Polícia, Defesa Civil e Águas do Rio investigam causa do rompimento de adutora

O caso aconteceu em Rocha Miranda na madrugada desta terça-feira (26)

Por Gabriela MorgadoJúlia Zanon (sob supervisão)

A normalização do abastecimento só deve acontecer no sábado (30)
Reprodução

A tubulação que rompeu em Rocha Miranda, na Zona Norte do Rio, e causou a morte de uma idosa, já tinha arrebentado pelo menos outras duas vezes nos últimos 20 anos. 
 
A adutora se rompeu na madrugada desta terça-feira (26), na Rua das Opalas. Câmeras de segurança de um estabelecimento flagraram o momento em que água tomou a rua e ainda arrastou um táxi. 
 
A pressão destruiu a casa de Marilene Rodrigues, de 79 anos, que iria completar 80 no mês que vem. Segundo a família, três cômodos foram atingidos, incluindo a garagem, onde ficava o carro do genro da idosa. Demétrius Serafim mora ao lado e contou que os móveis e o carro foram arrastados até o quarto de Marilene, que não resistiu. 

Eu desci para ajudar, mas a pressão da água era muito forte. Esse portão aqui estava travado, o de garagem caiu, e eu fiquei ali tentando ajudar. A gente não conseguia passar, porque aqui era uma pressão da água muito forte. Como a pressão da água foi muito forte, o meu carro foi e empurrou, quebrou uma parede do quarto e quebrou uma parede da sala, e esse quarto era o dela. O único cômodo que ficou inteiro foi o banheiro.


Uma amiga de Marilene, Suelen Belo, morava com ela. A mulher chegou a ficar presa nos escombros, mas foi resgatada e atendida no local. 
 
Ainda de acordo com os familiares, a mesma situação aconteceu há 20 anos e, novamente, há cerca de 15 anos. 
 
A filha de Marilene, Monique Cristina, desabafa. 

A minha vida acabou, minha mãe era forte, não tinha doença, não tinha nada. Morrer por causa disso aí, por causa de água... Eu não sei como é que vai ser. Agora eu vou lutar por justiça, pela minha mãe. Em vida eu sempre cuidei. Em morte, eu vou cuidar sim. Foi negligência isso aí.


 A casa de Marilene e um imóvel que fica atrás foram interditados pela Defesa Civil. 
 
O diretor institucional da Águas do Rio, Sinval Andrade, afirmou que as tubulações do Rio de Janeiro são antigas, e que a concessionária está tentando modernizar os sistemas gradualmente. 

A gente tem uma rede de idade variada aqui no Rio de Janeiro, uma cidade histórica. Existem redes que foram feitas na época do Império ainda. Existe uma deficiência de manutenção histórica. Por isso foi feita a concessão, para que pudesse haver novos investimentos. E a gente está fazendo um planejamento de melhoria do sistema. A gente não pode parar de maneira absoluta o fornecimento por um período de 30, 40 dias, então a gente tem que tentar soluções que garantam interrupções menores. A gente tem que garantir o abastecimento de água em todos os locais.


A adutora é a segunda do Sistema Ribeirão das Lajes e atende três cidades da Baixada Fluminense e parte da capital, incluindo áreas da Zona Sul, do Centro e da Zona Norte. Segundo a Cedae, o sistema opera com 64% da capacidade a pedido da Águas do Rio, para o reparo. 
 
A normalização do abastecimento só deve acontecer no sábado (30). Ainda de acordo com a Águas do Rio, o reparo da adutora deve durar 24 horas. 
 
A concessionária ainda não sabe o que causou o rompimento. Uma perícia também foi feita no local pela Polícia Civil, que investiga o caso. 
 
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio também acompanha o caso. 
 
A enfermeira Emanuella Cardoso, que também teve o carro atingido, mora no cruzamento da Rua Opalas com a Rua dos Rubis, que atravessa um curso d'água, o Rio das Pedras. Uma tubulação também passa no quintal dela. Segundo Emanuella, o cano está enferrujado e com vazamentos constantes. 
 

Alguns anos atrás começou a vazar. A gente pede sempre para o pessoal da Cedae e da Águas do Rio para vir aqui, a gente pede pra mexerem, mas eles não fazem nada, não tomam nenhuma atitude. Fica gotejando o tempo todo, cano enferrujado, e a gente fica sempre com medo, né? De qualquer hora estourar, porque a casa vai toda abaixo se estourar. A gente está super preocupada. A vontade que a gente tem é de se mudar e largar tudo, porque qualquer hora pode acontecer a fatalidade que aconteceu ali na outra rua. A gente ouviu um barulho estranho, aí a minha sogra ficou muito assustada. Ela que chamou, que eu estava dormindo. E aí foi quando eu olhei ali, meu carro está ali na frente e o carro já estava cheio de água.


Na segunda (25), a Águas do Rio teve que realizar manutenção em outra adutora em uma rua próxima, Fausto Cardoso, por causa de um vazamento. 
 
O empresário Marcelo Gomes foi um dos atingidos. 

A gente tá sem água, roupa, comida. Não deram água potável pra ninguém. A gente tá comprando água potável do nosso dinheiro. Cadê alguém aqui da assistência social pra ver aqui do meu lado e falar que vai comprar água potável?

Ainda na segunda-feira, a Águas do Rio informou que o fornecimento seria retomado de forma gradativa. A BandNews aguarda posicionamento sobre a falta de caminhão-pipa. Os moradores atingidos nesta terça foram cadastrados para assistência e indenização. Pelo menos um caminhão-pipa chegou a ser enviado ao local. 
 
Em nota, a Águas do Rio disse ainda que se solidariza com a família de Marilene e que equipes oferecem o suporte para as famílias impactadas. 
 
O rompimento da adutora aconteceu no mesmo dia de uma manutenção programada no Sistema Guandu, que também afetou o abastecimento de parte da população do estado. No entanto, os dois sistemas não têm relação, e a distribuição para a população atendida pelo Guandu não é impactada pelo rompimento da adutora. 

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