Homem de 63 anos infectado com HIV após transplante de coração pode ter que receber novo rim

O engenheiro tinha insuficiência cardíaca desde 2011 e foi regulado no Sistema Nacional de Transplantes, quando conseguiu ser internado no dia 11 de dezembro de 2023

Por João Boueri

Homem de 63 anos infectado com HIV após transplante de coração pode ter que receber novo rim
A reportagem da BandNews FM conversou com exclusividade com o filho do paciente
Sasint/Pixabay

O primeiro paciente que passou a viver com HIV após passar por um transplante de coração no Estado do Rio pode ter que receber um novo de rim. A informação foi repassada pelos médicos que realizaram a cirurgia no idoso de 63 anos que mora na Bahia aos familiares do engenheiro.

A reportagem da BandNews FM conversou com exclusividade com o filho do paciente na manhã desta quarta-feira (22). Ele teve a identidade preservada e a voz distorcida. O relato foi marcado por emoção, críticas ao Ministério da Saúde e à Secretária de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.

O engenheiro tinha insuficiência cardíaca desde 2011 e foi regulado no Sistema Nacional de Transplantes, quando conseguiu ser internado no dia 11 de dezembro do ano passado em Salvador.

A transferência ao Hospital Copa D'Or, na Zona Sul do Rio de Janeiro, foi feita no dia 5 de janeiro de 2024. Na madrugada do dia 24 para o dia 25 do mesmo mês o transplante do coração foi realizado com sucesso.

O paciente também estava com disfunção renal, mas a expectativa era que com o procedimento realizado a situação dos rins melhoraria, o que aconteceu no início.

Ele recebeu alta do hospital no dia 20 de fevereiro, mas precisou ficar na capital fluminense para receber os acompanhamentos médicos por seis meses. Nos primeiros dias fora da unidade de saúde, os primeiros sintomas. Entre eles, a perda de apetite e peso.

Em maio, o idoso precisou ser internado novamente. No Hospital Glória D'Or, na Zona Sul, os leucócitos - células que protegem o organismo contra infecções - chegaram perto do zero. Os sintomas permaneceram e o diagnóstico desconhecido.

No dia 10 de agosto, o paciente voltou com a família para a Bahia após passarem por dois hospitais no Rio de Janeiro e uma unidade de saúde para consultas.

Dezesseis dias depois, o engenheiro foi ao nefrologista para atendimento. No entanto, a data marcada era somente no mês seguinte, mas conseguiram se consultar com a profissional médica, que desconfiou de dermatite já que ele estava com lesões no rosto.

O diagnóstico exato veio no dia 6 de setembro por um infectologista. O tratamento de HIV começou no dia 17 do mesmo mês. Desde então, a função renal ficou comprometida e os familiares foram avisados de um possível transplante de rim.

Em setembro ele começou a tomar remédio do HIV. Com esse remédio, o rim dele piorou. Tive uma reunião com médicos do Hospital Copa D'Or e eles falaram que temos que pensar em diálise e, possivelmente, transplante de rim. - disse ele.

Emocionado, o filho do paciente disse que a família não foi procurada pelo Ministério da Saúde. A Secretaria de Estado de Saúde procurou o engenheiro duas vezes. O primeiro contato foi feito no dia 14 de outubro, três dias após a BandNews FM revelar o caso com exclusividade.

Abandono. A saúde é dever do Estado, que deu as costas. Não tivemos apoio. Ninguém ligou para dar um suporte. Eles deveriam fazer o mínimo. Mas a gente não vive em um Estado mínimo. O Estado nos abandonou. Tanto o Ministério da Saúde, quanto a Secretaria de Estado de Saúde são terríveis. - desabafou ele.

Enquanto isso, o engenheiro está em casa e realiza tratamento psiquiátrico. O paciente mora de aluguel e não consegue mais trabalhar com o que aconteceu.

O Ministério da Saúde e a Secretaria de Estado de Saúde souberam da infecção do engenheiro que vive no estado da Bahia entre os dias 12 e 14 de setembro. Ao todo, seis pacientes passaram a viver com HIV após a emissão de dois laudos falso-negativos pelo laboratório PCS Lab Saleme.

Seis pessoas foram presas. O sócio-proprietário Walter Vieira e o filho também sócio da empresa Matheus Sales Bandoli, e os funcionários Adriana Vargas, Cleber de Oliveira Santos, Ivanilson Fernandes dos Santos e Jacqueline Iris Bacellar de Assis.

A suspeita da Polícia Civil é de que o laboratório tenha determinado uma mudança no controle da checagem dos reagentes na máquina analítica que fazia o teste de HIV para economizar.

Na denúncia, o Ministério Público disse que os envolvidos "tinham plena ciência de que pacientes que recebem órgãos transplantados recebem imunossupressores para evitar a sua rejeição, e que a aquisição de qualquer doença em um organismo já fragilizado, principalmente HIV, seria devastadora". A promotora destacou a "indiferença com a vida".

Procurados, o Ministério da Saúde e a Secretaria de Estado de Saúde ainda não se posicionaram.

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