Élcio Queiroz: em delação premiada a PF revela desdobramentos do caso Marielle

Em depoimento aos agentes o ex-PM deu detalhes sobre o crime

Por Gustavo Sleman

marielle
Renan Olaz/Câmara Municipal do Rio

O ex-policial militar Élcio Queiroz revelou em delação premiada à Polícia Federal e ao Ministério Público que só soube da morte do motorista Anderson Gomes horas após o crime. Em depoimento aos agentes, Queiroz disse que achava que apenas Marielle Franco teria morrido no ataque realizado em março de 2018.

Élcio disse que assistiu em um restaurante, ao lado de outras pessoas envolvidas no caso, notícias na TV sobre os assassinatos e que foi nesse momento que descobriu que Anderson também havia morrido.

O ex-policial militar dirigia o carro usado no crime. Na delação, Queiroz disse que quando alcançou o veículo utilizado por Marielle, no bairro do Estácio, ele não chegou a ver o rosto de Anderson, talvez pelo vidro ser muito escuro ou porque o disparo atravessou a janela.

Queiroz afirma que a arma usada nos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes foi desviada do Batalhão de Operações Especiais da PM após um incêndio. A declaração faz parte da delação premiada firmada com a Polícia Federal e o Ministério Público.  

Em depoimento aos agentes em junho, ele revelou que soube dessa informação em conversa com o policial reformado Ronnie Lessa. De acordo com o ex-PM, Lessa teria dito que teve acesso a objeto depois dele ter passado por manutenção nas mãos de uma pessoa, não identificada, que o vendeu.

Élcio disse ainda que Ronnie reformou a arma e que já estava acostumado com o uso dela pela experiência no Bope. Questionado sobre quem vendeu o armamento para Lessa, ele não soube informar se essa pessoa se tratava de um PM ou não.

O ex-policial também rebateu a versão apresentada por Ronnie de que ele teria se desfeito da arma. Isso porque, segundo Queiroz, o amigo tinha muito carinho pelo objeto.

A placa do carro utilizado no ataque contra a vereadora Marielle Franco teria sido picotada pelo policial militar reformado Ronnie Lessa após o crime. A informação foi revelada em depoimento da delação premiada.

De acordo com Queiroz, pedaços da placa foram jogados ao longo da linha férrea de estações da Zona Norte do Rio. O ex-bombeiro preso durante operação nesta segunda-feira (24), Maxwell Simões Côrrea, também participou da ação.

Segundo ele, um dia depois do crime, os três se reuniram para ocultar provas. Aos agentes, Queiroz disse que uma das maiores preocupações de Lessa era a possibilidade de investigadores encontrarem digitais nas munições usadas no ataque.

O ex-policial militar Élcio de Queiroz afirma que deixou de acreditar na versão do amigo, Ronnie Lessa, de que ele não recebeu nenhum dinheiro pelo assassinato da vereadora Marielle Franco. Queiroz contou aos investigadores da Polícia Federal e do Ministério Público que passou a mudar de opinião após perceber a evolução no patrimônio do colega.

No depoimento, o ex-PM citou que, após o crime, Lessa comprou um carro blindado e uma lancha, além de ostentar, em determinada situação, sobre a possibilidade de construir casas em terrenos em Angra dos Reis, na Costa Verde, e na Barra da Tijuca, na Zona Oeste.

A delação também revelou que o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, preso durante ação nesta segunda-feira (24), pagava o advogado de Élcio de Queiroz. O dinheiro, segundo o depoimento, era repassado mensalmente por Ronnie, com quem Suel teria uma sociedade de antenas de "gatonet" no bairro Rocha Miranda, na Zona Norte.

Aos agentes, Queiroz contou que, o sargento da Polícia Militar Edmilson Oliveira da Silva, o Macalé, teria sido o responsável por intermediar a ordem para Ronnie Lessa assassinar Marielle Franco. A informação consta no depoimento da delação premiada. No depoimento, no entanto, ele não cita um possível mandante pelo crime.

Além de apresentar o que ele classificou como "trabalho" para Ronnie, Macalé também teria auxiliado Lessa a investigar e acompanhar a rotina de Marielle. Edmilson Oliveira, o Macalé, foi morto em 2021, em Bangu, na Zona Oeste. Ronnie Lessa e Élcio Queiroz seguem presos.  

Em outro trecho do depoimento, Queiroz também revelou que, depois do crime, Lessa chegou ficar preocupado com o surgimento de possíveis imagens que ele, Maxwell Simões, ex-bombeiro preso em ação desta segunda-feira (24), e Macalé frequentavam que pudessem mostrar eles embarcando no carro usado no ataque que matou a vereadora e Anderson Gomes.

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