Servidores desabafam sobre falta de segurança em ambiente de trabalho

Apenas no mês de julho, o Rio de Janeiro registrou pelo menos duas mortes por acidente de trabalho

Servidores desabafam sobre falta de segurança em ambiente de trabalho
Servidores desabafam sobre falta de segurança em ambiente de trabalho
Divulgação
Para as empresas, nós somos apenas números mesmo, porque não temos valor nenhum, não

Este é o desabafo do irmão de Tiago Miranda de Souza, eletricista de 38 anos que morreu ao cair do cesto de um caminhão enquanto trabalhava em Costa Barros, na Zona Norte do Rio. Assim como Tiago, milhares de pessoas são vítimas de acidentes de trabalho todos os anos no Brasil.

Dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, projeto desenvolvido pelo Ministério Público do Trabalho e pela Organização Internacional do Trabalho, apontam que em 10 anos, entre 2012 e 2022, foram notificados mais de seis milhões e setecentos mil casos de acidentes laborais em todo o Brasil. No próximo sábado (27), é comemorado o Dia Nacional da Prevenção de Acidentes do Trabalho, data voltada à conscientização de empregadores e funcionários sobre a adoção de cuidados para evitar ocorrências no ambiente laboral.

Para o advogado trabalhista Solon Tepedino, a falta de observação das normas de segurança é um dos principais motivos para o alto índice de acidentes.

Eu acho que, infelizmente, o trabalho informal ainda faz com que esse número cresça, porque o trabalho informal faz com que os empregadores não tenham a responsabilidade para que se crie um ambiente mais saudável para os empregados. A falta de utilização de equipamentos de proteção também é um outro aspecto que deve ser observado. E claro, existe uma parcela de falta de conscientização do próprio empregado, nessa mão dupla que a gente precisa ter de observação das normas.

Apenas no mês de julho, o Rio de Janeiro registrou pelo menos duas mortes por acidente de trabalho. O eletricista Tiago Miranda de Souza atuava no reparo de um poste quando caiu do cesto do caminhão. O caso aconteceu no dia 11. A família denuncia que equipamentos oferecidos pela companhia RioLuz podem ter contribuído com o acidente:

Problema teve, tanto que ele faleceu. O equipamento quebrou. O equipamento vai até uma posição. No meio, tem um pistão, ele quebrou e jogou (o Tiago) para o outro lado. Em vez dele descer como ele desce, não, ele quebrou e jogou ele para o outro lado, o lado que ele não deveria ir.

No dia 16, um funcionário terceirizado da Companhia Estadual de Habitação do Rio foi atingido por uma pedra enquanto trabalhava em uma obra de contenção na Rocinha, na Zona Sul da cidade. Ele também não resistiu aos ferimentos. A empresa abriu um procedimento interno para apurar o caso. Dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho mostram que, por ano, mais de 2.500 trabalhadores morrem em serviço no Brasil.  

Também em julho, um carpinteiro teve o crânio perfurado por uma estaca de madeira enquanto trabalhava como auxiliar de serviços em uma obra em Mangaratiba, na Costa Verde Fluminense. Vitor Soares do Nascimento, de 28 anos, passou 14 dias internado e recebeu alta na última quarta-feira (24). Ele não utilizava os equipamentos de proteção no momento do acidente.  

O engenheiro de segurança do trabalho e professor da pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho da Escola Politécnica da UFRJ, Justino Sanson, ressalta a importância da conscientização de empregadores e funcionários para evitar ocorrências.d

A melhor forma de reduzir o número de acidentes e as consequências nefastas desses acidentes de trabalho é a constante atualização dos profissionais, a constante conscientização da importância de seguir procedimentos e processos, a importância de utilizar os equipamentos de proteção adequados para as atividades que estão sendo desempenhadas, preparo da mão de obra e conscientização das pessoas da importância que nós temos para a nossa própria segurança, nossa própria saúde.

Segundo o Observatório, São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus são as cidades com mais afastamentos por acidentes do trabalho. O levantamento tem como base os registros feitos entre 2012 e 2022.

Questionada sobre a morte de Tiago Miranda de Souza, a RioLuz informou que acompanha a investigação policial. Nesta semana, a empresa notificou extrajudicialmente a concessionária Smart Luz após verificar inconsistências no cumprimento de obrigações contratuais.  

Um dos pontos levantados no documento é o mau estado de conservação da frota de caminhões utilizados. A empresa não respondeu se a notificação tem relação com o acidente de Tiago, mas disse que aguarda os esclarecimentos. A BandNews FM tenta contato com a concessionária Smart Luz. 

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