PF prende suspeito de envolvimento em assassinato de Marielle Franco

Maxwell Simões Correa é apontado como amigo de Ronnie Lessa, o policial reformado acusado de efetuar os disparos

Por Pedro Dobal

PF prende suspeito de envolvimento em assassinato de Marielle Franco
A ex-vereadora Marielle Franco
Reprodução/Bernardo Guerreiro

O ex-bombeiro preso na operação da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio que investiga o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes já participava do planejamento da ação pelo menos seis meses antes do crime.

Maxwell Simões Correa, conhecido como Suel, foi denunciado pelo MP e preso em casa no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, onde cumpria prisão domiciliar desde o início do ano em outra investigação. A Justiça do Rio determinou que ele seja transferido para um presídio de segurança máxima fora do estado, por representar risco às investigações. Até a transferência, ele deverá ficar no presídio de Bangu I.

A ação desta segunda-feira (24) ocorre após uma delação premiada do ex-policial militar Élcio Queiroz, que foi confirmada por outras provas colhidas ao longo das investigações. No depoimento, ele confessa que dirigiu o veículo usado no crime e aponta o envolvimento de Maxwell e do policial reformado Ronnie Lessa, acusado de efetuar os disparos. Ele também afirma que foi acionado para o "serviço" no mesmo dia do crime e que soube de uma tentativa frustrada de execução pelo menos três meses antes. Na ocasião, o carro era conduzido por Maxwell, que não conseguiu emparelhar o veículo com o da vítima.

O promotor Eduardo Morais afirma que as provas apontam a participação de Suel antes, durante e depois dos assassinatos. Ele ainda ajudou na vigilância e no acompanhamento da rotina da vereadora e participou da troca das placas do veículo usado no atentado.

Maxwell já havia sido condenado em 2021 a quatro anos de prisão por atrapalhar as investigações. O ex-militar é acusado de retirar as armas de um apartamento de Lessa e jogá-las no mar da Barra da Tijuca.  

Segundo o Ministério Público, Maxwell e Lessa ajudavam financeiramente a família de Élcio. O dinheiro seria oriundo de atividades típicas de milícias, como exploração de gato net e internet em áreas dominadas por organizações criminosas.

Segundo o delegado Leandro Almada, a suspeita de ligação do crime com a milícia ficou ainda mais forte após o esclarecimento da participação de Maxwell.

Sete pessoas foram alvo de mandados de busca e apreensão na capital e em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Entre elas, o irmão de Ronnie Lessa, Denis Lessa, que foi levado à Superintendência da PF, na Zona Portuária do Rio, para prestar esclarecimentos. Dois alvos são acusados de receber a arma utilizada no crime para depois se desfazer do armamento, enquanto um terceiro homem teria feito o desmanche do carro.

Um policial militar e mais um investigado são suspeitos do vazamento de uma operação deflagrada em 2019, quando Ronnie Lessa foi abordado pela Policia prestes a fugir para Angra dos Reis, na Costa Verde Fluminense. Na ocasião, Maxwell também soube da operação um dia antes e, mesmo sem ser alvo, saiu de casa.

Os agentes ainda apreenderam celulares e armas. De acordo com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, nas próximas semanas, devem ser realizadas novas operações a partir das provas coletadas nesta segunda-feira (24). Segundo Dino, as provas revelam forte vinculação dos assassinatos à milícia.

Pelas redes sociais, a ministra da Igualdade Racial e irmã de Marielle, Anielle Franco, afirmou que confia na condução da investigação pela PF e repetiu a pergunta: quem mandou matar Marielle e por quê?

As investigações apontaram que Ronnie Lessa realizou pesquisas pelo nome de Marielle e pelo suposto endereço dela dois dias antes do crime.

As provas ainda corroboraram a versão de que Ronnie foi até o local do crime no banco da frente e depois passou para o banco de trás, onde se equipou e continuou fazendo a vigilância da vítima antes do ataque. A rota de fuga foi descrita com detalhes por Élcio Queiroz, que afirmou que os dois deixaram o carro no Méier e, então, pediram um táxi. Só depois de voltarem para a Barra da Tijuca que os acusados ativaram novamente os celulares.

Segundo os investigadores, as provas revelaram contradições nos depoimentos dos acusados. Ronnie Lessa e Élcio Queiroz diziam que tinham ficado em casa e depois ido para um bar, mas a esposa de Lessa afirmou que, quando chegou em casa, não encontrou nenhum dos dois lá. 

Desde fevereiro, o caso passou a ser investigado pela PF.

Para o Ministério Público do Rio, não há dúvidas de que a atuação política de Marielle está entre as motivações do crime, mas outras possibilidades não são descartadas.

Em março, o atentado completou cinco anos. Até então, somente Ronnie Lessa e Élcio Queiroz estavam presos. As investigações apontam que Élcio dirigiu o veículo que perseguiu o carro da parlamentar para que Lessa pudesse efetuar os disparos. A arma do crime nunca foi encontrada.

No ano passado, o Supremo Tribunal Federal determinou que Élcio Queiroz e Ronnie Lessa fossem a júri popular. No entanto, a data do julgamento sequer foi definida. Ainda não se sabe quem mandou matar Marielle e qual foi a motivação da execução.

Marielle e Anderson morreram na noite do dia 14 de março de 2018, após saírem de um evento promovido pelo PSOL, partido da vereadora. O carro em que eles estavam foi alvejado por, pelo menos, treze disparos: Marielle foi assassinada com cinco tiros na cabeça e Anderson com três tiros nas costas. Somente a assessora da parlamentar, Fernanda Chaves, que também estava no carro, sobreviveu.

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