Especialistas alertam para o risco de desabastecimento e aumento da discrepância dos preços da Petrobras em relação ao mercado internacional após Moscou decidir cortar temporariamente as exportações de diesel.
Em meio às ofensivas ao ocidente, para além da lógica de mercado, o país pode ter suspendido a produção para adequar-se a um inverno rigoroso, mas os impactos podem vir para os importadores brasileiros.
No cenário atual, o diesel russo tornou-se um dos principais produtos que compõem a cesta de combustíveis importados no Brasil, já que o país não é autossuficiente nessa produção. No acumulado de janeiro a julho ele representou 41% do volume total.
A pressão sobre os preços pode se dar com o aumento esperado da defasagem entre os preços da Petrobras e do mercado internacional.
Atualmente, o valor do diesel vendido pela petroleira está defasado em aproximadamente 15% em relação ao preço de paridade de importação (PPI), de acordo com a Leggio Consultoria, especializada em petróleo, gás e energia renovável.
Na avaliação de Marcus D'Delia, sócio-diretor da Leggio, a discrepância pode atenuar-se com a busca por novos compradores, acarretando risco de desabastecimento.
"O diesel russo chegava ao Brasil a um preço menor que o dos EUA, esta diferença é de cerca de 18% na origem do produto, o que amenizava a defasagem de preços do produto importado se comparado ao preço Petrobras", diz.
"Se o diesel russo for substituído por importações dos Estados Unidos ou Golfo Pérsico, esta margem se reduz significativamente. Margens menores desestimulam a importação, principalmente para venda a distribuidoras regionais, aumentando o risco de suprimento para o diesel", completa.
Os efeitos da restrição a importação do diesel russo podem pressionar ainda mais a Petrobras a um reajuste.
A avaliação da Leggio é de que haja aumento do preço do produto importado que chega ao Brasil limitando o volume importado e forçando a substituição nas próximas quatro semanas da origem do diesel importado.
Adhemar Mineiro, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, acredita em uma margem de duas a quatro semanas para que a petroleira não tensione a defasagem com os preços internacionais.
"Possivelmente, com a saída do diesel russo, o mercado internacional vai aumentar os preços."
"As pessoas que são abastecidas com diesel russo vão correr para procurar outras fontes de compradores."
Na segunda-feira (25), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma reunião com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prattes, em um cenário de ascensão do barril de referência e da pressão com os cortes.
Procurada pela BandNews FM, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) não comentou as pautas discutidas do encontro.
Na avaliação de Marcos D'Elia, a solução efetiva para contornar o risco de suprimento está em planejamento para o médio e longo prazo, além do foco em questões logísticas.
"O que se pode observar é o constante acúmulo de fatores de risco na operação de suprimento de diesel no país, apostando-se na agilidade dos traders, disponibilidade internacional do produto, e na capacidade dos estoques nacionais de suportar as falhas logísticas", explica D'Elia.
Dentre as soluções elencadas pela Leggio ao Ministério de Minas e Energia estão o monitoramento de serviços nos pontos de venda, diagnóstico de eventuais rupturas logísticas, soluções para o suprimento e aumento da resiliência das cadeias.
Nesta quarta-feira (27) o petróleo do tipo Brent, referência mundial, era vendido na abertura do pregão da Bolsa de Londres por US$ 96,21.
Em nota, Agência Nacional do Petróleo Gás e Biocombustíveis (ANP) negou os riscos de desabastecimento.