Uma pesquisa mostra a importância das redes de apoio entre mulheres para combater a violência urbana de gênero no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. O estudo, realizado pela ONG Redes da Maré e universidades, concluiu que as mulheres usam estratégias individuais, frente à falta de políticas públicas efetivas, contra ameaças de violência, coerção e detenção arbitrária, além de violência sexual, financeira e emocional, praticadas por parentes, empregadores e até mesmo pelo Estado.
Estudos de 2018 e 2021 da Redes da Maré, da UFRJ e do King's College de Londres mostraram que 57% das moradoras sofreram uma ou mais formas de violência. Quase metade (47%) dos casos foi praticado por parceiros íntimos. Mas só 2,5% levaram os casos às autoridades. Segundo o novo estudo, muitas mulheres não conhecem organizações estaduais de apoio e veem o atendimento à mulher em unidades de saúde e delegacias como precário e, muitas vezes, causador de mais violência.
A coordenadora do projeto Casa das Mulheres da Maré, Julia Leal, afirma que, assim, as estratégias para evitar violência são criadas e repassadas entre as mulheres.
A maioria das mulheres afirmou que o maior medo é da violência armada, não só pelo risco de confrontos, mas pelo temor de prisões arbitrárias, abusos e invasões. Uma das principais medidas citadas foi procurar ficar perto de outras mulheres durante operações. O mesmo acontece fora da comunidade e no transporte público.
Organizações formadas por mulheres também foram citadas, como o apoio recebido da própria Redes da Maré, pela Casa das Mulheres.
Diante da falta de políticas e de códigos locais de grupos armados que dominam as áreas onde moram, a pesquisa mostrou ainda que muitas das mulheres acabam recorrendo a esses grupos, principalmente para enfrentar abuso e violência doméstica.
Por isso, a pesquisa também identificou ações de médio a longo prazo praticadas pelas moradoras para reduzir o impacto da violência urbana. Entre elas, estão a voltar aos estudos e ao mercado de trabalho para conseguir autonomia financeira e buscar o acolhimento em espaços religiosos.
A pesquisa foi feita com 32 moradoras pela Redes da Maré, pelo King's College de Londres, pelo People's Palace Projects, - da Queen Mary University e pela UFRJ, financiada pela British Academy.