Médico equatoriano é preso suspeito de manter paciente em cárcere privado

Bolívar Guerrero Silva, de 63 anos, foi alvo de ação da Delegacia de Atendimento à Mulher de Duque de Caxias nesta segunda-feira (18)

Gustavo Sleman, Nicolle Timm, Yasmin Bachour e Laila Hallack

O médico equatoriano suspeito de manter uma paciente de 35 anos em cárcere privado em um hospital na Baixada Fluminense já foi preso em 2010 por outro crime envolvendo atividade estética.

Bolivar Guerrero Silva, de 63 anos, foi alvo de uma ação da Delegacia de Atendimento à Mulher de Duque de Caxias nesta segunda-feira (18). O Conselho Regional de Medicina do Rio abriu uma sindicância para apurar o caso.

De acordo com a delegada Fernanda Fernandes, ele é acusado de cárcere por impedir a transferência e locomoção da mulher, que passou por uma cirurgia plástica na unidade. Segundo a titular, ainda não é possível estipular quantos meses em que a vítima, que é camelô, ficou sob essa condição.

Parentes da vítima relataram a Polícia Civil que ela foi submetida a uma abdominoplastia em março, realizada pelo cirurgião. Três dias após receber alta, ela passou mal e novamente procurou a clínica. Desde então, teve que passar por outros procedimentos.

Ainda segundo os relatos de amigos e familiares, o quadro da paciente é grave e requer cuidados. Apesar dos agentes terem solicitado o prontuário médico, o documento não foi entregue pela direção do Hospital Santa Branca no prazo estipulado.

O estado de saúde dela chocou os agentes. Segundo a delegada Fernanda Fernandes, em breve contato com os policiais, a mulher teria pedido ajuda para deixar o hospital. Pelo menos outras quatro mulheres já procuraram a delegacia para denunciar outros supostos crimes de Bolivar.

No último sábado (16), a Justiça decretou a prisão temporária de Bolivar, além da suspensão do registro dele no Conselho Regional de Medicina. Além disso, na decisão, a juíza Renata Travassos Medina de Macedo, da Vara de Violência Doméstica de São João de Meriti, também determinou a expedição de mandados de condução coercitiva contra membros da direção e funcionários da unidade.

Nesta segunda (18), também foram cumpridos mandados de busca e apreensão. A vítima ainda aguarda uma transferência após liminar e a expectativa é que mais testemunhas do caso sejam ouvidas pela polícia em breve.  O hospital pode ser fechado após perícia.

Em nota, o Hospital Santa Branca afirmou que as acusações de cárcere privado são infundadas. Ainda segundo a administração da unidade, o médico não pertence ao quatro societário da empresa, que repudia qualquer tipo de prática criminosa.

Por uma rede social, a equipe que trabalha com Bolivar negou que o médico estivesse mantendo a paciente em cárcere privado. Ainda de acordo com a publicação, o equatoriano teria aceito liberá-la caso ela assinasse a alta à revelia. O texto diz ainda que o intuito de Bolivar era prestar toda a assistência até que ela estivesse recuperada.

As investigações apontam que o cirurgião já foi preso em 2010, acusado de integrar um grupo que comercializava e aplicava medicamentos sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A reportagem da BandNews FM tenta contato com a defesa do médico.

NOTAS

CREMERJ: "Tendo conhecimento do caso pela imprensa, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro abriu sindicância para apurar os fatos. Todo procedimento segue em sigilo de acordo com os ritos do Código de Processo Ético-Profissional."

Hospital Santa Branca: "Hospital Santa Branca Ltda vem através de sua diretoria em atenção aos comunicados veiculados nas mídias escritas, narradas e digitais manifestar-se publicamente sobre acusações infundadas de CÁRCERE PRIVADO no interior das suas dependências. Tal crime decorre do verbo encarcerar, que significa deter, ou prender alguém indevidamente e contra sua vontade. No crime de cárcere privado, a vítima quase não tem como se locomover, sua liberdade ficarestrita a um pequeno espaço físico, como um quarto ou um banheiro. Com 43 anos de funcionamento, essa Unidade desconhece tal prática dentro do seu estabelecimento, sempre buscando zelar pela saúde física e mental de seus pacientes, prezando pelo direito de ir e vir dos mesmos, amparado por um equipe multidisciplinar profissional, centros cirúrgicos e CTI com 20 leitos operando 24 horas por dia. Nossas salas cirúrgicas são locadas. Repudiamos quaisquer práticas criminosas que nos foram indevidamente atribuídas! Tal acusação é absurda! Além disso, o Dr. Bolivar Guerrero não pertence ao quadro societário desta empresa, como descrito pela imprensa. - DATA DA INTERNAÇÃO DA PACIENTE 01/06/2022. -ACOMODAÇÃO: APARTAMENTO PRIVATIVO COM DIREITO A ACOMPANHANTE . - PACIENTE RECUSA-SE A SAIR DA UNIDADE, (TRANSFERIDA). -TODO CUSTO DA PACIENTE MANTIDO PELO CIRURGIAO, INCLUSIVE COM ATENDIMENTOS EXTERNOS"

Equipe do médico: "O dr. Bolivar foi prestar um depoimento na delegacia. Ele não estava mantendo paciente nenhuma em cárcere privado. Ela estava fazendo curativo e sendo assistida no hospital dele por ele. Porém ela queria ser liberada sem ter terminado o tratamento e ele como médico seria imprudente de liberá-la. Ele disse que poderia liberá-la se ela assinasse a alta à revelia (documento ao qual a paciente se responsabiliza por qualquer coisa que acontecer após sua liberação) e ela não quis assinar. Ele disse que liberaria somente se ela assinasse. Como ela não assinou ele não liberava. O intuito dele é prestar toda assistência a paciente até ela está recuperada"

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