefeitura do Rio, mas os ambulantes e feirantes foram liberados para atuar em uma feira livre na mesma região.

Segundo a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), cerca de 38 milhões de animais silvestres são retirados ilegalmente da natureza todos os anos no Brasil.  

A Organização Social Civil de Interesse Público estima que o crime movimenta em torno de US$ 2 bilhões por ano no país. Além disso, nove a cada 10 animais traficados não resistem até chegar ao comprador ilegal.

No cenário internacional, a Renctas aponta que o tráfico de animais silvestres é a terceira maior atividade ilegal do mundo, atrás do tráfico de armas e de drogas.

O tráfico de animal silvestre pode gerar uma pena de até seis anos de reclusão, com multa. Já para quem compra a pena pode chegar a um ano.

No entanto, para a diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa, Vânia Nunes, a legislação precisa ser modificada para garantir um combate ao tráfico ilegal de animais silvestres mais efetivo.  

Em nota, a Polícia Civil disse que investiga o comércio ilegal de animais silvestres, inclusive com envolvidos já identificados. Na quinta-feira (7), um estudante de medicina veterinária foi preso por tráfico de animal silvestre em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O preço da venda do animal era parecido: R$ 4 mil.  

No mês passado, a instituição realizou a "Operação Garras da Lei" para cumprir mandados de busca e apreensão contra uma organização criminosa envolvida no comércio ilegal de animais silvestres, que ocorria em um grupo de aplicativo de mensagens. Quatro pessoas foram presas.

A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente acrescentou que realiza diligências constantes a fim de identificar e responsabilizar pessoas envolvidas no comércio ilegal de animais silvestres.

A Polícia Militar disse que o Comando de Polícia Ambiental (CPAm) desenvolve atividades rotineiras de fiscalização em feiras livres e verificação de denúncias oriundas do Disque-Denúncia, Linha Verde e 190, relacionadas à captura, locais de cativeiro e comercialização de animais, assim como a realização de palestras e campanhas educativas sobre o tema.

O tráfico de animal silvestre pode gerar uma pena de até seis anos de reclusão, com multa. Já para quem compra a pena pode chegar a um ano.

Procurados, a Polícia Federal e o IBAMA ainda não se posicionaram.

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