Prestes a completar seus 70 anos em outubro deste ano, a Petrobras inclui pela primeira vez na história a Diretoria de Transição Energética e Sustentabilidade em sua estrutura. À frente da pasta, Maurício Tolmasquim defende a redução da pegada de carbono da empresa e afirma que a diretoria caminha para “esverdear” a Petrobras.
Para chegar lá, Tolmasquim afirma que não pretende limitar os esforços na geração de energia eólica offshore e cita o aumento de investimentos totais da empresa para a proporção de 6% a 15% dos investimentos totais que devem estar previstos em um novo Plano Estratégico de 2024 a 2028.
“Já antecipando, sem dúvidas a geração de energia eólica, solar, a produção de hidrogênio e a captura e armazenamento de carbono são questões que devem aparecer na versão. É claro que ainda depende do aval do Conselho de Administração e da Diretoria”, afirma.
Alvo de críticas de ambientalistas e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a prospecção de petróleo na bacia da Foz do Amazonas é vista como estratégica para a empresa, como forma de financiar os planos de transição.
“A transição para os combustíveis de baixo carbono não se faz da noite para o dia. Ela leva um tempo. É fundamental você ter um ritmo de descoberta que a gente não fique sem o petróleo em quantidade suficiente para garantir o abastecimento do país. Essas novas descobertas não só para aumentar a produção de petróleo, mas para repor as reservas que estão caindo”, diz.
Ex-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa energética (EPE) e secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Tolmasquim conversou com a BandNews FM. Confira abaixo os principais destaques da entrevista.
Como se deu a transição [entre gestões da empresa] para a transição energética, já que a última gestão concentrou esforços em fontes não renováveis?
A Petrobras resolveu entrar fortemente na questão da transição energética, ou seja, se transformar numa empresa produtora de energias renováveis. Isso porque, com a questão da luta contra o aquecimento global e outras questões climáticas, cada vez mais países no mundo estão adotando políticas para reduzir a produção do consumo de combustíveis fósseis. [..] A criação da nova diretoria [de Transição Energética e Sustentabilidade] vai no sentido de viabilizar projetos de renováveis e outras tecnologias, como o hidrogênio verde e o armazenamento e captura de CO2.
Quais são as expectativas para o Novo Plano Estratégico da companhia, previsto para ser lançado no final do ano?
O novo Plano Estratégico vai trazer um aumento de investimento em baixo carbono para uma proporção de 6% a 15% dos investimentos totais da empresa. Já antecipando, sem dúvidas a geração de energia eólica, solar, a produção de hidrogênio e a captura e armazenamento de carbono são questões que devem aparecer na versão. É claro que ainda depende do aval do Conselho de Administração e da Diretoria.
Os projetos anunciados no novo PAC pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na última sexta-feira (11), ainda focaram bastante em fósseis. É possível dizer que estão alinhados com a transição?
A transição energética significa que não é do dia para a noite que o mundo irá sair do petróleo em direção aos combustíveis renováveis. Existe toda uma transição, relativamente longa. Existe uma conversão do aparelho produtivo que leva tempo. […] Enquanto isso, o mundo vai precisar consumir petróleo — cada vez menos.
A tendência da produção é ir caindo. Então, se não houver a exploração de novos campos, eventualmente, a produção pode cair mais rápido do que você consegue fazer a transição para os novos combustíveis, e aí haveria uma crise com a queda de produção de gás natural e petróleo, sem um aumento equivalente dos combustíveis renováveis. […] Então o PAC é parte relevante dos planos de crescimento econômico. Essa renda petrolífera será utilizada para financiar fontes que hoje ainda não sejam totalmente competitivas.
Qual é a expectativa da diretoria para a decisão final do Ibama?
É claro que a expectativa da empresa é sempre ter uma resposta positiva, mas cabe ao Ibama — com toda sua independência — tomar a decisão.
Há algum avanço nos estudos da Petrobras em compensação ambiental?
A compensação ambiental é algo fundamental quando você tem projetos que, de alguma forma, tenham interferências com o meio ambiente ou comunidades. É uma parte importante como condicionante. Se fará tudo que for determinado. A Petrobras é conhecida por essa atuação, ainda que não seja uma exigência.
Como a transição se insere nos planos do presidente Jean Paul Prates de “se reconectar” com os países vizinhos?
A integração energética é fundamental ao nível latino-americano. Nós somos países que têm recursos complementares [fósseis e renováveis]. Da mesma forma que a Europa se uniu, a integração latino-americana é fundamental do ponto de vista energético. […] Então nós temos conversado com os vizinhos. Estamos conversando com a Bolívia e Argentina, temos atividades com a Colômbia. Estamos tentando sinergias em torno de projetos atrativos e complementares.
Os planos da Petrobras estão alinhados com os do Ministério de Minas e Energia?
Sem dúvida temos o governo como nosso orientador maior. O nosso desafio é tentar uma sintonia entre o que o governo determina e deseja e o que os minoritários desejam. Estamos em um grande diálogo com o ministério.
Comparando as emissões em refino da Petrobras com as de grandes petroleiras ainda há certa desproporcionalidade. A Shell, por exemplo, possui maior capacidade operacional nesse sentido e despejou menos gases de efeito estufa que a empresa em 2022. Em que pé está a Petrobras frente às outras petroleiras pelo mundo?
O que diz respeito ao escopo 1 e 2 — emissões relativas às nossas atividades — nós estamos muito bem posicionados porque o grosso das emissões estão relacionadas ao setor de upstream (exploração e produção de petróleo). Nesse sentido, o Brasil emite muito menos que outros países do mundo de outras empresas. No upstream a emissão gira entorno de 18 kg a 20 kg de CO2 por barril.
A média da Petrobras e 15 kg [por barril] e dos grandes campos de Pré-sal e 10 kg [por barril]. Hoje, graças ao Pré-sal a empresa emite menos que outras petrolíferas. Então, nesse sentido estamos muito bem. […] Onde temos que avançar é no Escopo 3 — descarbonização dos nossos produtos. Estamos caminhando firmemente para “esverdear” a Petrobras no sentido de torná-la cada vez mais aderente às exigências de um mundo que está cada vez mais preocupado com as questões climáticas.