Mais de 16 milhões de brasileiros vivem em favelas

Comunidade mais populosa do país é a Rocinha, no Rio de Janeiro

Gabriela Morgado e Fernanda Vicente

Mais de 16 milhões de brasileiros vivem em favelas
Rocinha, a comunidade mais populosa do Brasil
Getty Images/iStockphoto

O número de favelas no Brasil quase dobrou em 10 anos. Segundo dados do Censo 2022, são 12.348 comunidades no país, que abrigam mais de 16 milhões de pessoas, cerca de 8% da população brasileira. Em 2010, o país tinha 6.329 favelas e comunidades urbanas. Atualmente, os estados com a maior parte da população vivendo em favelas são Amazonas, Amapá e Pará. 
 
A comunidade mais populosa e com o maior número de domicílios está no Rio de Janeiro. A Rocinha, na Zona Sul, tem mais de 72 mil moradores em 30.371 domicílios. Depois, aparecem Sol Nascente, em Brasília, com mais de 70.900 habitantes, e Paraisópolis, em São Paulo, com pouco mais de 58.500 pessoas. A comunidade de Rio das Pedras, também na Zona Oeste do Rio de Janeiro, é a segunda com maior número de domicílios, 23.846. 
 
Para o professor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE) Daniel Duque, os dados revelam uma tendência de migração para centros urbanos em uma busca dos brasileiros por uma vida melhor.
 

O Rio tem esse grande número, porque atraía muita gente para ter melhores oportunidades, sendo que não teve nenhum esforço para absorver essa população. As pessoas vão morar onde elas podem.

O Censo também destaca como, apesar do crescimento de pessoas nas favelas, muitos moradores ainda não têm acesso a serviços públicos, como água potável e saneamento básico. Em 2022, a água não chegava a 16% dos domicílios. 25% não tinham acesso à rede de esgoto. 20,7% ainda têm coleta de lixo através de caçambas.

A pesquisa também mostrou que, para cada unidade de saúde nas favelas, há mais de 18 estabelecimentos religiosos. Já para cada escola, há mais de seis. 5% dos estabelecimentos encontrados eram religiosos.
 
A ex-secretária de Educação do Rio de Janeiro e ex-diretora global de educação do Banco Mundial Claudia Costin ressalta que a falta de escolas nas comunidades tem a ver com a falta de segurança nesses locais.
 

Parte disso tem a ver com uma visão equivocada, que se teve durante muito tempo, de que com a violência na favela, é melhor para a pessoa que vive na favela sair de lá para ir para a escola e para o professor dar aula lá. Concretamente essa é a comunidade que existe. Muita gente tem dificuldade sim de sair de lá, então a escola tem que estar onde está a população.


Marcela Quirino mora na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, e relata que o acesso a hospitais e escolas ainda é dificultado pelas condições ruins do transporte.
 

Depois de três anos de espera, eu consegui ser agendada para uma fisioterapia que é em Madureira. Então eu saio da Cidade de Deus, pego duas conduções para ir, levo em torno de uma hora, uma hora e meia para chegar lá, aguardo em torno de 30, 40 minutos. E venho embora levando ali de novo em torno de uma hora, uma hora e meia de trajeto e, de novo, dois ônibus. Então é algo que não é acessível, porque os serviços que não tem dentro da comunidade estão muito distantes.

 
 
A população brasileira que vive em favelas é formada principalmente por pardos (56,8%) e pretos (16,1%). A porcentagem é maior do que a de pretos e pardos na população total. Os moradores das comunidades também são mais jovens do que a população no país. A idade mediana é de 30 anos. Em todo o Brasil, é de 35 anos. 

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