PMs denunciados pelo Ministério Público por envolvimento com milícia continuam na ativa

Na quinta-feira (26), o Coronel Marcelo Moreira Malheiros foi um dos alvos de mandados de busca e apreensão em operação

Por Gabriela Morgado

A Polícia Militar disse que está colaborando com a operação
Luis Alvarenga

A Diretoria Geral de Pessoal da Polícia Militar pede ao comando da Secretaria a substituição na escala de um dos agentes denunciados por envolvimento com a milícia na Zona Oeste da capital fluminense. Na quinta-feira (26), o Coronel Marcelo Moreira Malheiros foi um dos alvos de mandados de busca e apreensão em uma operação do Ministério Público.

Ele e outros 16 policiais militares foram denunciados.

Na tarde do mesmo dia da operação, o diretor geral de Pessoal, Coronel Paulo Roberto das Neves Junior, pediu que Marcelo Malheiros seja substituído das Escalas de Sobreaviso do Comandante Geral para os meses de setembro e outubro. A lista com cinco nomes tinha sido enviada no dia 20 de setembro.

Malheiros chegou a ser determinado para assumir o Comando de Policiamento de Área da Região Sul Fluminense e Costa Verde no início do ano, mas a nomeação foi suspensa, por causa da investigação do Ministério Público. Ele foi citado no documento que deflagrou a primeira fase da operação contra milicianos no Bateau Mouche, na Praça Seca, em abril. Na época, cinco pessoas foram presas.

Marcelo Malheiros também já foi investigado pela própria PM por suposta omissão, por descumprir ordem superior para averiguar a existência de pelo menos 18 pontos de jogo do bicho em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O inquérito foi arquivado.

Segundo a denúncia do Ministério Público que deflagrou a segunda fase da ação, Malheiros chegava a ser chamado de "pai" e "nosso líder" por milicianos, recebia presentes e pedia apoio político dos criminosos, para ascender dentro da PM. Ele tinha contato próximo com Cláudio Rodrigo Monteiro, conhecido como "Ceta", que foi preso na primeira fase da operação.

O documento também traz diálogos dos milicianos com outros agentes.

Em uma conversa por uma rede social, um criminoso pergunta para o denunciado Thiago Amaral se ele pode facilitar a venda de armas para os milicianos, já que os armamentos estariam sendo compradas no Paraguai e, por isso, estariam demorando a chegar. O PM diz que vai tentar.

Também foram descobertas mensagens de outros PMs atualizando em tempo real informações sobre operações e pedindo para que os milicianos apagassem a conversa.

Segundo a investigação, os PMs ajudavam a evitar as tentativas de invasão do Comando Vermelho no Bateau Mouche.

O especialista em Segurança e professor da UFF Daniel Hirata ressalta a importância do combate à milícia a partir de ações de inteligência.

A atuação do GAECO, do Ministério Público do Rio de Janeiro, na comunidade de Bateau Mouche é extremamente importante por duas razões. Em primeiro lugar, porque aquela é uma região conflagrada já há muitos anos e que, portanto, precisa de ações que deem cabo a essa guerra que se estabeleceu naquela região entre milicianos e traficantes. Em segundo lugar, é fundamental que essas ações tenham sido feitas a partir de investigações dirigidas a alvos específicos e que potencialmente podem ser objeto de um enfraquecimento das redes criminais naquela área. E não só atuando de forma puramente repressiva. O Estado deve agir de forma inteligente para conter o conflito armado naquela área e para, de forma mais sustentável, desmantelar as redes criminais que lá estão

Apesar disso, durante a operação desta semana, não houve mandados de prisão, apenas de busca e apreensão. Ao final da operação, foram cumpridos mais de 30 mandados. Quatro pessoas foram presas em flagrante e houve a apreensão de 28 armas e mais de R$ 67 mil, além de celulares, munições, documentos e outros objetos.

Na denúncia, o MP chegou a pedir a expulsão dos PMs da corporação. Segundo o próprio Ministério Público, o Juízo da Auditoria da Justiça Militar determinou a suspensão integral do exercício da função pública dos denunciados e a suspensão do porte de armas de fogo.

Nesta sexta-feira (27), o governador Cláudio Castro disse que não vai fazer "julgamento antecipado", antes da conclusão do caso pela Justiça.

A gente não tem acordo, nem leniência com criminoso algum, seja faccionado, seja de farda, seja de terno. Agora, da mesma forma que eu sempre falo isso, os processos têm que chegar até o final, porque eu também não pré-jugo ninguém. Se o Ministério Público fez a denúncia, agora cabe à Justiça comprovar aquilo que está falado lá. Se aquelas pessoas são culpadas, serão punidas exemplarmente e expulsas o mais rápido possível da Polícia. Se não forem, não faremos julgamento antecipado delas

A BandNews tenta contato com a defesa dos policiais citados.

A Polícia Militar disse que está colaborando com a operação do Ministério Público e que não compactua com desvios de conduta, punindo os envolvidos quando identificados e constatados os fatos, podendo resultar na exclusão dos quadros da corporação.

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