Tour da propina: agente da PM cobre lente de câmera ao conversar com comerciante

As conversas apontam que havia diversos grupos de PMs para recolher a propina dos estabelecimentos

Por João BoueriPedro DobalÁdison Ramos

A Justiça do Rio decretou o afastamento do sigilo dos dados telefônicos dos celulares apreendidos durante a ação.
Tânia Rêgo/Agência Brasil

A gravação da câmera corporal de um agente investigado no caso do chamado "tour da propina" em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, mostra um PM cobrindo a lente do equipamento no momento em que parece conversar com um comerciante. A filmagem é da manhã do dia 20 de outubro de 2023. Na quinta-feira (07), 21 policiais militares do Batalhão de Mesquita foram presos acusados de extorsão contra estabelecimentos comerciais. Um policial segue foragido. 
 
Segundo as investigações, a obstrução da captação das imagens dos equipamentos tinha o objetivo de acobertar as práticas criminosas e dificultar a apuração dos fatos. A denúncia do Ministério Público cita diálogos de policiais militares e comerciantes. As conversas apontam que havia diversos grupos de PMs para recolher a propina dos estabelecimentos. Os policiais disputavam entre si para ver quem receberia o dinheiro. 
 
Em um trecho, um agente pede ao comerciante para que ele descreva a viatura e o policial que tinha passado momentos antes para recolher a propina. Em seguida, os PMs conversam sobre os outros policiais que também ficavam com o montante. Já em outra gravação, dois sargentos conversam sobre a manipulação da câmera corporal portátil. Um deles questiona a capacidade da Corporação de monitorar todos os equipamentos ao mesmo tempo. 
 
No dia 8 de setembro do ano passado, uma outra conversa de policiais militares mostra que um deles pede para o colega virar a câmera corporal. No mesmo mês, um comerciante chega a perguntar para um PM se o agente queria levar um engradado de cerveja e o investigado pergunta se pode ser uma marca específica. A bebida foi colocada na parte traseira da viatura. 

Cinquenta e oito mandados de busca e apreensão também foram expedidos na operação do MP com a Corregedoria da PM. A Justiça do Rio decretou o afastamento do sigilo dos dados telefônicos dos celulares apreendidos durante a ação. 
 
O Ministério Público classificou o esquema como "tour da propina" e "verdadeira caçada ao arrego". Os crimes aconteceram no segundo semestre do ano passado, sempre às sextas-feiras no período da manhã. Segundo as 54 comerciantes de Nova Iguaçu eram extorquidos semanalmente. A lista de alvos dos agentes vai de ferro velho a hortifruti. 
 
Durante as extorsões, os policiais paravam nas portas dos estabelecimentos para cobrar a propina. Em alguns casos, um PM chegava a entrar no comércio para buscar a quantia. Os investigados também levavam mercadorias, como engradados de cerveja e até frutas. 
 
Vinte e dois policiais militares respondem na Justiça por corrupção passiva, negativa de obediência e organização criminosa. A Auditoria da Justiça Militar tornou os investigados réus no processo. Os agentes vão ficar na Unidade Prisional da PM, em Niterói, na Região Metropolitana. 

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