Ausência de protocolos, construções ilegais, estreitamento de rios. Especialistas apontam para diversos fatores que contribuíram para a tragédia de Petrópolis. As chuvas que atingiram o município no mês passado, protagonizaram o pior temporal da história da cidade: em apenas seis horas, foram quase 260 milímetros.
De acordo com o Plano Municipal de Risco de Petrópolis, os relatos de movimentos de massa são recorrentes desde a década de 40 do século passado.
Segundo a geóloga Camila Betella, a região é suscetível a esse fenômeno, mas as ocupações urbanas irregulares intensificam o problema.
Em 35 anos, as áreas ocupadas irregularmente na Cidade Imperial mais que dobraram. Só no Morro da Oficina, epicentro da tragédia, esse crescimento foi de 112%, sendo 80% antes de 2007.
Segundo o estudo, divulgado pelo MapBiomas, com base nas imagens de satélites do IBGE, a maior parte dessas construções está localizada em regiões precárias e com risco de desabamento.
Em dezembro de 2016, durante o mandato anterior de Rubens Bomtempo, o atual prefeito, cerca de 700 casas no Morro da Oficina foram regularizadas. Na época, a comunidade já era tida como área de risco de deslizamento. O projeto foi embargado, em 2018, na gestão do então prefeito Bernardo Rossi.
Para o professor de engenharia Cartográfica da Universidade Federal da Bahia e coordenador do estudo do MapBiomas, Julio Cesar Pedrassoli, o movimento para regularização de residências mostra a ausência de seriedade nas políticas habitacionais do município.
Em 2017, o Plano Municipal de Redução de Risco já apontava que mais de 28 mil moradias estavam em áreas de risco alto ou muito alto, o que representava, na época, um terço da área total da cidade.
O crescimento urbano irregular, consequentemente, estrangulou as bacias hidrográficas do município. Em 170 anos, a bacia do Rio Quitandinha - onde dois ônibus afundaram durante o temporal - teve a largura diminuída de 33 para 14 metros.
O mesmo ocorreu com os rios Piabanha, que teve redução de 12 metros, e o Palatino, que ficou nove metros mais estreito. Entre 2011 e 2018, pesquisadores da UFRJ identificaram 86 inundações, somente na bacia do Rio Quitandinha.
Para o pesquisador do Laboratório de Cartografia da Universidade e autor do estudo, Manoel do Couto Fernandes, houve uma naturalização das inundações dos rios da região.
O ex-presidente do Instituto Estadual do Ambiente e professor de direito Ambiental Marcus Lima destaca que muitas mortes poderiam ter sido evitadas se houvesse um protocolo de esvaziamento da população também das vias públicas, que foram inundadas.
A BandNews FM pediu à Prefeitura de Petrópolis uma entrevista com algum porta-voz da Secretaria de Defesa Civil, mas não recebeu resposta. O Município também não informou se já adotou alguma ação para reduzir os impactos em caso de um novo temporal.