Criminosos envolvidos com PVI sabiam das investigações da Polícia e do Ministério Público

A Polícia Civil investiga o suposto vazamento da operação

Por João Boueri

Facção conhecida como "povo de Israel" pode ter ultrapassado poder do Comando Vermelho no RJ
Reprodução/Brasil Urgente

Os criminosos envolvidos com a organização "Povo de Israel" sabiam das investigações da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio. A informação foi confirmada pela Justiça, que disse que advogados procuram o órgão dias antes da "Operação 13 Aldeias", realizada na terça-feira (22), para serem habilitados no processo criminal do caso. 

A Polícia Civil investiga o suposto vazamento da operação. No entanto, o resultado obtido na primeira fase da operação demonstrou aos investigadores que não houve prejuízo às ações realizadas na terça-feira (22).

Dezenas de aparelhos celulares e cartões bancários foram apreendidos. O material passa por análise. Os investigadores acreditam que as apreensões vão ajudar a identificar os vínculos criminosos.

As investigações da Polícia Civil indicaram uma relação do chefe da organização criminosa, Avelino Gonçalves Lima, com o Primeiro Comando da Capital (PCC). O investigado estabeleceu vínculos com a facção nascida em São Paulo, enquanto ele esteve na Cadeia Pública de Resende. 

Avelino teria autorizado o "batismo" de presos no PCC em presídios com influência do "Povo de Israel".

Um relatório da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária cita a entrada da maconha sintética (K4) dentro do sistema prisional do Rio de Janeiro supostamente pelo grupo criminoso Povo de Israel. A SEAP cita pelo menos três apreensões feitas em presídios dominados pelo grupo em 2020.

A investigação cita que a droga teria sido levada para presídios em São Paulo no ano anterior pela facção Primeiro Comando da Capital (PCC). No entanto, a organização chegou a se mostrar contrária à comercialização da maconha sintética entre membros pelo efeito negativo causado aos usuários. 

A rede formada pelos criminosos dentro de 13 unidades do sistema penitenciário do Estado do Rio de Janeiro pode ter ultrapassado o porcentual de presos ligados ao Comando Vermelho. A facção conta com cerca de 18 mil integrantes custodiados, o que representa 42% do sistema penitenciário. Os criminosos autodenominaram os grupos dentro dos presídios como "as 13 aldeias".

O grupo tem estatuto próprio, uma engenharia de divisão de tarefas e funções, repartição de lucros, captação de novos presos e pagamentos de propinas a servidores públicos.

Entre janeiro de 2022 e maio de 2024, os criminosos movimentaram mais de R$ 67 milhões em operações financeiras, segundo investigações. Ao todo, foram 1.663 pessoas físicas e 201 pessoas jurídicas envolvidas. Entre elas, policiais penais, esposas e até mães de detentos.

Para o antropólogo e capitão veterano do Bope, Paulo Storani, outros grupos criminosos também surgiram de dentro dos presídios e depois expandiram a atuação para fora dos muros do sistema penitenciário. 

As facções criminosas, elas têm origem nos presídios brasileiros. Nós estamos falando do final da década de 1970 e consolida-se no início da década de 1980, principalmente no Rio de Janeiro, mas aquela forma de se organizar, inspirada no modelo dos presos baseado na lei de segurança nacional, fez com que eles montassem uma estrutura para dar suporte aos encarcerados

Durante a operação realizada na terça-feira (22), cinco policiais penais foram alvos de mandados de busca e apreensão. Eles foram afastados das funções pela Justiça. Um policial já estava preso por tráfico de drogas. O grupo aparece como beneficiário de transações bancárias feitas por laranjas da organização criminosa em valor que chega a R$ 430 mil. Ao todo, foram 44 mandados cumpridos.

As investigações apontam o crescimento financeiro do grupo a partir de 2022. As recentes apreensões demonstram que o chefe da facção estava se dedicando ao tráfico de drogas intramuros para distribuir e vender entorpecentes dentro do sistema prisional.

Vinte quilos de drogas entre maconha e cocaína foram encontrados em quentinhas que estavam dentro de um caminhão, que iria entregar as refeições no Presídio Nelson Hungria, onde fica a base central do grupo dentro do Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio. No veículo, os policiais penais ainda apreenderam 71 celulares. A carga era avaliada em R$ 1,5 milhão.

Em entrevista coletiva realizada, a Secretaria de Administração Penitenciária admitiu que os bloqueadores de sinais estão defasados e há dez anos a tecnologia é obsoleta. Uma licitação deve ser aberta em até 15 dias para a aquisição de um novo sistema, que atualmente conta com a tecnologia 3G, que não consegue impedir o acesso irregular dos presos.

Para a Polícia, os bandidos se especializaram nos últimos anos em crimes de disque-extorsão ou falso-sequestro, e golpes praticados no interior das unidades. 

O "Povo de Israel" surgiu de um efetivo de presos sem facção que procuravam um presídio restrito só para eles, assim como era oferecido para organizações criminosas. 

O estatuto do grupo tem 19 mandamentos. Dentro do grupo, não é permitido utilizar a palavra "estuprador". Além disso, agressões não são permitidas. A organização criminosa não aceita "X9".

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