Obras de contenção em Petrópolis não abrangem todas as áreas afetadas pelos temporais de 2022

As intervenções, de menor porte, foram concentradas nas margens de rios e de partes de ruas

Por Gabriela Morgado

Obras de contenção em Petrópolis não abrangem todas as áreas afetadas pelos temporais de 2022
A BandNews FM visitou 28 endereços de obras concluídas pela Prefeitura
Reportagem BandNewsFM

Dezenas de obras de contenção realizadas pela Prefeitura de Petrópolis desde os temporais de 2022 foram voltadas apenas para a recuperação de margens de rios e de partes de ruas que cederam. As intervenções, de menor porte, ocorreram apenas nas áreas específicas atingidas, deixando outras regiões desassistidas.

Entre esta quarta-feira (19) e quinta-feira (20), a BandNews FM visitou 28 endereços de obras concluídas pela Prefeitura. A maioria delas consiste em pequenas contenções. 

Muitas das obras contabilizadas correspondem a endereços na mesma rua. Enquanto isso, moradores atingidos por grandes deslizamentos de terra há três anos ainda não receberam respostas. 

Até agora, foram 89 obras de contenção realizadas, segundo a Prefeitura. 

No entanto, no Morro do Oficina, onde mais de 90 pessoas morreram devido a deslizamentos em 2022, a situação permanece praticamente inalterada para muitos. As casas continuam interditadas, a terra ainda desce com as enxurradas e a encosta permanece desprotegida. 

Nenhuma de cinco obras de contenção já quitadas em definitivo no bairro Alto da Serra, que custaram quase R$ 20 milhões, foi na encosta. Nela, duas obras ainda estão sendo realizadas. 

Na semana passada, os moradores voltaram a enfrentar problemas devido à chuva forte. 

Nesta quarta-feira, uma chuva forte que voltou a atingir a cidade gerou uma nova enxurrada de terra, deixando muita lama no dia seguinte. 

Foram quatro ocorrências de menor gravidade devido à chuva na quarta-feira. Nove bairros tiveram o abastecimento de água impactado. O nível dos rios subiu rapidamente, cerca de dois metros. 

O consultor ambiental Luiz Renato Vergara ressalta que as intervenções precisam ser melhor planejadas. 

Entra ano, sai ano, tragédia, mais tragédia, mais tragédias. Prefeitura, Estado, fizeram diversas obras, mas são obras que trabalham na consequência da tragédia, não na causa do problema. As encostas estão mapeadas, os rios que inundam e que causam as enxurradas, todo mundo já sabe quais são. Agora é necessário definir, estudar e pensar em soluções técnicas de macrodrenagem, de contenção de encostas e, principalmente, de reassentamento e retirada das famílias das áreas de maior risco. 

A área da Rua Nova, que fica acima da Rua Teresa, teve um dos maiores acumulados de chuva. Centenas de casas também estão interditadas. Apesar de uma obra ter sido concluída pelo governo, a Defesa Civil afirma que ainda há risco. Centenas de famílias tiveram que deixar o local.

O vigilante Ayres Ramos diz ainda que um muro que caiu há cerca de dois anos não foi reconstruído. 

A gente não entende a questão de se concluiu ou não. Se concluiu o serviço, por que não liberam o morador para voltar para casa? E por que não terminam o serviço da drenagem? Por que não fazem? Se está concluído o serviço, a gente fica nessa expectativa, na dúvida. E não dá informação nenhuma. 

O morador da Vila Militar, Ricardo Thiago, conta que, lá, onde quatro pessoas foram soterradas em 2022, as intervenções também não foram concluídas.

Só foi feita a demolição de seis casas. São 14 que precisam ser demolidas. A empresa que ganhou a licitação em dezembro resolveu desistir e entregou o serviço para a Prefeitura, não concluiu a obra. Obra de contenção, por enquanto, nenhuma. Fizeram capina, limparam o morro, mas já cresceu tudo de novo. Prometeram que a obra começará em abril. O secretário de Obras esteve lá e disse que vai reiniciar as obras de demolição e contenção.

A Prefeitura afirma que investiu 123 milhões de reais em obras relacionadas à tragédia e que já concluiu quase 90% delas. Já o Governo afirma que financiou oito milhões em obras diversas, incluindo as intervenções na Rua Nova.

O aluguel social de mil reais, benefício da Prefeitura e do Governo, é concedido mensalmente a mais de duas mil famílias. 

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