A Prefeitura do Rio sanciona uma lei instituindo a Campanha Municipal de Conscientização e Combate ao Consumo de Cigarro Eletrônico na cidade. A norma prevê a realização de eventos, palestras, seminários e debates referentes aos malefícios causados pelo uso de cigarros eletrônicos e derivados.

A comercialização, importação e propaganda de cigarros eletrônicos são proibidas no Brasil desde 2009. Uma resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa de 2024, ainda reforça a proibição do uso destes equipamentos em ambientes fechados, sejam eles públicos ou privados.

Apesar disso, o uso dos chamados 'vapes' já virou hábito para uma parcela da população. Uma pesquisa realizada pelo instituto Ipec aponta que entre 2018 e 2024, o número de fumantes de cigarro eletrônico saltou de cerca de 500 mil para quase dois milhões e novecentos mil na população com idade de 18 a 64 anos.

A prática que virou uma febre também atinge os mais jovens. De acordo com a última Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, em 2019, 16,8% dos estudantes de 13 a 17 anos já haviam experimentado o 'vape'. Segundo o Ministério da Saúde, crianças e adolescentes que usam o dispositivo têm pelo menos duas vezes mais probabilidade de fumar cigarros mais tarde na vida.

No entanto, a pneumologista Andréa Sette explica que o uso constante de 'vape' pode levar a dependência e danos à saúde que ainda não são totalmente conhecidos.

Ele vem sendo divulgado, principalmente para um público jovem, com apelo de ser recreativo e como se não tivesse dano. Para ele causar a dependência, ele precisa ter uma substância chamada nicotina, assim como cigarro convencional. Só que a nicotina aqui é uma nicotina líquida, que ela é diluída e ela é ligada a um vaporizador, e por isso você vê aquela fumaça. Além disso, eles possuem diversas substâncias derivadas de metais pesados, como alumínio, níquel, ferro, na composição do vapor do cigarro eletrônico. E a gente ainda não tem a dimensão de tudo que esse cigarro eletrônico pode causar e pode provocar em relação a danos à saúde, porque é um dispositivo relativamente novo.

O estudante Caio Falcão começou a usar o 'vape' ainda adolescente, por influência de amigos. Ele diz que está tentando para com o hábito.

Conforme você vai se acostumando, o seu corpo vai pedindo mais e ali você começa a aumentar a quantidade de vezes que você usa até se tornar algo rotineiro. E foi nesse momento que eu percebi que realmente eu estava viciado, que em momentos que normalmente eu nunca pensaria nisso, eu estava pensando em fumar. E quando eu não tinha, eu ficava estressado. O momento que eu percebi que realmente estava me fazendo mal foi pelas tosse espontâneas que eu tinha. A tosse é do nada, você tem que pensar em como faz mal (usar cigarro eletrônico) e ter uma força de vontade para parar.

Para a especialista da Divisão de Controle do Tabagismo, do Instituto Nacional do Câncer, Aline Mesquita, capacitar o jovem para conscientizar outros jovens pode ser eficiente.

É usar o jovem para falar com o jovem. Então, a sociedade científica instrumentalizar as pessoas jovens, grupos de jovens e comunicadores jovens para falar com os pares, que isso tem se mostrado uma forma bastante efetiva de atingir a população de adolescentes e jovens que infelizmente são os que mais usam esse tipo de produto e são os que estão numa situação de maior vulnerabilidade em relação à iniciação do tabagismo.

Em 2024, a Receita Federal apreendeu cerca de dois milhões de cigarros eletrônicos. O órgão também determinou a suspensão do CNPJ de estabelecimentos em que seja constatada a comercialização, exposição e armazenamento de 'vapes'.