A Delegacia do Consumidor, que investiga as irregularidades na emissão de dois laudos de HIV que resultaram na contaminação de seis pessoas no Rio de Janeiro, afirmou que o laboratório PCS LAB Saleme não realizou o teste complementar exigido pelo regulamento do Sistema Nacional de Transplantes. A informação consta no relatório final do inquérito, que foi encaminhado ao Ministério Público.
Segundo o delegado Wellington Pereira Vieira, a legislação foi ignorada pelos seis indiciados, já presos, que "assumiram o risco de ocorrência do resultado em relação à contaminação". O teste complementar, do tipo molecular, deveria ter sido realizado em situações nas quais o exame apresenta resultado negativo — o que foi o caso.
O relatório destaca que a alegação de falha humana não é aceitável, uma vez que ficou comprovada a responsabilidade nas irregularidades. O delegado apontou que "a empresa está diretamente envolvida nos fatos investigados" e que sócios e funcionários "atuaram em comunhão" para a contaminação dos pacientes transplantados com HIV.
Para a Polícia Civil, os crimes praticados pelos indiciados colocaram em dúvida a credibilidade do Sistema Nacional de Transplantes.
Seis pessoas foram presas e agora respondem como rés na Justiça: o sócio-proprietário Walter Vieira, seu filho e também sócio, Matheus Sales Bandoli, além dos funcionários Adriana Vargas, Cleber de Oliveira Santos, Ivanilson Fernandes dos Santos e Jacqueline Iris Bacellar de Assis. Todos já estão no sistema penitenciário.
Na denúncia, o Ministério Público afirmou que os envolvidos "tinham plena ciência de que pacientes transplantados recebem imunossupressores para evitar a rejeição do órgão" e que "a aquisição de qualquer doença, especialmente HIV, em um organismo já fragilizado seria devastadora". A promotora destacou a "indiferença com a vida" por parte dos responsáveis.