Em menos de um mês, seis assassinatos contra pessoas ligadas à política foram registrados na Baixada Fluminense. Os casos acontecem no momento em que os possíveis candidatos às eleições municipais de outubro deste ano anunciam que vão concorrer.
Como aconteceu em anos anteriores, as forças federais de segurança pública vão atuar em território fluminense para garantir o devido processo eleitoral e que não vai haver atuação de organizações criminosas. O Tribunal Superior Eleitoral consultou o Tribunal Regional Eleitoral do Rio, que concordou com o suporte, assim como o governo do estado.
O episódio mais recente foi registrado em Duque de Caxias. No sábado (22), um funcionário da Prefeitura foi baleado ao sair de casa no bairro Amapá. Michel Laeber Estevão, de 41 anos, trabalhava na Secretaria Municipal de Transporte. Xexéu, como era conhecido, também compartilhava publicações do secretário e vereador licenciado Sandro Lelis. A Delegacia de Homicídios da Baixada investiga o caso.
Em Magé, na quinta-feira (20) da semana passada, Livercino Marcelino dos Santos foi morto em frente a um bar. Conhecido como "Lili da Kombi", de 49 anos, foi candidato ao cargo de vereador em 2012 e 2016.
Cinco dias antes, a pré-candidata à Câmara Municipal de Nova Iguaçu, Juliana Lira, de 44 anos, e o filho dela foram assassinados a tiros no município da Baixada Fluminense. Nega Juh chegou a ser homenageada pelo secretário estadual de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento, Dr. Deodalto.
No dia 11 de junho, dois jovens foram assassinados em Seropédica. Everton Nascimento Júnior, de 18 anos, e Kauã Nascimento, de 20, eram filhos da pré-candidata Shirley Marinho.
Os casos estão sendo investigados pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), que tenta identificar os autores e a motivação dos crimes.
Não é só a Baixada Fluminense que preocupa as autoridades em relação à segurança e à política. No dia 23 de maio, o vereador Juliano Melo, de Paty dos Alferes, no Sul do Estado, foi morto na porta de uma padaria. Ele levou quatro tiros na cabeça.
A escalada da violência política no Rio foi objeto de estudo do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). Noventa e quatro políticos foram assassinados no período entre 1988 e 2022, segundo o levantamento.
Segundo o Observatório de Favelas, entre julho de 2022 e junho de 2023, uma execução de pessoas ligadas à política foi registrada a cada 120 dias na região da Baixada Fluminense e da Baía de Ilha Grande. Os municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias e Magé foram as cidades com o maior índice de violência política no período. Para o professor da Universidade Federal Fluminense, André Rodrigues, o envolvimento de organizações criminosas ligadas à milícia e ao tráfico de drogas favorece o aumento dos assassinatos.
A presença de grupos criminosos, sobretudo as milícias, é determinante para esse processo, porque principalmente as milícias são grupos que têm como recorrência do seu modo de atuar a busca pela entrada na política, a disputa do poder político-eleitoral. A presença dos grupos armados acaba sendo uma ferramenta que as lideranças locais que constroem violentamente o seu poder político lançam mão no processo de articulação local.
O caso de maior repercussão recente foi o assassinato da vereadora Marielle Franco. O episódio aconteceu em março de 2018. A política voltava de um evento no Centro do Rio, quando o carro em que ela estava foi alvo de disparos no Estácio. O motorista Anderson Gomes também morreu na hora.
Um ano depois, o ex-PM Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram presos. Lessa confessou que atirou contra as vítimas. Já Élcio é acusado de ter dirigido o veículo em que os criminosos estavam. Em março de 2024, o deputado federal Chiquinho Brazão, o ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, Domingos Brazão, e o ex-chefe de Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, foram presos após colaboração premiada de Ronnie Lessa. Em maio, o policial militar Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe, e o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, conhecido como Major Ronald, também foram detidos.
O índice de violência política aumenta em anos eleitorais, principalmente quando as eleições são municipais. O índice inclui episódios de ameaça, agressão, homicídio, atentado, homicídio de familiar e atentado a familiar. A cada 100 casos de violência política no primeiro trimestre do ano no país, 23 foram vereadores, 12 eram ex-vereadores e seis tinham anunciado pré-candidatura ao cargo. Os dados são do Observatório da Violência Política e Eleitoral, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
Para o cientista político Pedro Bahia, os pré-candidatos às Câmaras Municipais ficam mais expostos pela necessidade de se fazer uma campanha política mais próxima à população.
Os vereadores de nossos relatórios, no Brasil inteiro e no Rio de Janeiro, eles costumam ser as lideranças políticas mais atingidas pela violência. E a gente sabe que, nesse ano de 2024, são eleições municipais. Então a gente tem uma oferta de vagas para vereadores, enquanto está ativo enorme de candidatos a vereador, a prefeito e a vice-prefeito, que a partir de agosto, com o início das campanhas eleitorais, eles vão estar mais expostos, inclusive fisicamente, participando de comícios e de manifestações públicas, entregando panfletos nas ruas.
O Tribunal Regional do Rio já anunciou que vai alterar 93 endereços de seções eleitorais da capital e cidades do estado para as eleições municipais de 2024. Segundo o órgão, as áreas estariam sob influência do crime organizado. Na capital fluminense, seções eleitorais no Complexo do Alemão e Complexo da Maré, na Zona Norte, estão entre as áreas que devem sofrer alterações.
De acordo com uma lei federal publicada em 2021, a violência política é crime contra o Estado Democrático de Direito.