No dia da retomada às aulas no Rio, pesquisa inédita revela que alunos, matriculados em escolas localizadas em áreas de conflito, entre polícia e tráfico de drogas, perderam todo o aprendizado do ano letivo em Matemática. Em Português, o prejuízo foi de, aproximadamente, 65% do conteúdo lecionado.
A conclusão é do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, da Universidade Cândido Mendes. O levantamento foi feito no ano de 2019 e mapeou as regiões onde há confrontos.
A pesquisa, denominada Tiro no Futuro, ainda mostrou que 74% das escolas cariocas vivenciaram pelo menos 1 tiroteio em 2019. Já os colégios mais expostos à violência registraram, em média, 10 operações das forças de segurança no entorno das unidades.
Coordenadora do estudo, a socióloga Julita Lemgruber, vai além: o ambiente hostil de violência, além de gerar perda cognitiva desses estudantes, também vai provocar reflexos no poder aquisitivo dessas crianças, já na fase adulta.
Para a pesquisadora, a normalização da violência gera um discurso pronto de enfrentamento regionalizado, provocando, em última instância, reflexos nas ações de política pública de segurança.
O estudo concluiu que o déficit de aprendizagem no 5º ano resulta em uma perda financeira na vida produtiva do aluno de aproximadamente R$ 24 mil.
A pesquisa levantou dados do Fogo Cruzado. A plataforma contabilizou 4.500 tiroteios no Rio, frutos de ações policiais, gerando cerca de 570 mortos e 6660 feridos, em 2019.
A partir destas informações, o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania identificou que pouco mais de 1.100 unidades municipais de ensino fundamental do Rio que foram afetadas pela violência, o que representa 74% do total das escolas da rede.
O Supremo Tribunal Federal deu um passo para tentar frear a letalidade em favelas do Rio. Os ministros da corte máxima determinaram que o Governo do Estado elabore e envie ao STF, em até 90 dias, um plano visando a redução das mortes durante operações e o controle de violações de direitos humanos pelas forças de segurança.