As drogas encontradas na Escola Municipal Lino Martins da Silva, no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, estavam escondidas dentro de vãos em paredes. Oitocentos e vinte quilos de entorpecentes foram encontrados por policiais militares na Favela da Nova Holanda.  

Além da escola, os PMs também afirmam que apreenderam o material entre as vigas do telhado da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva. No entanto, a Secretaria Municipal de Saúde disse que as drogas apreendidas pela Polícia Militar não estavam dentro das instalações da clínica da família e que a unidade fica em um terreno compartilhado por outros imóveis com características semelhantes e acesso à área externa por qualquer pessoa.

A ação aconteceu durante o 11º dia de operação no Complexo da Maré, na quinta-feira (29). Ninguém foi preso.  

Segundo as investigações, os locais de esconderijo das drogas foram escolhidos pelos criminosos para ter acesso rápido às partes externas dos espaços. Os policiais apreenderam as drogas a partir da atuação de dois cães da PM que identificaram os esconderijos.  

Em outra região da Zona Norte do Rio, no Complexo do Alemão, criminosos fizeram buracos na parede de uma sala de aula do Ciep Mastro Francisco Mignone, para monitorar a presença da polícia no conjunto de favelas. Um dos buracos permite a visualização de uma das ruas da comunidade.

A psicopedagoga Mariana Freitas alerta as consequências emocionais aos estudantes.  

Esse emocional dessa criança fica muito abalado, ele tem uma sensação de medo, de insegurança, ansiedade num local onde ele deveria estar se sentindo seguro. Então a gente precisa estar cuidando dessa questão psicológica, emocional dessa criança para que ela possa tentar, de alguma forma, minimizar esses males que a sociedade causa e que eles não tem culpa, eles só estão ali para aprender.

Para o professor da UFF Daniel Hirata, as autoridades de segurança pública devem se preocupar com a apreensão de drogas em escolas, apesar dele considerar que o esconderijo em unidades de ensino não é um padrão das organizações criminosas.  

É uma situação que me parece que não é um padrão de esconderijo dessas drogas no Rio de Janeiro, mas deve ser vista com atenção porque essas unidades elas devem ser protegidas, é realmente um absurdo que nós não tenhamos a devida proteção para que as unidades educacionais e de prestação de serviços de saúde sejam utilizadas ainda que de forma ocasional para o armazenamento de drogas.

Nesta sexta-feira (30), 24 das 46 escolas municipais que ficam no Complexo da Maré não funcionaram em decorrência da operação conjunta das polícias Civil e Militar com a Secretaria Municipal de Ordem Pública para demolir construções irregulares do tráfico de drogas na Maré. Ao todo, já foram descaracterizados 32 prédios, com mais de 162 apartamentos e cerca de quatro toneladas de drogas foram apreendidas. Três imóveis já foram completamente demolidos.  

Na rede estadual, 1.424 alunos foram afetados pelo fechamento de duas escolas nesta sexta-feira (30). Os conteúdos pedagógicos perdidos serão repostos para evitar prejuízos aos alunos.

No entanto, na quinta-feira (29), as aulas não foram suspensas na rede municipal. Segundo o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (SEPE), a Polícia Militar entrou nas escolas no início do horário letivo pela manhã. Os professores teriam suspendido as atividades. O SEPE estuda medidas jurídicas para garantir a vida dos profissionais de educação e da comunidade escolar das favelas do Complexo da Maré.  

É a segunda vez na semana que drogas são encontradas escondidas dentro de uma escola no Complexo da Maré.  

No domingo (25), a Polícia apreendeu cerca de uma tonelada de maconha na Escola Municipal Maria Amélia Castro Belford, também na Nova Holanda. Em 11 dias de operação conjunta, quatro toneladas de drogas já foram apreendidas no Complexo da Maré.  

Segundo a Polícia Militar, entre 2022 e o primeiro semestre de 2023, 522 operações policiais foram realizadas na capital fluminense em horário escolar. Já os dados da Polícia Civil apontam que houve 121 operações no interior de comunidades no mesmo período e no horário de aulas.  

O Ministério da Educação propôs a criação de um grupo de trabalho para discutir os impactos de operações policiais sobre a educação. O Ministério Público Federal questionou a pasta sobre o tema.  

A Secretaria Municipal de Educação lamentou e classificou como "absurda" a atitude dos criminosos de esconder drogas em escolas.