Um estudo do Instituto Trata Brasil aponta que, no país, 6,6 milhões de crianças de até seis anos de idade se afastam de creches, escolas e atividades sociais por falta de saneamento básico.
O levantamento considerou os dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, do IBGE, que identificou que aproximadamente 4 a cada 10 crianças nesta faixa etária se afastaram de atividades rotineiras ao longo do ano por doenças de veiculação hídrica, como diarreia e Rotavírus, e doenças transmitidas por insetos e animais.
O estudo identificou que os problemas de saneamento durante a primeira infância impactam na vida adulta, levando à riscos de saúde e a um desenvolvimento físico e cognitivo prejudicado.
A presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, explica que o impacto é ainda maior na pré-adolescência.
Essas crianças, quando são avaliadas no quinto ano, que elas têm em média 10 a 11 anos, elas têm notas inferiores, 10% a menos. E elas têm dificuldade de realizar ações básicas que são esperadas para elas, como entender o efeito de humor em história em quadrinhos, não conseguir identificar horas em relógio, ou calcular troco. Quando elas chegam no início da adolescência, então, elas carregam os problemas de saúde da primeira e da segunda infância e esse atraso no desenvolvimento das atividades
78% das pessoas que não têm acesso ao saneamento estão, pelo menos, dois anos atrasadas nos estudos. Como consequência, o potencial de renda de pessoas que não tiveram acesso a saneamento básico pode ser R$ 126 mil menor considerando os 35 anos de atuação profissional, se comparado ao de pessoas que contaram com saneamento.
Luana Pretto conclui que se não forem feitas medidas para melhorias no saneamento básico, o potencial das novas gerações pode ser condenado.
A gente precisa, o quanto antes, buscar o acesso pleno ao saneamento, principalmente pensando que a gente vai condenar, está condenando uma geração futura. Se essa geração não tiver acesso à água e coleta e tratamento de esgoto, a gente tira a possibilidade de uma plena capacidade de desempenho escolar, de renda média futura dessas crianças, por conta de não ter acesso ao básico
Atualmente, o Brasil investe em saneamento básico, em média anual, 111 reais por habitante, enquanto o valor considerado ideal deveria ser de 230 reais por habitante.