A Polícia Civil não descarta nenhuma linha de investigação sobre o caso da mulher que foi informada que teria gêmeos, mas na verdade estava grávida de apenas um bebê.
Durante o pré-natal, Kathelen Brenda Nunes realizou, pelo menos, dois exames de ultrassom. Um deles foi feito em dezembro do ano passado em uma Clínica da Família, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, enquanto o outro foi realizado em uma clínica particular. Ambos apontaram a gravidez gemelar, quando dois bebês são gerados ao mesmo tempo.
No dia 26 de março, Kathelen fez um novo exame para avaliar o bem-estar do feto no Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, em Bangu, na mesma região, que não apontou qualquer anormalidade. Três dias depois, na última sexta-feira (29), ela voltou à unidade para fazer a cesariana, mas deu à luz para somente uma criança.
Kathelen, que já é mãe de outras duas meninas gêmeas, conta que a gestação foi parecida com a que gerou suas primeiras filhas, mas que neste parto, sentiu que a anestesia a deixou mais sonolenta do que na primeira vez. Ela ainda tem dúvidas sobre o que aconteceu.
Muito parecido em tudo. A única coisa que eu achei diferente foi essa anestesia, porque eu me lembro das gêmeas que eu tomei, assim, e acabou. Aí essa não, parecia que ele estava aplicando de um lado e do outro. E eu dormi muito, muito mesmo. Na outra eu ouvi tudo. Eu ouvi choro. (Agora) eu não escutava choro de nada, nem nada assim. Não assisti praticamente nada. Não ouvia. Antes de ir para a sala do parto, separei duas mantas, macacão, tudo em dois assim. Quando eu cheguei na sala, já estavam as roupinhas naquele bercinho que bota, tudo já preparado para dois bebês. Ainda tenho muita dúvida.
Um dia após o parto, Kathelen procurou a delegacia para relatar o caso. Segundo o delegado Alexandre Netto, ainda não é possível afirmar o que aconteceu, mas que é necessário cuidado na investigação para que nenhum médico ou profissional seja acusado erroneamente.
As informações são contraditórias, os exames são contraditórios. É por isso que é necessário analisar toda a documentação médica, toda a trajetória, toda a cronologia. Por isso que qualquer afirmação pode ser leviana, para que a gente possa realmente chegar à conclusão desse caso. A direção do hospital está sendo muito solícita, nos apresentou tudo, a diretora médica deu um depoimento muito esclarecedor. Agora a gente vai verificar toda essa documentação e principalmente as imagens que foram encaminhadas. Afinal de contas, foram imagens correspondentes a três dias, para que a gente possa dar uma resposta com exatidão do que aconteceu. Nenhuma hipótese está sendo descartada.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a paciente foi admitida no hospital com suposto diagnóstico de gestação gemelar, mas que quando foi submetida a cesariana, foi constatada a gestação única, presenciado por diversos membros da equipe de plantão.
A pasta ainda ressaltou que Kathelen só apresentava uma placenta com um único cordão umbilical, sem evidências de gestação múltipla.
A médica obstetra Andreia Montenegro diz que a morte de um dos gêmeos ainda no útero pode acontecer em 5% dos casos de gravidez gemelar, sem que haja nenhum resquício do embrião que não se desenvolveu no momento do parto.
O que provavelmente houve é que talvez tivesse uma gravidez gemelar, mas deve ter tido uma morte fetal intraútero de um dos embriões. Quando a gente tem uma morte fetal intraútero de um dos fetos, nem sempre você vai encontrar qualquer resquício dessa morte fetal intraútero já no momento do nascimento. Infelizmente, houve uma repetição de laudo na outra clínica que ela fez e aí se manteve um resultado de gestação gemelar. Esse é um exame que às vezes pode ter um falso positivo porque se pega apenas o batimento, não tem imagem. Então pode ter sido visto uma propagação do batimento desse feto único ou até o próprio batimento materno. Como ela já vinha trazendo uma história de gemelaridade, foi um erro que foi perpetuado.
A diretora do hospital em que o parto aconteceu já foi ouvida pela polícia. Outros profissionais da unidade vão prestar depoimento.