O Operador Nacional do Sistema projeta um crescimento de 5,8% do consumo de energia em setembro por causa das altas temperaturas no país. O mesmo ocorreu na onda de calor que atingiu os Estados Unidos.
A expectativa é de alta em todas as regiões, sobretudo no Norte (10,6%), Sudeste e Centro-Oeste (6,1%): localidades que mais devem sofrer com o calor, segundo climatologistas.
O aumento nas temperaturas é fruto da combinação do recorde de calor nos oceanos registrados em agosto, da continuação do fenômeno climático El Niño e das mudanças climáticas, causadas pela emissão em excesso de gases de efeito estufa.
Os desdobramentos do problema ocorrem em escala global.
No último dia 8, o Departamento de Energia dos EUA emitiu uma ordem de emergência para tentar frear a pressão sobre a rede elétrica no estado do Texas.
A ordem permitia que as usinas de energia do estado ultrapassassem os limites de poluição por um dia para tentar atender a demanda "anormal e alta".
Para o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, o Sistema Interligado Nacional (SIN) está preparado para lidar com o aumento.
"Em termos de operação e atendimento da demanda seguimos preparados para atender a sociedade brasileira. O sistema é robusto, seguro e o cenário é favorável", defende.
Por outro lado, a professora da UFRJ e diretora do Instituto Ilumina, Clarice Ferraz, pontua que ainda há pontos de fragilidade.
"Não é verdade que nós estamos tranquilos."
"O sistema está estressado, o setor está fragilizado por uma série de transformações que vem acontecendo e esse cenário de muita renovável intermitente com muitas ondas de calor é muito preocupante e dificulta a operação", afirma.
Ao analisarem os índices de armazenamento dos reservatório das hidrelétricas, especialistas garantem que o porcentual é seguro.
O número está acima de 70% em três dos quatro submercados do sistema elétrico segundo o ONS, o que torna ainda mais favorável a geração de energia elétrica.
No entanto, Ferraz afirma que o cenário não é tranquilo.
“Apesar da gente ter bastante água nos reservatórios, eles são usados de outra forma. A gente não dispõe totalmente dele se quisermos usar as renováveis.”
“Em poucos meses esses reservatórios podem se esvaziar. A gente vê que para a região Norte o aumento da demanda previsto é de mais de 10%”, completa.
As boas taxas corroboram a avaliação do Ministério de Minas e Energia da não adoção do horário de verão em 2023. A medida, que adianta os relógios em uma hora, foi extinta em 2019 na gestão de Jair Bolsonaro (PL).
Segundo nota da área técnica da pasta, o "planejamento seguro do ministério" não aponta para a necessidade da medida.
Apesar disso, o horário de verão agrada os proprietários de bares e restaurantes. Na sexta-feira (22), a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) enviou carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo a mudança no horário.
Segundo a entidade, o retorno agrega não apenas ao movimento nos estabelecimentos, mas também aos custos operacionais.
Em nota a Light afirma que realiza uma série de ações preventivas e emergenciais para minimizar as ocorrências, como podas em galhos de árvores que interferem diretamente na rede elétrica e a substituição de equipamentos elétricos. Nos períodos de mais demanda, a empresa aumenta o seu efetivo em campo, mobiliza técnicos para atendimento emergencial.
Com a elevação das temperaturas, as interrupções no fornecimento de energia também são causadas, em muitos casos, devido à sobrecarga dos equipamentos. Isto acontece porque os transformadores, preparados para atender o número de clientes regulares/formais, têm a demanda aumentada pelos “gatos” de luz e desligam, causando a interrupção.
As ligações clandestinas são perigosas e podem ocasionar acidentes e incêndios. Além disso, o furto de energia é crime, previsto no artigo 155 do Código Penal, com pena de até oito anos de prisão.