A Polícia Civil indicia o sargento da Marinha que matou um vizinho no bairro Colubandê, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Aurélio Alves Bezerra vai responder por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
O caso aconteceu na madrugada de quarta-feira (2). O acusado foi preso logo após o crime e disse, em depoimento, que confundiu o repositor Durval Teófilo Filho, de 38 anos, com um bandido.
Imagens de câmeras de segurança foram usadas pela Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo para esclarecer o caso. Nas gravações, Durval aparece caminhando na calçada próxima à entrada do condomínio onde mora enquanto mexia em uma mochila.
Quando a vítima se aproxima do carro de Aurélio, o militar dispara contra ele. Durval cai no chão e ergue os braços, mas o sargento deixa o veículo e volta a disparar contra o vizinho.
O locutor José Augusto, que trabalhava com ele em um supermercado de Niterói, acredita que o crime tenha sido motivado por racismo. Ele também se refere a Durval como alguém tranquilo, carinhoso e amado por todos.
O cara [era] gente fina, gente boa, tranquilo, calmo… Um cara amoroso, paciente, amigo de todo mundo. Como pode uma pessoa confundir um trabalhador voltando para casa, morando no mesmo condomínio, e matar o cara, dizendo que era ladrão? Racismo! Só porque o rapaz era negro.
Em depoimento, o acusado afirmou que chegava de viagem e teria se assustado ao perceber a aproximação rápida do vizinho. Ele também disse que não havia reconhecido a vítima no momento dos disparos e que, ao constatar o erro, prestou socorro imediatamente. Durval chegou a ser levado para o Hospital Estadual Alberto Torres, também em São Gonçalo, mas não resistiu.
O procurador da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Rodrigo Mondego, critica a tentativa de culpar a vítima pelo crime.
Na avaliação do advogado criminalista Luan Palmeira, o crime pode ter sido motivado por racismo estrutural.
Do ponto de vista jurídico e legal, é impossível chegar à conclusão de que houve o cometimento do crime de racismo, o que não significa dizer que isso não é fruto do racismo estrutural do qual padece a nossa sociedade, em que o estereótipo do negro, pobre e favelado é associado à figura criminosa de maneira indistinta.
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