
Em depoimento à Justiça, um funcionário do Laboratório PCS Saleme, responsável por dois exames falso negativo para HIV, confirmou que a coordenação determinou a redução do controle da máquina responsável pelos testes. O homem foi ouvido na primeira audiência de instrução e julgamento do caso, no dia 24 de fevereiro. A BandNews FM teve acesso aos depoimentos.
Segundo o funcionário, a coordenadora da unidade, Adriana Vargas, teria indicado que o processo de qualidade fosse feito semanalmente e não diariamente e que a ordem teria vindo de superiores.
No período, era se passado diário. Depois de algum tempo, foi se passado uma vez por semana. Adriana puxou responsabilidade para ela. Ela que faria essas passagens nesse controle. Nós técnicos ficamos surpresos, né? O controle diário é uma coisa segura, sem o controle você não tem a segurança.
Um segundo funcionário também tinha confirmado à informação à Polícia Civil, mas voltou atrás na audiência.
Ela botou no grupo que não era mais para a gente passar controle à noite. Iriam passar de dia. Agora, isso aí eu não sei te responder. Não estou lembrando se eu falei para o delegado se era semanal.
O senhor leu o seu depoimento em sede policial?
Não, senhora.
Então você assinou sem ler? Ou não, não assinou? Só quero saber se o senhor assinou ou não assinou ou o senhor não se lembra.
Eu assinei, sim.
O mesmo funcionário contou que tem vergonha e problemas para conseguir um novo emprego, por causa do escândalo.
Eu tô com vergonha hoje. Estou até com dificuldade de arrumar emprego. Graças a Deus, eu trabalho. Tenho um trabalho, mas sempre trabalhava em dois. Hoje tô envergonhado. Rh lê PCS Saleme lá, pronto. Quem vai me contratar?
Para o Ministério Público, a diretoria do laboratório negligenciou o controle de qualidade, para economizar recursos financeiros. Os investigadores também apuraram possível falsificação de documentos.
Uma funcionária ouvida pela Justiça relatou que alguns profissionais assinaram folhas em branco para que fossem feitas assinaturas digitais. Ela contou que, apesar de nunca ter percebido nenhuma irregularidade, desconfiava do uso dos nomes.
Mesmo a senhora já tendo assinado, o laudo não saía sem a sua confirmação de alguma forma?
Depende. Eles tinham acesso a nossa senha. Eu assinei. Eles podiam mexer e eu não ia saber.
Era algo que deixava vocês meio...
É.
Desconfiados?
Sim. Porque poderia sair algo que eu não assinei, mas eu não ia saber.
Ainda de acordo com a funcionária, um dos sócios do laboratório, Walter Vieira, costumava verificar e assinar de forma remota laudos produzidos por técnicos.
Walter, o filho e também sócio, Matheus Vieira, e quatro funcionários respondem ao processo em liberdade e devem ser ouvidos em audiência. A próxima sessão está marcada para 14 de abril.
Ainda de acordo com um funcionário, Matheus Vieira chegou a mexer no equipamento de testes, depois do caso ter sido revelado pela BandNews FM em outubro do ano passado.
Ele esteve mexendo no Cobas?
Sim.
É atribuição dele?
Não. Ele mencionou para mim que estava verificando alguma coisa no Cobas, não o que seria.
Causou surpresa ao senhor ele operar a máquina depois dos fatos?
Sinceramente sim.
Oito pessoas já foram ouvidas pela Justiça. Até o final do processo, 28 testemunhas, os seis réus e os seis pacientes infectados devem ser interrogados.
A Fundação Saúde afirma que adotou uma série de medidas para sanar todas as inconformidades identificadas. As defesas de Walter e Matheus Vieira, além de Adriana Vargas, negam as acusações. A reportagem tenta contato com os demais réus.