Deputados estaduais apresentam projetos para suspender efeitos de determinações do governador

As medidas publicadas no Diário Oficial autorizam o repasse de recursos para o pagamento da dívida pública do Estado

Por João Boueri

Cláudio Castro
Divulgação

Deputados estaduais apresentaram projetos de decreto legislativo para suspender os efeitos de duas determinações do governador Cláudio Castro. As medidas foram publicadas no Diário Oficial e autorizam o repasse dos recursos disponíveis de royalties de petróleo para o pagamento da dívida pública do Estado com a União.

Anteriormente, os recursos de royalties iam para o Tesouro Estadual e eram transferidos automaticamente para o Fundo Único de Previdência Social do Estado. (RioPrevidência). 

Com os dois decretos publicados pelo governador, agora os valores podem ser utilizados para outros fins, como o pagamento da dívida pública até o final do ano com limite máximo de R$ 4,9 bilhões, que é o valor da dívida do Estado com a União. 

Para os três parlamentares que apresentam os projetos, a mudança pode comprometer o equilíbrio financeiro e econômico do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) e coloca em risco a sustentabilidade das aposentadorias e pensões.

Na opinião do deputado estadual Luiz Paulo, que classificou a medida como "manobra contábil", a mudança visa a aprovação das contas do governo até o final do ano, uma vez que parte da dívida de 2024 já foi paga. 

Sem dúvida nenhuma, porque ele precisa de mais recursos do Tesouro e não tem. Então ele está tirando o recurso que ele já gastou do royalties de Participação Especial. Ele pega esses R$ 4,9 milhões do Rioprevidência, diz que utilizou para pagar o empréstimo e bota na conta de Tesouro. Uma manobra contábil visando a aprovação das contas

Segundo a Secretaria de Estado de Fazenda, até junho o RioPrevidência recebeu mais de R$ 10 bilhões de receitas de royalties. A previsão da receita do Tesouro Estadual com os royalties até o final do ano é de quase R$ 27 bilhões, com boa parte destinado ao RioPrevidência.

Uma estimativa da própria pasta para os próximos cinco anos é de um incremento de R$ 60 bilhões no déficit do Fundo Único de Previdência Social e alcance um montante de R$ 190 bilhões de prejuízo, sendo zerado somente em 2098. 

A deputada Martha Rocha classificou como "ilegal" a medida do estado do Rio. 

Uma ilegalidade sem precedentes, uma violência contra aposentados e pensionistas. As medidas do governador podem comprometer seriamente a aposentadoria de milhares de servidores e pensionistas a curto prazo

O deputado estadual Flavio Serafini protocolou, na Justiça do Rio, uma ação para suspender os atos do governador, e acionou o Tribunal de Contas do Estado e o Ministério Público do Rio para análise do caso. 

Os decretos de Cláudio Castro preveem que, havendo a possibilidade de "insuficiência financeira para execução das obrigações do RioPrevidência, fica o Tesouro Estadual obrigado a transferir recursos." No entanto, os deputados apontam que isso pode comprometer a capacidade de gestão financeira do fundo previdenciário a longo prazo. 

Em nota, a Secretaria de Estado de Fazenda disse que os decretos são complementares e têm o objetivo de aumentar a transparência e a segurança jurídica na gestão dos recursos de Royalties e Participação Especial do petróleo, dando maior segurança financeira ao RioPrevidência.

A pasta acrescenta que, com as publicações, não há possibilidade de impacto no pagamento dos benefícios de aposentados e pensionistas, ao indicar a obrigação do Tesouro Estadual de suprir qualquer deficiência financeira no caixa do RioPrevidência. 

A secretária afirma também que o decreto prevê a possibilidade, já garantida por lei federal, de uso dos recursos para o pagamento da dívida com a União.

Procurados, o Tribunal de Contas do Estado e o Ministério Público ainda não se posicionaram. 

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