Família de homem que morreu aguardando atendimento em UPA na Zona Oeste do Rio pede justiça

O caso aconteceu na última sexta-feira (13) e é investigado pela Polícia Civil, que pediu imagens

Por Gabriela MorgadoLuanna Bernardes

Homem morre enquanto aguardava atendimento em UPA no Rio
Reprodução/Redes

A irmã do homem que morreu aguardando atendimento na UPA da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, diz que ele era trabalhador e um "tio babão". O caso aconteceu na última sexta-feira (13) e é investigado pela Polícia Civil, que pediu imagens e está intimando testemunhas. 
 
José Augusto Mota da Silva, de 32 anos, chegou a ser filmado desacordado em uma cadeira da unidade. Outro vídeo que mostra funcionários colocando o paciente em uma maca, momentos depois, também ganhou repercussão nas redes sociais e mostra a indignação de quem estava no local. 
 
Ele foi levado à UPA pelo amigo e vizinho Douglas Silva. Os dois moravam em Rio das Pedras, também na Zona Oeste. Segundo Douglas, José Augusto estava vomitando e com fortes dores abdominais. 
 
Douglas chegou a pedir por uma ambulância do SAMU, mas foi informado que o caso não era de emergência para que o veículo pudesse ser enviado. Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde, responsável pelo SAMU, disse que a orientação foi que o paciente se dirigisse à Unidade de Pronto Atendimento mais próxima, já que dor no estômago não se enquadra nas situações de urgência e emergência para as quais o SAMU deve ser acionado, conforme orientação do Ministério da Saúde. José Augusto foi levado então à UPA pelo amigo, de van. 
 
O paciente foi deixado pelo amigo na unidade por volta das 19h40, sentado na cadeira. Depois, Douglas deixou o local, porque precisava cuidar da filha, que estava sozinha em casa. 
 
José Augusto esperou por atendimento por cerca de uma hora. A Secretaria Municipal de Saúde informou que a classificação de risco foi feita às 20h30 e que, poucos minutos depois, foi acionada a equipe médica pelo fato do paciente estar desacordado. Ele foi levado à Sala Vermelha para atendimento, onde foi constatada parada cardiorrespiratória. 
 
Douglas Silva só soube da morte pelas redes sociais, já na madrugada de sábado (14), e entrou em contato com a família de José Augusto, que chegou a achar que era um trote. 
 
O paciente era de Mogi Guaçu, no interior de São Paulo, e morava no Rio desde 2012. Ele foi enterrado na cidade natal no domingo (15). A irmã dele, Meriane Silva, chegou a passar mal. Ela conta que a família está muito abalada e quer justiça. 

Foi um choque muito grande, meu pai tá muito abalado, sem chão. Ontem foi um dia muito difícil, porque foi a última vez que a gente viu ele e não vamos ver mais. Eu precisei ser medicada. Eu falei com ele na quarta-feira, ele disse que tava melhor, ele disse que tava com um pouco de dor no estômago. Mas ele não tava, ele só não queria me falar que tava ruim. Ele trabalhava com artesanatos no Rio. Ele vendia umas pedras e quando ele veio pra cá, ele trouxe colar pras crianças, ele era um tiozão, tio babão, sabe?

Para o amigo de José Augusto, Douglas Silva, faltou empatia dos profissionais da UPA. 

Era uma amizade boa, sabe? Era um moleque bem de paz mesmo, não mexia com ninguém, subia lá pra casinha dele, fazia os negócios dele lá e ninguém perturbava ele. Eu fiquei mega revoltado, porque, pô, a gente leva uma pessoa com vida, eles alegam que vão atender, e do nada, você vê a rede social e o amigo morreu? Pô, mano, que situação é essa? Que isso? Que empatia com o próximo é essa que eles têm?

Segundo familiares e amigos, José Augusto costumava ter fortes crises de gastrite e já tinha cadastro na UPA da Cidade de Deus. Ele chegou a buscar atendimento em outras unidades públicas de saúde da região nos últimos meses, mas nenhum exame nunca foi realizado, como ressalta a ex-mulher do paciente, que se identificou apenas como Isabel.

Eu acho que de dois anos pra cá, ele começou a piorar. Mas acontece que só passavam pra ele Omeprazol e Dipirona. Ele dormia mal, ele acordava mal, o que ele comia, ele vomitava.

Segundo a família, a Secretaria de Saúde se ofereceu para custear o enterro de José Augusto, mas ainda estão sendo resolvidos trâmites burocráticos. 
 
Pelas redes sociais, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, afirmou que todos os profissionais que estavam de plantão na ocasião serão demitidos, vão responder a uma sindicância e vão ser denunciados nos respectivos conselhos de classe. Soranz classificou como inadmissível o fato de os funcionários não terem percebido a gravidade do caso. 
 
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro também abriu sindicância. A Polícia Civil ainda realiza exames complementares para saber a causa exata da morte de José Augusto. 

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