Após o secretário municipal de Saúde do Rio voltar a criticar o Governo e dizer que a Secretaria estadual "passa por uma crise ética gravíssima", especialistas da área afirmam que a gestão da saúde sofre com brigas políticas.
Pelas redes sociais, Daniel Soranz disse que a oferta de procedimentos de alta complexidade, que são responsabilidade do Estado, vem sendo diminuída. Mais de 500 pacientes ocupam vagas de emergência, porque aguardam a transferência para realizar as cirurgias. Entre elas, estão procedimentos de cardiologia, hematologia, oncologia, bariátrica e cirurgia ortopédica.
Daniel Soranz afirma que a situação é dificultada pelos problemas com a Fundação Saúde, após a infecção por HIV de pacientes transplantados.
Eles estão com muita dificuldade na Fundação, tiveram que substituir todos os diretores, mudar o processo de compra. Isso tem dificultado muito a execução orçamentária e tem dificultado muito o abastecimento das unidades estaduais.
Atualmente, o estado do Rio é a quarta unidade da Federação com menor número de cirurgias em unidades estaduais, em relação ao número de habitantes. Até setembro, foram 149.561.
O secretário Daniel Soranz afirma ainda que, além de ocuparem as emergências, os pacientes que não conseguem vagas pelo Sistema de Regulação Estadual ainda correm risco de piora do quadro de saúde.
Você vê que a produção estadual, ela é sempre significativa em alta complexidade. No estado do Rio ela não é, porque é o estado que menos investe, é o estado que menos produz. Como é o estado que menos produz, é o estado que menos arrecada do Fundo Nacional de Saúde. E isso vai prejudicando a população de todo o estado do Rio o tempo todo. Pacientes não conseguem o tratamento adequado e ficam ocupando as salas vermelhas e amarelas, mas principalmente correndo risco de vida.
No ano passado, o Rio de Janeiro foi o estado com menor investimento per capita na saúde com recursos próprios: R$ 430,73. Em comparação, o Amapá, líder do ranking, investiu R$ 1.981,94 por habitante.
Nos últimos meses, a Prefeitura afirmou que o Estado tinha uma dívida de R$ 1,1 bilhão com o Município relativa à saúde, acumulada desde 2013. Segundo Soranz, atualmente, ainda são devidos mais de R$ 900 milhões. Em setembro, o Governo se limitou a dizer que a dívida não existia.
O Estado também é alvo de uma ação do Ministério Público desse mês, que pede que a maternidade do Hospital de Clínicas Nossa Senhora da Conceição, em Três Rios, no Centro-Sul fluminense, não seja fechada. A administração prevê o fim do serviço, pela falta de repasses do Governo. No entanto, o MP alega que a unidade funciona como principal hospital geral regional, sendo a única referência hospitalar para as urgências e emergências da região Centro-Sul.
Sobre isso, a Secretaria de Estado de Saúde disse que abriu uma auditoria para avaliar a situação do hospital e tentar encontrar soluções para o problema.
Mas a especialista em Gestão de Saúde Chrystina Barros ressalta que a comunicação entre município e governo estadual precisa ser maior e que a política acaba influenciando na gestão das unidades.
A gente viu nas últimas eleções municipais que o candidato referenciado pelo Governo do Estado não emplacou. Eu não tenho dúvida nenhuma de que isso traz mais desgaste para a comunicação, a gente tem dificuldade em acessar bases de dados. E com isso a gente acaba tendo uma grande briga política, pensando em projetos políticos futuros e que atrapalham a gente na transparência, na gestão. Quem sente, sem dúvida nenhuma, é a população.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio disse que, mesmo em Regime de Recuperação Fiscal, tem mantido investimentos acima do índice mínimo constitucional de 12% e que sofre com a falta de sensibilidade do Ministério da Saúde, já que um grande número de unidades em funcionamento não recebem habilitação do Ministério. A Secretaria reconheceu que o SUS precisa avançar, mas afirmou que é preciso que cada gestor assuma os seus desafios e busque soluções integradas.
A BandNews FM aguarda posicionamento do Ministério da Saúde.