PCS LAB já sabia de irregularidades em exames de transplantados desde agosto, diz investigada

A informação foi repassada pela técnica de análises clínicas Jacqueline Iris Bacellar de Assis à Polícia Civil durante depoimento

Por João Boueri

Jacqueline Iris Bacellar de Assis está presa em Benfica
Reprodução/TV Band

A técnica de análises clínicas Jacqueline Iris Bacellar de Assis afirmou que o laboratório PCS LAB já tinha ciência de irregularidades em exames de transplantados desde agosto de 2024, no mês anterior da notificação ao Ministério da Saúde e à Fundação Saúde. A informação foi repassada pela investigada à Polícia Civil durante depoimento.

Jacqueline está presa e já foi transferida para o Presídio José Frederico Marques, porta de entrada do sistema penitenciário em Benfica, na Zona Norte do Rio. A funcionária que aparece na assinatura de um dos dois laudos com resultado-negativo disse que, quando a empresa soube, os sócios melhoraram os processos internos do laboratório. 

Além disso, a reportagem da BandNews FM teve acesso a um print que mostra uma conversa de um grupo criado para falar sobre uma fiscalização no Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (IECAC), na Zona Sul do Rio, onde o laboratório tem uma sala. O técnico Ivanilson Fernandes dos Santos foi preso na unidade de saúde, onde o material oriundo de doadores de órgãos era analisado.

Nas conversas que são do dia 5 de outubro, a funcionária Ariel Santos teria dito que a ordem é "colocar a unidade de cabeça para baixo e fazer vista grossa em tudo". A intenção era fiscalizar todo o fluxo desde o cadastro no sistema. 

A visita dos fiscais aconteceu dois dias depois. Os agentes identificaram que essa unidade do PCS LAB não tinha licença para funcionar e que, por isso, os fiscais foram até a matriz da empresa em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Antes, no dia 25 de setembro, uma mensagem no grupo de coordenação do laboratório indicava que um roteiro de inspeção em laboratório foi montado pela empresa. Cinco dias depois, os funcionários precisaram enviar observações feitas durante as inspeções internas.

Jacqueline disse que a determinação de economizar financeiramente a partir de janeiro foi do sócio-proprietário Walter Vieira, preso na segunda-feira (14). Em depoimento, ela disse que a ordem era fazer isso em todas as áreas da empresa, inclusive no setor de controle de qualidade dos reagentes, que deixou de ser diário e passou a ser semanal. Walter teria recuado da medida quando soube da fiscalização em outubro.

Em entrevista à BandNews FM, o médico e professor da Universidade Federal Fluminense, Luiz Antonio Santini, disse que houve omissão das autoridades.

A investigada também afirmou que o outro sócio Matheus Sales Bandoli guardava arquivos e documentos do laboratório em uma outra empresa dele e que, a partir do dia 11 de outubro, quando o caso foi revelado com exclusividade pela BandNews FM, parte dos materiais foram descartados. Além disso, Jacqueline disse que Matheus manipulava os resultados dos exames, uma vez que ele tinha acesso aos logins dos funcionários. 

Com a denúncia, os sócios e funcionários do laboratório começaram a sair dos grupos de conversas entre eles, segundo a técnica de análises. 

Jacqueline disse que foi admitida na empresa em outubro do ano passado para exercer funções administrativas, como pedido de insumo, controle de estoque, planilhas, mas que não podia assinar laudos. No entanto, admitiu que tinha acesso aos resultados apenas para encontrar erros de ortografia. 

Sobre a assinatura de um dos laudos em maio, Jacqueline disse que não tinha autorização para isso e que a empresa utilizou a assinatura digital que foi recolhida no ano passado.

Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde garantiu que não houve qualquer contato prévio de fiscais da Vigilância Sanitária com a empresa. Segundo a pasta, a inspeção foi realizada em 4 de outubro sem interferência externa e motivou a interdição do laboratório. Além disso, a secretaria disse que os resultados constam em relatório enviado à sindicância interna que apura o caso, e permanecem sob sigilo até o fim dos trabalhos da comissão.

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